Não, não acredito absolutamente que o culpado pela queda de rendimento do Furacão seja o Antônio Lopes. De maneira nenhuma.
Nem que seja esse ou aquele jogador, que se mostrou abaixo da crítica, ou aquela contratação cuja expectativa positiva nem chegou a nascer, quanto mais pensar em se destacar.
Não creio que toda a culpa deva ser creditada àqueles que contrataram pencas de jogadores de qualidade duvidosa, ou com prazo de validade futebolística vencido. Em que pese a relação de amor-ódio que temos pelo nosso comandante-em-chefe, não creio poder fazer parte dos que clamam pela sua saída. Mas também não entro naquele outro grupo, dos que o vêem como um guru, profeta do porvir atleticano; aqueles que o defendem por ter ele feito maravilhas e pelos milagres que ainda fará. Vejo-o como um empresário, um administrador bem sucedido, só que creio haver diferença entre ser empresário e ser presidente de um clube de futebol. Na minha modesta e curta visão, o empresário deve ser pragmático, buscar resultados objetivos em termos administrativos: se for viável economicamente, ótimo, façamos; se não, esqueça. Numa empresa, até pode funcionar assim, mas num clube de futebol, será que é o caminho? O Bahia e o Vitória transformaram-se em S. A. e o resultado está aí: terceira divisão. Já o presidente de clube de futebol deve levar em conta outros aspectos, inadmissíveis na administração por resultados financeiros, tais como a paixão, emoções e deve ter muita, mas muita intuição, pois muitas vezes o que aponta como uma péssima contratação acaba por ter o resultado positivo, e vice-versa. Aí muitos podem dizer mas e o exemplo do Washington, não foi pura intuição?… Concordo, mas mesmo constrangido, posso dizer que foi exceção, pois o Atlético tinha muito pouco a perder, já que não pagou pelo passe do jogador.
Mas, deixando de lado essa questão, bem como o Antônio Lopes e o plantel mais inchado que um pescoço com bócio, imagino que o culpado pelo engasopamento do motor do time do Atlético seja o próprio futebol brasileiro e sua avidez pelo lucro, bem como sua mania de desculpar-se por ser obrigado a vender seus jovens valores para os times estrangeiros.
Ora, o Atlético está tendo que montar dois times nesse ano de 2006: um no começo da temporada, após o desmantelamento do time vice-campeão brasileiro de 2004; outro no segundo semestre, após o desmantelamento (aqui tanto por saídas como por contusões) do time vice-campeão da Libertadores de 2005. Se montar um plantel decente com 22 jogadores já é milagre, quem dirá dois num mesmo ano. E por isso, dá-lhe contratações no atacado, quase sempre de jogadores que defendiam times da segunda divisão brasileira e, mesmo assim, não dos principais times, mas dos que estavam resfolegando para não despencar no abismo da terceira divisão. E por que? Custos e salários, que não devem ultrapassar certo patamar (que, em virtude da qualidade duvidosa da maioria dos contratados, deve ser muito baixo) estabelecido pela política de investimento, custo e retorno financeiro.
Nem vou entrar na discussão devíamos ter segurado o Washington, o Jádson e o Fernandinho porque esse assunto já esgotou, mas eu posso perguntar uma coisa? Se todos os dirigentes de clubes brasileiros reclamam do assédio dos times ingleses, espanhóis, portugueses, italianos, alemães, franceses, indianos, chineses, israelitas, árabes, russos, ucranianos, nepaleses, japoneses, cambojanos, coreanos, tibetanos e por aí vai, por que NADA é feito para alterar esse fato? Muito simples, porque o lucro sempre será alto nesse tipo de transação e é esse o objetivo primário do futebol brasileiro atualmente.
O modelo brasileiro obriga clubes como o Atlético a negociar seus craques imediatamente após sua revelação, para poder fazer frente aos sempre beneficiados mas nem sempre merecedores paulistas e cariocas que, em nome de um ranking esdrúxulo ou por possuir a maior torcida nos estados do nordeste, são sempre recebedores da maior parte do dinheiro envolvido no campeonato brasileiro. Isso beneficia times como o Flamengo, cujo rombo financeiro – medido em metros cúbicos – é maior que o pão de açúcar. Assim, tanto o governo quanto a rede Bobo e a CeBeéFe enterram dinheiro na tal da Gávea, em nome do que o Flamengo já foi. Isso é exemplo de administração por resultados? Agora eles estão louquinhos pela Timemania, mais uma fonte de dinheiro para os clubinhos paulistas e cariocas. Enquanto isso, o Atlético tem que privar-nos de nossos jovens destaques para poder fazer um mínimo de frente ao eixo, para continuar a existir. E temos que contratar quatro pelo preço de um na xepa da segunda divisão. Onde mais?
Nesse modelo, o Atlético será prejudicado porque, por melhor administrado que seja, por melhores que sejam suas contas e seu balanço financeiro, times como o Flamengo et caterva sempre receberão ajuda quando a coisa ficar preta, por isso sempre irão contratar jogadores cujo salário possa ser um peso insustentável para um time como o Atlético; sempre arriscarão mais.
O Atlético vai dançando conforme a música, mas, infelizmente, parece não desgostar de todo isso.
A situação pode mudar? Desculpem-me os otimistas, mas não vejo como, pelo menos nos próximos 100 anos. O brasileiro adora manter certos benefícios, regalias conquistadas, seja em casa, no trabalho, enfim, em todas as situações. Se o próprio governo não dá exemplo, por que o futebol seria diferente e haveria de dar?
Quanto a nós, você e eu, caro rubro-negro, revivamos as alegrias do passado, por que o futuro pertence aos clubes europeus.
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