Amigos, tão logo soube da saída do Lopes fiquei indignado. Não por reconhecer nele qualquer virtude extraordinária, mas por lamentar uma saída que se dá em situação tão delicada, pois estamos a poucos passos da perigosa zona de rebaixamento.
Fiquei muito brabo com o Lopes, rabisquei na tela do computador incontáveis insultos, mas foi na obra do meu genial amigo Rui Barbosa que encontrei as palavras certas para dizer poucas e boas ao Delegado que nos deixou na mão quando dele mais precisávamos.
Assim, transcrevo a redação portentosa do Rui que bem conceituou a figura do traidor. Hoje, a descrição que lhes apresento cabe muito bem ao Lopes como se fosse uma imensa carapuça (aliás, com uma cabeçorra daquele tamanho, a carapuça tinha mesmo de ser enorme). Sobre o traidor, asseverou o admirável Jurista brasileiro:
“Não preciso descrever o traidor. Quem é que o não conhece? A natureza o fez esguio como a cegonha, para as migrações. Fê-lo escorregadio como a enguia, para as fugidas. Fê-lo, como o camaleão, cambiante e multicor, para as adaptações mais variadas. Fê-lo, com as duas disposições do morcego, para a dentada e o assopro, o afago e a sangria. Fê-lo rasteiro e virulento como a víbora, para as covardias e crimes. Dotou-lhe o olhar do rato, as lágrimas do crocodilo, o riso da hiena, a gravidade do mocho, a imoralidade do bugio, a pele da anta, o bucho da ema. Reunindo nele todas essas qualidades ou partes animais, direis que o gênio da criação caprichou em zombar do monstro de Horácio, mostrando-lhe quão abaixo está o engenho humano dos portentos da realidade. Mas das entranhas das criaturas animadas só lhe aquinhoou as vísceras inferiores. Estreitando-lhe o peito, não lhe deixou lugar para o coração. Pátria não se sabe se lhe deu. Deve-lhe ter dado sexo. Mas castrou-o n’alma. Da inteligência reduziu-o a certos instintos desenvolvidos, às faculdades subalternas: as da astúcia, as da simulação, as da malignidade”.
Feita a minha malcriação, passo a tratar dos assuntos mais relevantes da vida do nosso querido Atlético.
O que está havendo com o nosso time? Por que nos apequenamos tanto quando deveríamos impor a todos nossa condição de segundo melhor time das Américas?
É possível aceitarmos uma absurda posição entre os lanternas depois de termos conquistado o Brasil em 2001 e quase reconquistado em 2004?
Essas perguntas estão me tirando o sono e parece que alguns dormem tranqüilamente como se fosse normal perder para o Figueirense, como se fosse normal lutar para não ser rebaixado, como se fosse normal um clube do tamanho do Atlético ser trocado por outro dentro da mesma competição.
É preciso mão de ferro de nossos dirigentes, enquanto há tempo. É preciso entrega total e irrestrita de nossos atletas, enquanto há luta. É preciso união indissolúvel de todos, enquanto houver esperança.
E deixo aqui meu conselho: efetivem o Borba como treinador, pois ele teve a coragem de assumir o Atlético na mais aguda crise de 2005. Foi ele quem arrumou nosso Furacão na Libertadores. Foi ele quem aparou as arestas para o Lopes. Foi ele quem assistiu ao Lopes durante todo esse tempo. Ele sabe das coisas e cada cabelo branco do Borba guarda um minuto de bola rolando.
Efetivem o homem, já que o camaleão – cambiante e multicor – resolveu vestir-se de preto e branco em troca de um bom punhado de moedas. Efetivem o homem e não se deixem levar por ilusões (nessa altura do campeonato ninguém de fora conhecerá nosso elenco, mas o experiente Borba Filho conhece muito bem nossos atletas e terá capacidade de nos tirar dessa fria).
E no mais, um último pedido: Lopes, não volte mais, mesmo no caso de precisar, mesmo no caso de o Timão não passar de ilusão, mesmo no caso de não ter onde trabalhar, mesmo em caso de arrependimento. Fique longe do Atlético, pois ingratidão é coisa que não se tolera.
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