Quando anunciaram a medida paliativa que impedia que a Torcida Atleticana e a coritibana estivessem em um mesmo estádio, lamentei. Mas, raciocinando um pouco, concluí que, infelizmente, a medida não era por acaso. Algo levou a isso. Passado o jogo, com seu fracasso de público e para nós, de placar, senti a necessidade de falar um pouco mais no assunto.
Pessoas disseram que a medida era para promover o clássico, vender pay-per-view e outras idiotices. Atletiba é Atletiba, não precisa de promoção barata. A imprensa verde sempre inventa alguma coisa, como a esdrúxula notícia de Adriano nos jogando nos troxas, inclusive com montagens ridículas dele com aquele pano de chão, mas não são essas coisas que levam o público ao estádio. São apenas duas: motivação real e segurança.
Um Atletiba já na quarta rodada de uma primeira fase com oito times onde classificam seis é ridículo. Resulta em 11.000 e poucas pessoas no estádio. Acho que deveria se valorizar um pouco mais o espetáculo e motivar a torcida naturalmente. E existe ainda o ponto crucial: a segurança. Só sendo cego para não ver que é isso que coloca a freqüência de público na decrescente.
Teremos, mais à frente, um Atletiba na Arena e não deixo de ficar preocupado. Vieram à minha mente as imagens bizarras do último confronto na Arena entre nós e eles, aquele do baile, da bicicleta, do show de Dagoberto. Lembro daqueles porcos-do-mato enraivecidos arrancando os apoios, atirando louças do banheiro, arrancando placas, catracas, caindo no fosso e a imagem que não deixo de lembrar com um pouco de satisfação: a dos PMs descendo o sarrafo naqueles vermes. Por isso tudo, não pude deixar de concordar com o colega colunista Juarez Vilela Filho, que na ocasião disse que, como tentativa de coibir a selvageria, a atitude era válida.
Quando mandamos o jogo, temos sempre algo a lamentar. Não pelos resultados, mas pelo saldo de destruição. Temos uma beleza de estádio e ele não pode ficar sujeito a vândalos. É triste vê-lo detruído após o jogo. Quem tem guardadas as pedrinhas da Velha Baixada, acompanhou a contrução da Arena tomando caldo-de-cana na Kombi que ficava na entrada do mirante e se emocionou na inauguração, sabe o conteúdo afetivo daquele lugar mágico. Eu não quero que defequem no chão da minha casa.
Quando somos visitantes, somos maltratados, colocados em um espaço ínfimo. Não temos banheiros, sentamos em pedra brita, comemos e bebemos mal e ainda pagamos caro para isso. E, nunca se sabe, corremos o risco de pegar doenças como a leptospirose e tétano. E depois, na saída, temos que ir para casa como fugitivos. No Trimilicão, nem há o que quebrar. Me lembro que alguns atleticanos mais afoitos, para extravasar alguma raiva, davam tapas naquelas portas verdes de metal da saída. Era o máximo que esses atleticanos conseguiam fazer. Mas na Baixada, há muito o que ser danificado. Temos que preservar nosso templo.
A poeira baixou, mas esse assunto não pode morrer. A sociedade não merece conviver com tanta violência e brigas. E não são briguinhas tolas. São brigas com morte. E além disso, não acho justo a PM colocar um enorme contingente para separar torcedor nervosinho. Os policiais têm que cumprir a sua missão, que é prender bandido pela cidade. Outra coisa: a fracassada medida “torcida única”, veio antes de outra já cogitada e que é mais ácida e dolorosa: a que acabaria com as torcidas organizadas. Seria o fim das cantorias e dos batuques que tanto animam os estádios. Quem já assistiu jogo em São Paulo, sabe como é triste: não há faixas, pouco se canta, não há percussão e cerveja é só sem álcool. Ver jogo em São Paulo é muito estranho. Temo que isso aconteça por aqui. Alguém consegue imaginar o CAP sem a Fanáticos? Não. Mas eu consigo imaginar a Arena sem aqueles trapos verdes nas arquibancadas. Para mim seria até um prazer.
Discordo de quaisquer medidas que amputem nossos direitos. Mas para que elas não aconteçam, a mentalidade de muita gente deve evoluir, não ficar na era de neanderthal. Quando lançaram a impopular medida, a opinião pública e os jornalistas se manifestaram ferinamente a respeito. Mas ninguém, nem um jornalista, falou que a selvageria está matando, a pauladas, o Atletiba. Ninguém faz nada efetivo. Nem a polícia, nem os dirigentes. Onde estão as câmeras de monitoramento? Onde estão os detectores de metais? Onde está o banimento dos estádios dos torcedores baderneiros? Tudo isso tem urgência. Aquele porco fotografado no fosso da Arena, deve freqüentar os estádios naturalmente. As pessoas de bem, não.
Salvem a Arena da mão dos vândalos. Salvem o Atletiba. Peço, humildemente, menos conversa, menos demagogia e mais ação.
Juliano Ribas
Colunista da Furacao.com
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