Quando eu morrer, algum doutor
Em Medicina muito fraco
Creditará o óbito apenas ao tabaco¹
Sem levar em consideração
Que tudo nessa vida mata a gente:
A saudade, a rotina e a solidão.
Por cima do meu cadáver atestando
Morte por doença cardiovascular
O doutor talvez não esteja a errar
Todavia certo ele não estará
Pois tudo nessa vida mata a gente:
A Edith², a Fernanda e a que virá!
Capela 2, Parque Iguaçu, no meu velório
Ato contínuo e via de consequência
Os amigos elogiarão minha aparência
Enquanto os inimigos se rirão por dentro
Porque tudo nessa vida mata a gente:
A esquerda, a direita e o centro!
Apertadas enfim as tarraxas
Pijama de madeira bem lacrado
Plantarão quem vos escreve no gramado
Pra não facilitar, com muita terra por cima
Eis que tudo nessa vida mata a gente:
A raiva, o remorso e a rima!
E terminado o derradeiro ato
Irão-se os camaradas lado a lado
Lamentando o fato de eu ter fumado
Irascíveis em discurso apoplético
Esquecidos que tudo mata a gente:
O cigarro, sim; e sobretudo o Atlético!
Pois é rematada ingenuidade
Achar que só morremos de sorver fumaça
Se a gente torce é pro Time da Raça
A quem a gripe de 33 não pôs um fim
Que tudo nessa vida mata a gente:
Curitiba, São Caetano e Erechim!
Quando eu partir, algum doutor
Achando que só de fumar falecemos:
‘De tabagismo, morreu Rafael Lemos!’
Concluirá em laudo que já não convence
Pois a gente morre mesmo nesta vida
É de amor pelo Atlético Paranaense!
P.S.:
¹Rafael Lemos adverte: fumar é uma merda e vai te levar pra cova mais cedo. Saia dessa vida, caboco!
²Ah, elas também matam muito a gente!
22 de setembro de 1996: na velha Baixada, o Atlético batia os ervilhas com um gol de Oséas, aos 47 minutos da etapa final, e arrancava de vez no Brasileirão daquele ano.
22 de setembro de 2012: no superlotado Janguitão, o Ceará vai pagar pelo que fez e pelo que não fez. E o Clube Atlético Paranaense vai arrancar de volta à Série A, lugar de onde jamais poderia ter saído…