15 abr 2020 - 10h35

Em campo no Atletiba da Páscoa, Leomar relembra dificuldades: “Não era daquele jogo apenas”

Ele é um personagem que viveu todas as fases do Athletico em 1995. Do “fundo do poço” no famoso Atletiba da Páscoa, com a goleada por 5 a 1 para o Coritiba em abril, à euforia oito meses depois, com a conquista do título da Série B do Brasileiro, no velho Joaquim Américo.

Prata da casa, o ex-volante Leomar confessa que o resultado do clássico no Couto Pereira, há 25 anos, era quase uma tragédia anunciada, devido ao momento delicado que o clube vivia já há alguns anos, com um cenário de várias trocas de treinadores, a rotina de montagem e desmanche do elenco e a ausência de um padrão de jogo. Tanto, que ainda no vestiário do Alto da Glória, no intervalo do jogo – quando o placar já apontava 3 a 0 para os alviverdes – o sentimento era um só:

“A gente sabia que isso não era daquele jogo apenas, já vinha refletindo de outras partidas e outros anos, então não seria fácil”, contou Leomar em entrevista à Furacao.com.

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Dando sequência à série de reportagens especiais dos 25 anos do Atletiba da Páscoa, hoje vamos mostrar o relato de quem estava dentro de campo e, principalmente, viu de perto toda a transformação do Athletico em 1995. Nessa entrevista, Leomar conta um pouco dos preparativos do time para o fatídico jogo, o clima no vestiário, os dias seguintes e toda remontagem do clube que, em dezembro, levantou a taça de Campeão da Série B, confira:

Para a história do Athletico, aquele 16 de abril de 1995 foi marcante. Como é para você relembrar aquele jogo?

Foi marcante nos dois sentidos, porque teve o Atletiba que perdemos por 5 a 1 e, claro, foi uma tristeza, uma derrota marcante e que a gente não esperava, mas que infelizmente aconteceu. E, por outro lado, depois dessa derrota, teve toda a sequência com a entrada do presidente Petraglia e, desde ali, a mudança no Athletico para melhor. Me recordo bem, o Petraglia e o Ademir Adur que assumiram, junto com outros componentes da diretoria, e praticaram uma revolução dentro do clube. A partir dali, o Athletico conseguiu toda a mudança de patamar, passou a ganhar títulos e crescer cada dia mais, chegando hoje a ser um clube conhecido mundialmente.

Como era o clima entre os jogadores para a partida, os dias que antecederam e a preparação… era um ambiente pesado?

Não era dos melhores [o clima no clube] porque a equipe do Athletico, de 1992 até 1995, foi muito instável, com várias mudanças de treinadores e jogadores durante o ano, não tínhamos uma base formada, uma equipe pronta. Comparando na época com o Paraná, que era a referência porque ganhou vários títulos em sequência no Estadual, eles vinham com uma equipe formada há anos, com um padrão de jogo, o próprio Coritiba também tinha isso. E essa era a nossa dificuldade, aliada a uma pressão que sempre foi grande, pois mesmo estando abaixo dos outros [adversários locais], o Athletico sempre precisou entrar em campo e fazer o seu papel.

Como ficou o clima no vestiário, pois no intervalo já estava 3 a 0… O que vocês falavam e qual a mensagem que o Sérgio Cosme tentava passar?

Não recordo muita coisa, mas sempre tem aquela tensão de perder por 3 a 0 no primeiro tempo, por isso no vestiário o assunto era tentar acertar para o segundo tempo. O Sérgio [Cosme, treinador] tentou passar calma para tentarmos uma reação. Mas a gente sabia que isso não era daquele jogo apenas, já vinha refletindo de outras partidas e outros anos, então não seria fácil.

Qual a avaliação de quem estava dentro de campo, o jogo foi tudo aquilo mesmo para terminar 5 a 1?

Na verdade acho que não, teve um momento que a equipe ficou desolada e aí você tenta fazer as coisas e não dá certo. Conseguimos fazer um gol no segundo tempo [com o zagueiro Pádua], mas daí veio a expulsão do Mastrillo, que jogava ao meu lado no meio-campo, e dificultou ainda mais. Acredito que o Coritiba fez por merecer a vitória.

A postura da torcida atleticana, mesmo com a goleada sendo escrita, foi uma marca daquele jogo. Ainda no intervalo, com 3 a 0, faziam uma festa inesquecível nas arquibancadas. Isso sensibilizou os jogadores na época?

A torcida do Athletico sempre esteve de parabéns e naquele jogo não foi diferente, tentou ajudar, cantava a todo momento, incentivava os jogadores. Ela sempre nos apoiou em qualquer circunstância da partida, sempre esteve junto.

Como foram “os dias seguintes” da derrota? Politicamente o clube se estruturava para uma nova gestão, que ocorreu cerca de um mês depois. E no campo, como foram esses dias pós-goleada?

Foi um tempo para esfriar a cabeça e pensar no que vinha pela frente, principalmente o Campeonato Brasileiro, que foi muito bom para nós. Fora de campo, a diretoria se estruturando, dando as condições para oferecer o melhor para nós, porque eram tempos de dificuldades dentro e fora de campo, com salários atrasados.

Até porque nos bastidores, essa era a visão que se tinha do Atlético, que não pagava salários em dia e vivia uma situação bem precária naquela época…

Eu tentava não me preocupar com o extracampo e focava mais em treinar e jogar, dar o meu melhor. Penso que quem está trabalhando é profissional e tem que levar a sério, com dificuldade ou não, o trabalho tem que ser o mesmo e a dedicação também.

E como foi o momento em que o Petraglia assumiu? Era um discurso que, logo de cara, já ganhou os torcedores, com a postura forte e a promessa de “novos tempos” para o clube. Entre os jogadores, também houve esse apoio no discurso? Vocês acreditavam no que estava sendo proposto?

Realmente foi falado isso pelo Petraglia, que o clube viveria outros momentos, muito melhores, de conquistas. A gente estava ciente disso e quem ficou, porque muitos jogadores não permaneceram, assimilou bem a situação e trabalhamos forte. Para o Brasileiro, vieram outros jogadores e conseguimos essa virada. Quando fechou o grupo para o Campeonato Brasileiro, todo mundo teve o mesmo pensamento de conseguir o acesso. O elenco ficou mais forte, todo mundo com o mesmo pensamento de subir e ser campeão. Tivemos dificuldades, mas lá no final acabou dando tudo certo.

[foto: arquivo]
Time Campeão da Série B em dezembro de 1995 [foto: arquivo]
Você foi um dos poucos que continuou no clube logo depois e participou da campanha do título da Série B. O que mudou de abril até dezembro, que traçou essa nova trajetória?

O time se fortaleceu, acredito que nesse período todo mundo se uniu fora e dentro de campo com um objetivo só. Tivemos nessa trajetória muita conversa, ajustamos muitos pontos, jogo a jogo. Tivemos dificuldades, mas quando você traça um objetivo, não tem muito como fugir…

Se você fosse resumir em uma frase esse 16 de abril de 1995, como faria?

Não foi a partida e nem o resultado que a gente queria, mas para o futuro do clube, foi muito bom.



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