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18 mar 2004 - 10h05

Como eu vou viver agora?

Entre os meus amigos, eu sempre fui conhecido por fugir um pouco dos padrões. Quando todos apoiavam o Cocito, eu sempre achei que ele era um jogador medíocre, que teve seis meses heróicos na campanha do título brasileiro, quando jogou o que não sabia. Quando todos metiam o pau no Petraglia por uma série de coisas, eu defendia. Quando todo mundo falava ‘Kléber, vai pro inferno”, eu achava que o cara era o craque do time, capaz de fazer jogadas inacreditáveis. Quando todo mundo achou que o Caldeirão virou geladeira por causa de elitização, eu sempre defendi que a torcida ficou mais fria por causa do título em 2001, que fez a galera ficar mais exigente, e não por causa dos preços dos ingressos, que sempre foram quinze reais na Arena e o Caldeirão fervia sempre. Quando todo mundo reclama que a torcida vaia o time, eu acho que isso é opinião de quem nem fez 20 anos ainda, por que é exatamente o que eu pensava quando tinha essa idade.

Meus amigos, eu tenho 27 anos e vou a 99% dos jogos desde os 10. Pra não ir, só se não der mesmo. Eu saí com um amigo as 02:00 horas, com meu carro, pra ir pra São Caetano, ver o Furacão ser campeão brasileiro. Eu vivi toda a era do Atlético nos tempos pré e pós Farinhaqui e do Hussein Zraik com os times medíocres que o Atlético montava. Eu conheço aquela porcaria do Pinheirão melhor que ninguém ( antes da reforma). Eu sempre estive com o Atlético, ainda que fosse pra apoiar o João Carlos Cavalo. Eu assistia a todos os jogos nos Fanáticos, quando muitos de vocês nem frequentavam o estádio. E hoje assisto a todos os jogos na reta. E não sou mais ou menos atleticano que nenhum de vocês. Sou doente pelo Atlético como todos.

Eu já perdi uma namorada porque em vez de ir ao Shopping fui ver Atlético x América-SP pela segunda divisão na Baixada velha. Quase perdi outras, que queriam se comparar ao incomparável. E quase perdi minha futura mulher porque adiei minhas férias pra ver o Furacão ser campeão brasileiro.

Hoje eu tive a maior decepção da minha vida. Fiz as contas na ponta do lápis e constatei que não posso mais ver o meu Furacão jogar. O meu, o seu, o nosso time. Nós, que somos tão atleticanos quanto o Petraglia e sua turma, mas que não somos empresários bem sucedidos. Os mesmos caras que realizaram o nosso sonho, conseguiram destruí-lo. Mal tenho palavras pra dizer que eu não vou poder comprar o pacote do Brasileiro.

E isso porque me considero em uma situação financeira privilegiada. Comprei todos os pacotes do Atlético em todos esses anos. Agora, não posso. Fico me perguntando o seguinte: Se eu não posso, quantos vão poder? Se eu tivesse um filho, para ir em um único jogo, não ia poder levá-lo pra mostrar como é lindo torcer pelo Furacão, pois ia ter que gastar mais de R$ 50,00, o que todos que trabalham como eu sabem como é difícil ganhar.

Faço aqui um último apelo. Não destruam o que é tão importante pra nós. Não acabem com o Atlético. O Atlético, sem a sua torcida, não é nada. O que foi construído em todos esses anos não pode ser destruído por uma vaidade, a de mostrar que o Atlético pode ser tão bom como os europeus. Nosso país não é bom como a Europa, portanto nenhum time do país será enquanto o Brasil não der o “salto” que esperamos a quinhentos anos.

Alguma coisa a torcida tem que fazer. Boicote, pressão, o que for, mas isso não pode ficar assim.

Não nos tirem o Atlético, porque estarão tirando uma grande parte da nossa alegria de viver.



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