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18 mar 2004 - 10h14

Me dê motivo

Ainda não me refiz do impacto que o aumento dos preços do ingresso para o brasileiro causou em mim. Confesso que, após enviar um email para o Furacao.com ontem à tarde, mostrando parte da minha indignação, acabei por entrar num mutismo característico dos que nos acontecem quando recebemos uma notícia desagradável. E, como sempre acontece comigo nessas horas, passei a procurar no passado alguma justificativa plausível para o acontecimento que gerou a tristeza que me acompanha desde então.

Fiquei horas pensando e lembrando e, por mais que tentei, somente me lembrei de momentos portentosos, onde nós, os torcedores, tivemos imenso destaque e, num arroubo da mais pura paixão, por que não dizer, parte da responsabilidade por momentos mágicos.

Alguém duvida que nós, torcedores, tivemos papel importantíssimo na conquista de 2001? É possível qualquer torcedor esquecer o que era ouvir a Arena toda gritando “Uh, Caldeirão…”. Não era de arrepiar?

Porém dois fatos se destacam nas minhas lembranças.

Impossível não lembrar da semi-final do brasileiro de 1983 contra o todo-poderoso Flamengo. O chiqueirão nunca viu e nem nunca verá tamanha demonstração de amor. Quem viu, aposto que, como eu, nunca esquecerá a maravilha que foi ver a torcida do Atlético naquele jogo. Recorde de público, ficará para sempre na história. O fato de não termos nos classificado para a final (por muito pouco) acabou por ficar em segundo plano. O que tem maior impacto para mim é lembrar do estádio cheíssimo, da festa que fizemos e do silêncio da torcida do Flamengo após o segundo gol do Furacão. Lembram do que o jornalista Márcio Guedes, na época comentarista da Globo, disse, em rede nacional, do Atlético? “Um time medíocre, formado por jogadores medíocres…”. A típica arrogância inerente aos que se julgam fortes e imbatíveis. Como eu desejei que o Atlético eliminasse o Flamengo! Pelo menos o tal Márcio Guedes perdeu o emprego…

O segundo momento foi em 1996. Eu sempre lembro desse caso como exemplo para certas situações da vida. Atlético e Palmeiras. O técnico desse excelente time do Palmeiras era o Wanderlei Luxemburgo. Infelizmente, nesse jogo eu não fui, mas estava escutando pelo rádio e lembro que um repórter, não consigo lembrar quem, perguntou para o Luxemburgo, momentos antes do jogo: “Luxemburgo, o que você acha de jogar num estádio lotado como hoje? Você conhece a fama da Baixada, não?” E a resposta, no mais puro estilo Luxemburgo: “torcida não ganha jogo!”. Isso ele falou torcendo o queixo, num esgar de puro desprezo frente a uma Baixada completamente lotada, o exemplo do mais puro e verdadeiro Caldeirão do Inferno. O resultado todos conhecem: Furacão 2 X 0. Lembro que o mesmo repórter foi perguntar, ao final do jogo, se o Luxemburgo ainda achava que torcida não ganhava jogo. Acho que a resposta não foi pro ar…

Dentro desses dois momentos, pude ver a arrogância como fator marcante e que foi humilhada pela vontade e determinação dos jogadores, além da maior demonstração da importância que a torcida do Atlético tem para o time.

Agora essa mesma arrogância e desprezo mudaram de lado. Os dirigentes do Atlético, ao aumentarem o ingresso em 100%, estão dizendo que torcida não ganha jogo. Estão desprezando o apoio que sempre demos e que foi reconhecido pelo nosso técnico no final do ano passado, pois em nenhum momento abandonamos o time. Agora recebemos, em retorno a tantos momentos de apoio, o recado de que, quem ganha R$ 250,00 talvez não deva mais ir ao estádio, como disse nosso presidente ontem, em matéria publicada no site terra.com.br. Que que é isso?

Na enquete que o Furacao.com realizou em 17/03 fica claro que somente 6% dos que participaram pretender ir ao estádio, independente do preço dos ingressos. A grande maioria (na qual eu me incluo) acha muito caro o preço do ingresso e não pagaria mais de R$ 25,00 para ver os jogos. Mais de 75% dos participantes estão, de alguma maneira, indignados com a atitude unilateral da diretoria.

Por mais que tentasse encontrar um motivo, dessa vez não achei. O caso parece ser de puro desprezo pelo amor que sempre demonstramos pelo Furacão. Só que não posso aceitar isso quieto, não dessa vez. Sugiro que realizemos um boicote aos jogos, por mais que isso me doa, e que fiquemos em frente a Arena, durante os jogos, de forma pacífica, mostrando o nosso repúdio pela forma como fomos tratados. E a vocês, torcedores que pretendem comprar o pacote e que não se preocupam muito com o preço dos ingressos, peço que pensem bem e levem em conta a maioria que será prejudicada e que ficará privada, de uma forma ou de outra, de prestigiar o Furacão.

Sempre nos consideramos uma nação, a Grande Nação Rubro-Negra. Pois acho que está na hora de agirmos como uma verdadeira Nação.



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