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15 maio 2005 - 1h10

Desabafo

Desde 1924 até 1994 havíamos acumulado alguns Campeonatos Paranaenses e a estranhíssima Schützi-Cup, da qual pouco se houve falar. Durante este período temos uma história tímida em títulos, com algumas poucas apresentações de destaque, como o furacão de 49, que se espaçam décadas umas das outras.

De 1995 pra cá o Atlético conseguiu sair desta situação e transformar-se em um time de ponta. Temos hoje infra-estrutura, planejamento e objetivos. Uma administração embasada no plano dos negócios que nos trouxe uma situação financeira favorável. Hoje temos receita e não dívidas. Durante este período acumulamos cinco títulos paranaenses, uma Copa Paraná, Copa Sesquicentenário, Seletiva da Libertadores, Campeonato Brasileiro Série B e o tão sonhado Campeonato Brasileiro Série A. Deixa-se fora dessa conta os vários vice-campeonatos.

O estranho a respeito do Atlético é que ao contrário do que pode parecer, ao invés da nossa torcida ter permanecido calada durante esses longos e monótonos setenta anos para tornar-se enfim uma fanática e empolgante torcida nos últimos dez, é o contrário que acontece. Éramos os mais fanáticos, os mais empolgados, os mais contagiantes, os mais emocionados, os verdadeiros torcedores brasileiros carregados de paixão pelo clube. Hoje somos uma nação de megalomaníacos, que maravilhados pelas próprias conquistas nos damos ao luxo de ficarmos sentados batendo palmas. Tudo em nome do progresso. Somos os novos-ricos do futebol brasileiro. O sucesso recém adquirido nos faz sermos aquilo que considerávamos evoluídos quando éramos pequenos. Nada mais provinciano.

O futebol no Brasil está ligado de uma maneira muito peculiar com a sociedade. Somos um dos únicos paises que dá ao nome dos times um tratamento gramatical semelhante ao aplicado nos nomes de países, estados e cidades. Aqui quem torce pelo Atlético é Atleticano. Na Inglaterra, berço do futebol, quem torce para o Manchester não é um “Manchesterian”, mas sim um “Manchester fan”. Nossa relação com o futebol é mais profunda e emocional do que em outros lugares do mundo. Somos um povo diferente, um país diferente, torcedores diferentes. Querer ver o torcedor brasileiro como um apreciador do futebol é não ver brasileiro nenhum. Nós não somos apreciadores, nós somos o futebol. Mesmo dentre os paises de origem latina, nós somos diferentes. Na Itália a torcida se comporta basicamente como a brasileira. Enche o estádio de bandeiras, fumaças, faixas, bateria e musicas. Demonstram sua paixão, mas somente dentro do estádio, não na vida cotisiana. Chegam perto, mas ainda não são como nós.

É louvável o resultado obtido pela atual gestão atleticana. Seremos eternamente gratos por terem feito por nós o que não conseguimos em setenta anos de história. O Atlético com toda certeza é hoje maior e mais forte do que era. São esses dez anos que enchem nossas bocas quando conversamos sobre futebol, nas conversas do dia-a-dia. Mas são também esses dez anos que nos fizeram esquecer do que somos. Somos torcedores apaixonados, não compradores de uma marca, muito menos vendedores dela.



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