Um homem também chora
“Há dias em que ando na rua de olhos baixos para que ninguém desconfie, ninguém perceba que passei a noite inteira chorando”. (Carlos Drummond de Andrade)
Amigos, perdoem-me o tom confessional desta crônica, perdoem-me a exaltação das minhas palavras, perdoem-me o que puder ser perdoado e perdoem até mesmo o que não tiver perdão, mas hoje eu preciso de todos, pois o sentimento que salta do meu peito é mais do que eu posso suportar e é preciso que eu divida este sentimento com vocês sob pena de ser vitimado por ele. E um coração, às vezes, é pouco para quem é atleticano.
Pois bem, eu confesso: houve dias em que andei na rua de olhos baixos para que ninguém desconfiasse, ninguém percebesse que passara a noite inteira chorando. E muitas lágrimas que verti, estejam certos, foram por causa do Atlético, meu time adorado e uma de minhas primeiras e maiores paixões.
Desde 1982, eu tenho vivido ligado ao Atlético, como se não houvesse outra forma possível de viver. Desde 1982, tenho vivido ligado ao Atlético como se minhas veias começassem no meu coração e percorressem cada centímetro de arquibancada do Joaquim Américo para só então retornarem ao meu corpo trazendo o sangue forte de que nos fala o belo Hino Rubro-Negro.
E nesses vinte e três anos provei com o Atlético as emoções mais diversas e mais intensas e posso lhes garantir: faria tudo o que fiz outra vez e se acaso outras vidas me fossem ofertadas faria nelas todas a mesma coisa, pois se eu pudesse seria atleticano eternamente.
E, na noite passada, quando o Atlético bateu o até então invicto Cerro Porteño do Paraguai pela Copa Libertadores da América, eu lhes confesso: chorei como se ainda fosse aquele menino que numa noite fria de maio de 1982 adentrou a velha Baixada para realizar o sonho de ver seu Atlético de perto e de ver o Casal Vinte desfilando a mágica eterna e indescritível que faz do futebol atleticano algo muito maior que o próprio futebol.
Na noite passada, chorei de raiva, de amor, nem eu mesmo sei explicar, mas chorei, sobretudo, de emoção por ver meu Atlético vivo, lutador e cheio de raça. Chorei porque cada gol atleticano causa em mim, causa em nós, esta coisa inexplicável capaz de unir, num só grito, a voz do pobre oprimido à voz do rico doutor. E nesse momento de alegria, todos se tornam iguais, verdadeiramente iguais, sob o manto Rubro-Negro que se estende na Baixada e que se alonga por toda a cidade até cobrir-nos todos como se fosse um gigantesco abraço.
Na noite passada, chorei de felicidade porque fiquei imaginando a cara empalidecida daqueles que duvidavam do meu Furacão. Mal sabem eles, coitados, que o gramado da Arena guarda consigo a memória e os mistérios de 91 anos de bola. Mal sabem eles, os críticos, que sobre aquele gramado ainda vagam as almas de atletas campeões e de torcedores outrora apaixonados e que tendo cumprido suas missões terrenas ficam agora espreitando, torcendo e influenciando à beira do gramado.
A Baixada, senhores críticos que só enxergam a pequenez da objetividade e que por isso mesmo não sabem nada, é território sagrado, é palco de milagres, é a catedral de uma religião chamada Atlético e é o templo onde até o impossível acontece. Na Baixada, senhores críticos de visão sempre tão distorcida, tudo pode acontecer para aqueles que acreditam firmemente nessa força chamada Atlético Paranaense.
E eu como não perco minhas crenças, apesar de ouvir os vaticínios nefandos que me chegam pelas ondas radiofônicas,obtive na noite passada o meu milagre e agora desfruto a merecida delícia de sentir na boca, outra vez, o sabor dulcíssimo da fruta da vitória (e dentro desta fruta estão as sementes de outros triunfos, estejam certos).
Amigos, na noite passada eu chorei, mas amanhã, contrariando os versos de Drummond, andarei na rua de olhos altos para que todos desconfiem, todos percebam que passei a noite inteira chorando pelo Atlético, que passei a noite inteira chorando pela enorme emoção causada pela vitória, que passei a noite inteira chorando pela alegria de ser atleticano todos os dias e todas as noites da minha humilde existência.