Raio-x
Nas últimas semanas tenho me limitado a ler as várias mensagens dos colegas Atleticanos neste espaço. Tem de tudo. De defesas apoteóticas a Mario Celso, que valem reprodução no site oficial (sinal que eles lêem o que escrevemos) a ataques que beiram a insanidade. De declarações de amor e confiança, à previsões apocalípticas de que estamos no fim. Vamos tentar raciocinar, sem a paixão e o ódio que cegam. Não vivemos o dia a dia nem conhecemos os bastidores do Clube. Só podemos nos basear com as informações de fachada e com os resultados obtidos em campo. E este ano podemos estar a beira do fracasso total. Voltar a segunda divisão, além do enorme prejuízo financeiro pode significar um atraso de vários anos em todos os projetos.
1) A Questão da Administração e da Estrutura
Vivi a época das vacas magras, mas não seria preciso ter conhecido o CAP antes de 95 para entender que sem o aparecimento de Mario Celso, na melhor das hipóteses estaríamos hoje disputando acirradas partidas contra Avaí, Náutico e outros figurantes da segundona na velha Baixada. E quando um jogo atraísse mais público, o gélido Pinheirão. Sem Libertadores, sem CT, sem projeção nacional e internacional. Isto é um fato. Porém o que foi feito está feito, e bem feito, e pertence ao passado. Por mais que alguém tente denegrir a imagem de Petraglia o seu trabalho já faz parte da história do Clube e do futebol brasileiro, numa transformação de um clube jamais vista. Isto não significa que tenhamos que ficar passivos diante de tantos erros cometidos nos últimos meses. È como se o Santos tivesse em seu time, Pelé, Pepe, Edu se arrastando e sendo aplaudidos pelo que fizeram no passado. E aquele paredão do colégio? Ninguém mais toca no assunto?
2) A Questão Científica
Não tenho dados nem acesso ao trabalho do Prof. Antonio Carlos. Também não questiono sua capacidade, que tem reconhecimento internacional. A obrigação de análise e julgamento deve ficar para aqueles que o acompanham no dia a dia do Clube (diretores). Só posso me basear pelos resultados dentro de campo. E os resultados em campo falam por si. Futebol é complicado. A URSS usando método científico se tornou uma potência olímpica. È possível produzir ginastas, corredores, até mesmo um time de basquete ou vôlei pode ser fabricado. Mas alguém se lembra de alguma grande seleção da antiga Rússia brilhando em copa do mundo? Algum grande jogador? Só consigo me lembrar do lendário Lev Iashin (goleiro).
Só sei que o professor estabeleceu que o campeonato paranaense não é importante e deve ser usado como preparação para competições maiores. Idéia esta aceita pela diretoria e até por alguns colunistas deste e outros sites. Como se todo ano o CAP fosse disputar a libertadores e o brasileiro e ganhar. Que absurdo. Tão absurdo que na decisão final a diretoria fugiu de seu comportamento normal adotando represálias ao time visitante, pois se não ganhasse a torcida não iria perdoar. Mesmo que fôssemos nós que tivéssemos mais de trinta títulos, esta atitude não se justificaria pois um Clube existe para ganhar títulos, não importa qual a importância que queira se dar ao campeonato, e com um mínimo de organização podemos ganhá-lo todos os anos. E por sinal, que preparação!
Também na formação de jogadores existe algo de errado. Revelações só através de parcerias. Até aí tudo bem. Mas o CAP não revela um mísero zagueiro de área meia boca próprio. Tem de ir atrás de Danilo, Durval e outros piores. Toda aquela estrutura para ter juniores disputando a Copa Tribuna?
3) A Questão da Imprensa e da Torcida
Nossa medíocre imprensa è digna de merecer tese de doutorado por algum formando em jornalismo. Os jornalistas coxas fazem questão de serem reconhecidos e não escondem sua parcialidade. Os atleticanos se escondem, nunca declaram para quem torcem e se forem taxados de coxa parecem até gostar. Dizem fazer uma análise imparcial. O resultado é que não podem pisar no Pinicão, e são odiados pelos rubro negros. Costumam dizer que nós somos fanáticos irracionais. Até mesmo o Mafuz confessou neste site que no seu início de carreira escondia para qual Clube torcia. Neste ponto Petraglia tem absoluta razão. São um bando de covardes. O covarde maior é fã do Evangelino, e a muito tempo não pode pisar naquele estádio, e nunca fez um mísero comentário sobre o assunto. O erro é esperar o reconhecimento desta gente que adora atirar pedras principalmente quando a vidraça é vermelha e preta. Diretores, façam um bom trabalho que nós torcedores reconheceremos. É o que basta.
A torcida: Assunto desgastante que trouxe muitos dissabores. Parte dela cometeu excessos, contra pessoas e contra a própria instituição. Pode gerar até punição pelo STJD. Sem falar de velhas figurinhas carimbadas, passando abaixo- assinados com objetivos escusos. Mas o fato é que o início desta crise, que se arrastou por mais de um ano, teve origem na diretoria. Por falta de tato, diálogo, pela falta de alguém que entenda o mínimo de relacionamento humano. Por pura burrice mesmo. Posições intransigentes, como a questão dos preços dos ingressos. Também não sou favorável a clubes que financiam a torcida. A arrecadação é parcela importante no orçamento. Torna-se necessário no entanto rever conceitos e métodos que não estão funcionando. A própria venda de carnês tem que ser reavaliada, pois é um fracasso.
4) A Questão do Time
De 95 a 2001 o objetivo e a política do Clube eram bem claros. Montar times competitivos a baixo custo. Ao final de uma temporada vender dois ou três destaques, afim de manter as finanças em dia e os projetos em andamento. Manter a base do time e contratar ou lançar jovens valores que estão pedindo passagem, para suprir os que saíram sem perda da qualidade. Após a conquista de 2001 esta projeto foi interrompido. Ninguém foi vendido. Salários foram aumentados, criou-se um furo no caixa. Jogadores que eram a bola da vez para sair estavam insatisfeitos, pois a grana ganha na transação é muito alta. O resultado imediato foi a crise política e a saída de Mario Celso para voltar semanas mais tarde como mandatário absoluto. Na seqüência, fracasso em campo e o desmanche no final do ano. Petraglia pediu paciência ao torcedor pois 2003 seria um ano de renovação. Todos entenderam. O resultado veio de imediato em 2004. Só não foi melhor porque mais uma vez erraram na contratação do técnico e o campeonato paranaense foi jogado fora.
Ao final do ano todos estavam cientes que um ou dois jogadores seriam vendidos. As vezes o próprio jogador embora nos microfones diga que adora o Clube e está satisfeito, força a barra para ser vendido. O caso de Washington é diferente. Não se sabe se a oferta do Japão era impossível de ser coberta, ou se o CAP não fez muita força para segurá-lo. O fato é que novamente veio o desmanche, e desta vez nenhuma explicação foi dada. Afora Jádson, Fernadinho, Washington e Dagoberto os demais jogadores eram apenas razoáveis. No entanto formavam um conjunto que estava pronto e facilitaria o lançamento de jogadores como Ticão e Evandro. O futebol é complicado, mas tem princípios básicos que qualquer dirigente amador conhece. Promoveu-se uma peneirada, não com garotos de treze ou dezesseis anos, mais com profissionais. E o que sobrou na peneira? Jogadores de clube rebaixado ( Cocito, Baloy e uma meia dúzia do Guarani que de repente virou celeiro de craques). Jogadores odiados por onde passaram devido a sua fraqueza técnica ( Jancarlos, Lima, e agora o Adriano). Outros velhos conhecidos que ano passado não serviam, e por não terem mercado são enfiados goela abaixo (Fabrício, Rodriguinho). Jogadores indicados por “grandes olheiros” e “espertos empresários” ( Jorge Henrique, Etto, Marin, Leandro, Maciel). A lista é interminável.
Jogadores medianos e voluntariosos como Marcão e Alan Bahia estão tendo que produzir acima do que podem para contrabalançar tanta mediocridade, e acabam se prejudicando. E o técnico? Desde o jogo contra o Grêmio a diretoria sabia que Levir não continuaria. Assim disse Petráglia em sua coletiva. No entanto esperaram dois meses para trazer um desconhecido, que desconhecia o próprio futebol brasileiro.
5) A Questão do Comando
Mario Celso disse na famosa coletiva que o CAP é comandado por um conselho gestor e não exclusivamente por ele. Já me disseram que escuta a todos, mas a decisão final é sempre sua. Acredito que nos negócios mais estratégicos e que envolvem a estruturação, projetos futuros e valores envolvidos nas transações de jogadores esta deve ser a tônica. Nestes quesitos ele é um fenômeno. No entanto nas questões do dia a dia do futebol e nas contratações é um desastre. Ou como acredito, está na verdade muito mal assessorado e colocando em cargos estratégicos bajuladores e incompetentes.
6) O Momento Atual
Já se passaram cinco meses e só consigo enxergar à minha frente um grande abismo. Poderemos até fazer mais alguma gracinha na Libertadores, afinal é o tipo de competição onde um time tecnicamente fraco, mas voluntarioso e com uma boa dose de sorte pode superar favoritos e até chegar em uma final. O problema agora é se manter na primeira divisão, com um time que parece estar aos frangalhos técnica e emocionalmente.
Dagoberto vai voltar? A situação de Denis Marques vai se resolver? Uma grande contratação para o meio de campo? Lopes está cumprindo um mandato tampão, e Geninho assume em julho? Será que vai dar tempo?
“Não temos pressa”. A frase mais repetida por Fleury nos últimos meses. Será realmente irônico se exatos dez anos após, o Homem que cansou de ver o CAP humilhado nos levar de volta a segundona.
Rezo para engolir tudo que disse, e como todo fanático torcedor torço para uma reviravolta. Será que vai dar tempo?