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20 jul 2005 - 9h34

A inveja mata

Houve uma vez um Atletiba no Couto Pereira, nos tempos em que o nosso rivalzinho era dirigido por um certo Jacob Mehl. Esse presidente do coritibinha (assim mesmo, em minúsculo, pois nunca passou da primeira fase de uma Libertadores e não conhece o gosto de jogar uma final) quis realizar, naquele, digamos, estádio já carcomido pelo peso das décadas, uma distribuição de torcidas tal qual o Atlético faz na Arena. E colocou a galera rubro-negra no anel inferior daquele campo…eh, estádio…digamos assim porque é pecado judiar dos menos assistidos pela sorte. Tudo isso porque o Atlético, na Arena, sempre cede aos seguidores do verdinho aquele espaço atrás do gol dos fundos. Lá tinha de ser igual, para que eles não ficassem doentes.

Ocorre que na Baixada aquele espaço é grande e bem protegido, para que os nossos irmãos menores não saiam de lá com alguma lesão mais grave. É claro que a lesão mais grave é sempre perder na Baixada, mas isso não quebra ossos e nem fere a carne; vai direto ao orgulho, que no caso deles é muito grande e quase sempre sai despedaçado. O que houve durante aquele Atletiba foi um verdadeiro massacre. Os torcedores rubro-negros foram atingidos por uma chuva de pedras e outros objetos. Pilhas de rádio e pedaços de pau voavam de todos os lados. Houve muitos irmãos atleticanos feridos naquele dia. Tudo por causa da maldita inveja.

Tempos depois, já na gestão do sr. Gionédis, tentaram instalar elevadores no Couto Pereira. Na Baixada tem, lá também tem de ter, se não pode haver morte…Morte de inveja! Os tais elevadores, diante do projeto do…estádio…, muito antigo, funcionavam mal e eram muito pequenos. Os canais de TV mal podiam transportar suas câmeras dentro daqueles caixotes. E os elevadores acabaram desativados. Olha a inveja outra vez aí, galera rubro-negra.

Na semana que passou, durante o confronto final entre Atlético e São Paulo, quando nosso time perdeu o título da Libertadores, ouvi muito fogos explodindo pela cidade. Nunca pensei que aqui houvesse tantos torcedores do clube do Morumbi. Não sabia mesmo, pois acompanhei as conquistas do São Paulo durante a década de 90, e não havia tanta euforia em Curitiba. Afinal, o São Paulo não é nenhum Flamengo e nenhum Corinthians, que sem dúvida possuem as maiores torcidas do Brasil. O que será que houve, então? Naquela noite eu desconfiava, mas ainda não tinha certeza. Só fui comprovar o fato na manhã seguinte, quando avistei, na janela de um apartamento, a bandeira do coritibinha ao lado do estandarte do tricolor paulista.

Minha reação não foi de raiva, mas de extrema piedade. Afinal, quem não tem time para torcer, é obrigado a torcer para o time que joga contra o Atlético. E quem nunca vai regressar a uma Libertadores tem mais é de zombar no nosso vice-campeonato. Afinal, amigos, nós não somos nada. Somos apenas a segunda melhor equipe do continente americano! Só isso! Esse, por enquanto, é nosso auge, enquanto que o deles é ter conquistado muitos títulos paranaenses, como se orgulham tantos de seus torcedores. Depois eu também entendi que a cabeça deles ainda doía muito: o time reserva do Atlético os derrotara na Arena poucos dias antes daquela final. Mas o que fazer, minha gente? Afinal, a Arena é a Arena. Botou medo ao São Paulo, Tricampeão Americano. O que se pode então dizer do coritibinha? Lógico que ia amarelar lá dentro. Sem falar no estrago geral que nossos irmãos menores realizaram na Baixada (outra vez, diga-se de passagem, pois lá sempre acontece um quebra-quebra geral quando eles nos visitam).

O clímax desse ambiente de arrebatadora inveja ocorreu ontem, durante a transmissão de Atlético Paranaense e Atlético Mineiro. O coritiba perdia por dois a zero para o Botafogo. A alegria dos torcedores verdes consistia em vibrar…a cada gol do Galo Mineiro. E daí veio o castigo: uma penalidade máxima perdida (falaram tanto do Fabrício, que Deus os perdoe, e Rafinha, esse craque maravilhoso, fez ainda pior, pois estava em uma partida comum, e não em uma final de Libertadores) e mais um gol da equipe da estrela solitária, que derrotou os verdes por três a zero em seu próprio…estádio. Para jogar uma pá de cal em cima disso tudo, o Fabrício acertou uma falta lá do meio da rua e estabeleceu o placar final no Mineirão: Atlético Paranaense três, Galo Mineiro dois.

Amigos, hoje eu não sei como a coisa anda pela cidade. Sei que está muito frio e sei que os cães latem enquanto a caravana passa. Sei, também, que deve haver muita gente doente por aí. E eu sei disso porque a inveja mata…



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