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9 jan 2007 - 20h21

Farinha ruim

Tive a oportunidade, dia desses, de assistir a uma reprise do programa “Bola da Vez”, da ESPN Brasil, no qual o destaque era o jogador Élber. Duas coisas que ele falou me chamaram a atenção: que os jogadores brasileiros estão sendo vistos, na Europa, como mercenários e a forma com que os europeus encaram a relação atleta – clube de futebol, a qual é baseada em compromisso de longo prazo e em identificação com torcida e clube.

Poder econômico à parte, um caso como o de Henry, jogador do Arsenal e da seleção francesa, vice-campeão do mundo, parece estória da carochinha, quando comparado com a situação vigente aqui no Bananal. Ele foi cobiçado pelo Barcelona no início da temporada atual, mas preferiu continuar no Arsenal pela identificação com o clube e com a torcida. Se foi verdadeiro o motivo da escolha de Henry não temos como saber. Mas Vieira, ex-Arsenal e companheiro de Henry na seleção francesa, também já afirmou que gostaria de encerrar a carreira no Arsenal, tal a sua identificação com o ex-clube.

E o caso de Ryan Giggs, jogador do Manchester United há 16 anos, tendo jogado em torno de 500 partidas. Ídolo absoluto dos torcedores do time inglês e nem é um dos craques do time.

Já por aqui o que se vê é o oposto. Os jogadores não estão nem aí em relação à identificação com clube e com torcedores, a não ser o marketing básico, basicão mesmo. A identificação por aqui é com o dinheiro. Basta ver o caso do jogador Luizão: no ano passado, quantos escudos de clube ele beijou, jurando amor eterno? Parece que finalmente os atletas perceberam que estavam sendo explorados (aquela velha história de política pecuarista, tão nossa conhecida) e se rebelaram. Virou moda atitudes como a de Dagoberto, Nilmar e cia. Agora temos outra situação envolvendo Marcos Aurélio, que nem craque é, mas, diante da política atual, usou o Atlético como trampolim para alçar maiores vôos, como sempre com a conivência de clubes paulistas, aqueles que ignoram a ética (se é que um dia já a possuíram) e, fazendo-se de desentendidos, dizendo que nada tem a ver com a história, roubam os atletas de outros clubes, na maior cara de pau. E os atletas se vendem com ainda maior cara de pau.

Mas quem pode criticar esse tipo de atitude? Nós? Mas se fomos nós mesmos que permitimos a instituição da famosa lei de Gérson em nosso país? Ou por aqui não é um tal de cuidar do meu lado; levar vantagem por cima dos outros. Afinal, o exemplo sempre veio de cima. E um mercado que gera tanto dinheiro quanto o futebol não ficaria de fora dessa situação, dando maus exemplos e, pior, com nossa conivência, pois rimos da cara de um torcedor de outro clube quando esse é logrado, enganado, engambelado por algum jogador de futebol. Então temos o que merecemos.

O Atlético, que sempre procurou “revelar” jogadores, agora encontra dificuldade nessa relação promíscua atleta-clube-agente, não consegue mais atrair atletas nem com a velha desculpa de salário pago em dia e de excelente estrutura, pois os “garotos” querem GRANA. Essa relação de interesses viciados ainda ignora por completo o pobre do torcedor, o elo mais fraco nessa história toda, aquele que mais sofre vendo seu clube de coração seguir um caminho estranho, confuso, no qual títulos de campeonatos não são importantes.

Certo e justo que o trabalhador receba um bom salário pelo fruto de seu trabalho, mas deixar de lado a dignidade profissional e, pior, achar que está fazendo o certo, parece que está virando atitude típica de brasileiros. Imagino o que mais iremos ver ainda nesse ano. Recursos à justiça serão comuns, na busca da defesa de direitos, o que nem sempre trará bons reflexos nos resultados em campo.

É claro que suborno e corrupção não são atitudes típicas somente do futebol brasileiro: na Itália, Alemanha e Inglaterra já vimos o mesmo filme. Só que a diferença está na impunidade – regra no Brasil – e na aceitação e na passividade do torcedor brasileiro.

No fundo, jogadores, agentes, cartolas e tantos outros péssimos exemplos são todos farinha podre de um mesmo saco.



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