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20 maio 2008 - 11h15

Estou bebendo mais que a Kombi do Julião!

Em minhas aulas, muito modestas por sinal, costumo tratar do problema social que representa o etnocentrismo. Os gregos e romanos estigmatizavam seus vizinhos como “bárbaros”. Quando os portugueses chegaram ao Brasil e contactaram com os ameríndios, acreditavam ser muito mais superiores e melhores que estes. Na colonização da África, no século XIX, são inúmeros os exemplos no sentido de qualificar as sociedades africanas como inferiores.

Ora, os gregos e romanos tiveram muito que aprender com os árabes, pois não conheciam o número zero, o que impedia que seus cálculos fossem exatos. Caro leitor, tente multiplicar XVIII por X. Difícil, né? Agora 18 por 10 fica bem mais fácil, certo? Pois é, estes números arábicos foram criados por “bárbaros”! Ainda no século XVI os portugueses perceberam que os índios tomavam banho todos os dias, que costume mais “bárbaro”! Alguns desavisados esquecem que a grande civilização egípcia é africana antes de qualquer coisa. Então aquelas grandes pirâmides e todo o processo de conhecimento do corpo humano que levou estes antigos a embalsamarem com perfeição seus mortos também foi obra de “bárbaros”!

Por estes e tantos outros motivos é que grandes antropólogos como Darcy Ribeiro, por exemplo, nos deixaram o ensinamento de que não existe uma civilização maior ou menor, melhor ou pior, existem apenas civilizações diferentes. Contudo, o que denominamos de etnocentrismo, é a idéia de que tudo deve girar em torno de nossos valores, todo o resto é “bárbaro”, inferior.

Temos um CT muito maior e melhor que a grande maioria dos outros times do Brasil. Mas fomos eliminados por um clube de “bárbaros” chamado genericamente de Corinthians Alagoano. Temos um estádio do qual muito nos orgulhamos, dentro do qual perdemos o título para um adversário que manda seus jogos em um campo que leva a alcunha de “Pinga Mijo”. Nossa diretoria enche o peito quando fala da competência administrativa, mas nos últimos anos perdemos, em sequência, Aloísio, Dagoberto, Marco Aurélio e Jean Carlo. Saíram enquanto toda a diretoria estava vendo a banda do Chico passar. Será que o datilógrafo responsável pelo contrato destes jogadores provém de alguma nação bárbara? Ou talvez esta administração atleticana seja ainda descendente de uma antiga e pré-histórica tradição oral? Agora, recentemente, num passado bem próximo, não conseguimos bater a escrete bambi de juniores. A culpa, é evidente, não recai sobre a nobre e civilizada diretoria, mas sobre o “bárbaro” mineiro Ney Franco.

Caros atleticanos, acredito, dentro da minha humilde opinião, que é hora de deixarmos o ego etnocêntrico de lado e percebermos que estamos num nível muito baixo de desenvolvimento futebolístico. Nosso selecionado tem como craque do time, Netinho. Apesar de todo o esforço do rapaz em jogar futebol tão bem quanto faz as suas sobrancelhas, não é nenhum craque. Nossa dupla de ataque é Marcelo Ramos e Pedro Oldoni, eles me lembram da velha dupla contratada por Farinhaque, Pateta e Pirata. O primeiro, desengonçado, o segundo enxergava com um olho só. Nossa lateral esquerda há muito tempo lembra o meu fusquinha, na descida chacoalha, na subida é sofrível e na reta ele pifa. Ainda bem que a cerveja está liberada, porque este time eu só consigo ver enchendo a cara. Estou bebendo mais que a Kombi do Julião!



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