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4 set 2008 - 13h25

Aquele que foi sem nunca ter sido

Aqueles torcedores que como eu sempre souberam qual é a real posição do Clube Atlético Paranaense no cenário nacional irão entender o que escreverei a seguir.

Para aqueles que, de certo modo, vivem uma ilusão, tentarei explicar.

O Clube Atlético Paranaense sempre foi, é, e sempre será um time de segundo escalão do futebol nacional.

E não sou eu quem diz. É a nossa história.

Temos 84 anos de vida. Nesses anos todos conquistamos o quê? Originalmente somos um clube de futebol. Não temos parte social, não possuímos piscinas recreativas nem salões de festas. Nosso negócio sempre foi o futebol. Para isso nasceu o CAP.

E desde o seu nascimento vivemos regionalmente à sombra de nosso rival Coritiba, que, possui quase o dobro de títulos estaduais. A nível nacional, desde que foi instaurado o Campeonato Brasileiro somos apenas participantes. Jamais fizemos uma campanha digna de time elite. Sempre mais estivemos participando da 2ª Divisão do que da 1ª.

O que aconteceu desde 1995 foi uma espécie de cegueira que perdurou 13 anos. Talvez por isso esteja sendo mais difícil voltar a realidade.

Mas antes de comentar esses últimos 13 anos, quero me reportar ao passado e tentar explicar um pouco do que estou escrevendo.

Os mais velhos e os mais saudosistas lembrarão de times e jogadores que ficaram marcados na história do CAP. Mas nunca de títulos expressivos que foram conquistados pois estes nunca existiram. Poderemos lembrar da campanha de 1983. Talvez nossa maior façanha até então. Mas que nos custou o quê? Um 3º lugar no Campeonato Brasileiro? A simples menção a essa campanha nos mostra nossa pequenez.

Muito antes de existir o chamado futebol empresa existia o futebol arte. Onde o que prevalecia era o amor do jogador pelo time, pela camisa que ele vestia. Vivemos muitos anos como esse. E em todos esses anos o CAP nunca se aproveitou. Contrário a isso foram os verdadeiros times grandes, como Santos, Flamengo, São Paulo, Grêmio que conquistavam títulos e quando não o faziam sempre estavam a disputá-los acirradamente.

Muito antes da tão execrada Lei Pelé, do aparecimento de empresários gananciosos vivemos um futebol onde prevalecia a técnica e o amor. E nesses anos nasceram os times grandes. Todos tiveram essa oportunidade, mas somente os competentes se sobressaíram.

Muito antes do surgimento desses sanguessugas do futebol existirem equipes como o Santos já eram Bi Campeã Mundial, Palmeiras, Bi Campeã Brasileiro, Flamengo, entre outros.

Nós não. Estivemos sempre kilometros atrás dessas equipes e vivíamos da rivalidade com o Coritiba.

Veio então a cegueira. 1995. Claro que essa cegueira não foi de toda ruim. Tivemos progressos patrimoniais importantes, algumas campanhas bonitas e o título brasileiro de 2001.

Mas até mesmo durante essa cegueira de 13 anos tivemos mais sustos que alegrias. Muito mais beiramos o rebaixamento e apenas participamos dos Campeonatos Brasileiros do que efetivamente os disputamos. Mais uma prova da nossa pequenez.

Tivemos sim alguns rompantes de time grande. Quiseram acirrar uma rivalidade com equipes como Grêmio, São Paulo, Santos. Equipes estas verdadeiramente grandes e de tradição futebolística. Ledo engano.

Ao longo desses últimos 13 anos nos tornamos arrogantes e prepotentes. Sempre batemos no peito dizendo sermos torcedores do Clube mais bem estruturado do país. Sempre nos vangloriamos do nosso patrimônio esquecendo do primordial, da essência de um clube de futebol: os títulos.

Tudo ficou em um segundo plano pois o que se mostrava era o patrimônio. Era o CT, o estádio, o marqueting, as transações com o exterior, as parcerias.

Um clube verdadeiramente grande não se julga revelador de talentos. Os compra quando estes já são uma realidade. Um clube que se diz grande não aposta às cegas. Mira no alvo e contrata na certeza. Um clube grande não desperdiça dinheiro em idéias e fantasias mirabolantes. Em época onde o que prevalece é o dinheiro, este o faz de maneira coerente e certa minimizando o máximo possível o erro.

Quando na história do CAP isso aconteceu? Até mesmo quando conquistamos o Campeonato Brasileiro de 2001 quem diria que, no começo, seríamos campeões com aqueles jogadores?

Nenhum especialista, comentarista de futebol ou cronista esportivo apontou naquele ano o CAP como campeão. Foi sim mais obra de fatalidade do que de competência. Posso citar como exemplo o Palmeiras de 1993 e 1994 que era sim apontado antes dos campeonatos começarem como favorito e nunca decepcionava. Isso não era fatalidade e sim projeto, competência administrativa. Coisas que nunca tivemos por aqui.

O que fatalmente acontecerá ao final desse ano é somente uma ordem natural das coisas. Tudo voltará ao ‘status quo’.

Voltaremos para onde pertencemos. Pois nossa história nos mostrou ao longo de todos esses anos que nunca fomos time de 1ª Divisão. Estivemos time de 1ª Divisão.

E isso não é demérito nenhum! Não é somente o CAP. Existem muito mais times ‘ficantes’ na 1º Divisão do que times ‘pertencentes’ a 1ª Divisão. Casos de Coritiba, Paraná, Sport, Ipatinga, Portuguesa….e tantos outros. Times que nasceram para serem de 2º escalão. Como nós.

Eventualmente até voltaremos a participar duma 1ª Divisão novamente. Talvez isso ocorra. Mas mesmo assim, nunca seremos vistos como ‘elite’. Nunca seremos vistos como ‘clube tradicional’ ou ‘clube grande’. Talvez um dia voltaremos a 1ª Divisão, mas mais para ficarmos torcendo contra um novo rebaixamento do que por um título.

Não se pode virar as costas para uma paixão que nos foi passada por gerações. Continuarei sendo torcedor do CAP. Meus filho, que nasceram esse ano, serão torcedores do CAP assim como os filhos dos filhos deles serão. Uma paixão como essa não acaba simplesmente. Ela perdura por mais difícil que seja a realidade.

Agora, a realidade torna-se mais fácil de ser assimilada se ela for melhor compreendida. Por mais doída que seja.



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