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6 set 2008 - 0h05

Carrocinha.

Mundo. Mundo cão. Cão que ladra, rosna e depois morde. Afasta-se. De longe vê o sangue vermelho, um pequeno riacho no chão, então esbranquecido. Falta de uma cor. Resignado, volta para lamber a ferida. Outra ferida aberta na América Latina. Tarde? Eu não sei.

Hostil, o cão outrora dominava. Ora lançava medo nas cercanias, ora exigia o respeito pela sua guarda. Placa de proteção: cuidado, ele é feroz.

Imponente, rejeitava todos que na rua passassem. Numa época fez o mesmo com os próprios vizinhos: não deu certo, casa vazia, visitas zero.

Teve o seu valor. Valor que lhe atribuíram, não aquele valor que ele sente por si mesmo, pois assim é comigo, com você e com todo mundo. Somos uma coisa para nós mesmos, não necessariamente o mesmo que parecemos ser para os outros.

A vida foi passando. As flores morrendo no canteiro do jardim na frente da casa. Ali, onde o cão deixava seu rastro, demarcado sine die seu território. Vivia a ilusão de sua transcendentalidade, usurpando do poder absolutista, em nome do melhor para a ‘proteção’. Coitado, não passava de um cão. Mas não sabia disso.

Totalmente passível de zoonoses como raiva, parvovirose, cinomose, etc. Mas não, ele achava-se imune. Conflitava-se interiormente quanto à sua real natureza: Deus, semi-Deus ou mortal? Não havia espelho no jardim: caso contrário, poderia ver seus pêlos. No Olimpo não havia peludos.

Até que um dia começou a morder o próprio rabo, de brincadeira. Abriu um pequeno corte. As fezes no gramado já não eram mais limpadas. Chegaram as varejeiras. Que se procriaram naquele corte, então aumentado. Larvas brotavam feito larvas. Aos pares, às dezenas, quase cem. Urina fétida, mau cheiro geral. O cão adoeceu.

Vizinhos alertaram mas ninguém respondia. Portas fechadas, há tempos. Todos perguntavam como aquilo poderia ter acontecido. Tão bela, a casa desfigurou-se no cenário urbano: queda à vista.

Mas a vida haveria de continuar: a ignorância chega ao seu cúmulo e antes que faleça, a criatura bate apelantemente na porta da humildade, seu último suspiro no leito de morte, rogando à sobrevida, para aquela desconhecida que recusava cumprimentar.

Enfim, a sociedade protetora foi chamada, pouco antes do quase incêndio pela autocombustão do cão. Entrou na casa para limpá-la. Ainda há muita sujeira. O animal, medicado, foi colocado nos fundos, onde é o seu verdadeiro lugar. Resta espantar os morcegos, que lá habitam sem nada ofertar.

A lição estava fora do entendimento do pequeno ser. Na realidade, ele não pertencia à casa: vivia do lado de fora, e não permitia aproximação. Por isto a bela casa foi largada. A casa nunca foi dele. E por quê?

Porque a casa não era uma casa. Não tinha teto, não tinha nada. Foi criada no sentido figurado, para representar uma nação. Nação formada por cada coração vermelho, de raiz preta. Que cada vez mais é agregada, portanto nunca abandonada.

Por milhares de pessoas que a concebem como virtude. Aquilo que se leva para todo lugar. Aquilo que se sente bater no peito, tal qual cada coração daquele. Aquilo que leva à alegria, às lágrimas, ao regozijo, por vezes ao infortúnio, quando animalesco.

Algo que se é mais do que tudo, antes do que qualquer coisa, onde quer que seja. Aquilo que nos identifica, nos une, nos fortalece e principalmente nos distingüe.

Aquilo que me move. Que me faz escrever, falar, pensar e discutir. Que me transborda os olhos quando o time entra em campo. Que me faz parar o coração quando faz gol. Que me induz à criminalidade quando se vê morcegos comportando-se covardemente nos jogos. Que me faz perder o nexo ao ver cachorros loucos na porta de casa.

O plano geométrico do tempo já não mais importa. Relevar unicamente que, agora é a vez do plano do espaço. O espaço de cada coração daqueles onde sempre esteve presente um sujeito que conosco se identifica, à mesma maneira: Eugênio Machado Souto. Seu coração é igual ao nosso.

O mais difícil era sua vinda: ele veio. A segunda coisa mais difícil era colocarem o pet em seu devido lugar: ele foi. Para completar a trilogia da salvação do Atlético, falta tirar os morcegos de lá, o que é imcomparavelmente mais fácil. Caso contrário, tudo em vão.

Que todas os seres elementais ou não do Universo nos iluminem para que esta trilogia se complete, mandando os chirópteros Danilo, Alan Bahia, Oldoni e Aquino embora. Já sofremos muito pela permanência de seres de outra espécie em nosso meio (Alessandro Lopes, Igor, Willian, Fabrício, Irênio, Marcelo Ramos, ainda Vadão, Givanildo e Bob).

É hora de preparar a casa para o resto do ano. Depois será a hora da reforma, para o resto de nossas vidas. Sem quaisquer cães de guarda que façam de suas ilusões obstáculos para a fruição dos nossos sentimentos, para a vazão do que se chama amor, para a vivência daquilo que somente nós que somos sabemos o que significa: SER ATLETICANO.

O Atlético está convosco. O Atlético está no meio de nós. No lado esquerdo do peito, dentro da caixa toráxica, entre os pulmões, iluminado logo acima por uma consciência.

Cuja luz é tão forte, que não serão os poucos mal intencionados capazes de dirimi-la às trevas dos seus obscuros objetos de desejo:

-‘Fora vocês, belzebus personificados. Adentro nós, Verdadeiros Atleticanos!’

‘Arremate’ (tipo colunista): ‘Dias melhores…pra sempre!’ – Jota Quest.

p.s.: parabéns àqueles colunistas que aqui se manifestaram ultimamente, tomando posição e reivindicando providências, principalmente apontando nominalmente os morcegos que pululam o nosso desidério: esta faculdade é na verdade uma função > ‘a coragem traz consigo gênio, poder e magia’ – Goethe.



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