Domingo de futebol?
Quando tinha meus 11 anos já frequentava estádio sozinho. Era o início da década de 1990 e nosso clube perambulava pelas praças desportivas de Curitiba. Mandávamos jogos no Couto Pereira, no Pinheirão, na Vila Capanema e até no Boqueirão. Éramos chamados de ‘sem-terra’ e tínhamos craques do nível de Marcelo Araxá e Gílson, ‘o diabo loiro’. Lembram disso?
Minha maior alegria era ir ao jogo com meu pai. Carioca, torcedor do Flamengo, ele não entendia meu processo de atleticanização. ‘É a torcida, pai… é a torcida’. Mesmo sem entender, de vez em quando ele ia junto comigo.
Era uma rotina interessente no domingo. Acordávamos com a Fórmula 1 ou com o campeonato italiano. Almoçávamos na vó, assistindo o Show do Esporte com Elias Júnior na Bandeirantes. Umas duas da tarde vinha o comando: ‘Vamô pro jogo?’ Pô, era uma delícia. Sorvete, figurinhas do campeonato brasileiro de 93 e todo o clima de jogo.
O tempo passou, meu pai foi morar em Barcelona e eu continuo indo aos jogos. Só não coleciono mais figurinhas. O sorvete, minha namorada, dona Karyme, não me deixa esquecer.
Chegamos ao jogo de ontem. Domingo de Páscoa, céu azul, almoço em família e tudo mais. Dia perfeito para ir a Arena e lotá-la, certo? Errado…
Me desculpem o desabafo, mas colocar 13 mil pessoas, quando se tem 21 mil sócios com cadeiras reservadas, é ridículo. Isso significa que cerca de 50% dos sócios não comparecem aos jogos. E não é de hoje. Só vão nos chamados ‘grandes jogos’.
Pensem: em todos os jogos o setor Getúlio Vargas (inferior e superior) sempre está lotado (além da Fanáticos, é claro). Aqueles torcedores que sempre vão aos jogos, compraram suas cadeiras primeiro, escolheram os melhores lugares e costumam ir a todas as pelejas. Daí veio aquela onda de associações e os torcedores esporádicos, porém com dinheiro, garantiram lugares periféricos. Claro que isso é uma generalização, pois também existem torcedores fiéis em outros setores. O que acontece então? Cerca de 11 mil sócios comparecem, 2 mil ingressos, para quem não é sócio, se esgotam rapidamente e o resto do estádio fica vazio. Uma lástima.
Existe solução para isso. Um grande clube europeu, sinceramente não lembro qual, tem o seguinte esquema: sócios que não irão aos jogos, entram em contato com o clube com antecedência, disponibilizam seu lugar e, se o clube vendê-lo, metade do valor fica para o sócio. Não sei se em desconto na mensalidade, dinheiro vivo ou produtos.
É possível fazer isso? Acredito que sim, basta utilizar os vários meios de comunicação que existem hoje e boa vontade.