Estamos involuindo?
Na segunda metade dos anos 80, o Atlético Paranaense deu início a uma série de iniciativas que transformaram a imagem do time de grande torcida, mas regional e acanhado em um clube modelo de inovação e criatividade. Mesmo que um bom número de propostas não tenham sequer se tranformado em projetos, o Atlético ganhou fama e respeito internacionais por mostrar um novo caminho, uma nova forma de pensar o futebol no Brasil. Nos tornamos o referencial de vanguarda, fomos invejados e seguidos por causa desta postura.
Mas o tempo passou e as soluções revolucionárias foram sendo esquecidas. Quase todas as cabeças criativas foram afastadas dos postos de decisão e os projetos que não representavam o pensamento imediato do poder central eram esquecidos, engavetados, atirados no lixo. E o Atlético foi se tornando mais do mesmo. A voz do comando começou a resmungar o mesmo discurso velho e caquético dos demais dirigentes dos outros clubes, já que o caminho trilhado era o mesmo.
Fico a pensar se não vivemos um processo inverso de evolução… Será mesmo que estamos involuindo? Dói pensar que há três anos – incluindo este – brigamos a maior parte do Brasileiro para não cair…
Para sair um pouco do futebol, permitam-me citar como exemplo uma área que conheço. Atuo há 25 anos com comunicação e passei dois deles trabalhando pelo Atlético. Várias coisas foram feitas, mas a única que é visível é o site do clube, que entrou no ar no final de 2005. Naquela época, o novo site era apenas para colocar o CAP em pé de igualdade com alguns do grandes clubes do país. Não havia nada impressionante ou transformador no projeto executado. Mas a base para isso estava pronta.
Saí do clube logo depois e até o começo de 2008 nada mudou no site oficial. No ano passado, o avanço finalmente veio e de novo nos colocou na ponta. Depois de muitos anos, a TV Furacão se tornou realidade com matérias diárias e a transmissão inclusive de alguns dos nossos jogos pelo Campeonato Paranaense. Também ganhamos a Rádio Furacão, que nos deu transmissões no Campeonato Brasileiro com a cara e a voz da Nação Rubro-Negra.
Mas o mais importante é que um novo projeto para a internet foi desenvolvido. O planejamento prevê um poderoso portal com plataforma de mídia, fóruns, chats, rádio, tv, games para todas as idades, blogs, interatividade com o usuário, museu virtual com exposições e mais uma infinidade de itens.
Notem que usei o verbo no presente: O projeto prevê. Ele está lá no clube, em alguma gaveta, esquecido. Executar um projeto assim dá trabalho, é preciso pensar, criar e principalmente dar duro, muito duro. Mas, como tantos outros, ele não deve sair do papel. Abro o site oficial hoje e tudo o que vejo no noticiário é a mesma sequência de notinhas que já não atendia as necessidades há quase seis anos, quando comecei no Atlético. Até as evoluções do ano passado foram deixadas de lado.
Este é só um exemplo. Até já sei a desculpa: Nossa prioridade é o futebol. E eu pergunto: Se o futebol é a prioridade, por que, com quase dois terços do Brasileirão disputados, ainda temos que nos preocupar em fugir do rebaixamento?