MCP, não queremos mais você!
Eu nasci em 1937, portanto tenho 72 anos. Ainda lembro vagamente, quando garotinho, levado pelas mãos do meu irmão mais velho, ia assistir aos jogos do Atlético no Joaquim Américo, com sua arquibancada de madeira e a cerquinha pintadinha de branco que circundava o campo, separando os jogadores dos torcedores!
Tive o privilégio de assistir jogos do furacão (o verdadeiro, de 1949, formados por grandes jogadores como Jackson, Cireno, Ruy, Vianna, Laio, Nilo e tantos outros). Nos anos 50, Atlético, Coritiba e Ferroviário mais ou menos se igualavam, formando então o famoso trio de ferro. Daí para a frente, o Coritiba foi lentamente se destacando, se distanciando dos demais e chegou a estar muito a frente dos seus ‘co-irmãos’, isso no período em que era comandado pelo Evangelino, Arion Cornelsen, Miguel Ceccia, Munir Caluff e tantos outros coritibanos apaixonados e competentes.
O Coritiba cresceu, ampliou o seu estádio (ficando com a estrutura quase igual a que tem até hoje), e passou a dominar completamente o cenário do futebol paranaense, chegando até a se destacar nacionalmente. O Atlético continuava do mesmo jeito, com seu campinho acanhado, com seus torcedores sentados em fileira de tijolos assentados mutos deles pelo próprio Caju e fazendo xixi atrás dos pinheiros, que ficavam nos fundos do campo.
Tá com fome? Haviaespetinhos sendo assados em braseiros improvisados na entrada do estádio, com carne que ninguém sabia de onde vinha.
Choveu? Era aquela farra! Dezenas de pessoas invadindo a pequena arquibancada de madeira, (única área coberta) na tentativa desesperada de se abrigar.
Tempos românticos que me deixam cheio de nostalgia.
A única coisa desagradavel era ter que aguentar os ‘coxas’, cheios de arrogância, porque estavam muito à frente da gente, ganhavam tudo, tinham um estádio muito melhor, time melhor e, sempre que jogavam contra nós, éramos humilhados.
Fora isso, ia tudo bem… até que um dia chegou um cidadão arrogante, uma pessoa detestável, com ares de mandão, parecendo um feitor de escravos, que abruptamente e sem a nossa permissão, tirou o Atlético da segunda divisão, desmanchou a velha Baixada, construiu este estádio horroroso que nós temos, privando-nos do prazer de fazer xixi nos pinheiros e obrigando-nos a fazê-lo em banheiros limpos e asseados.
Não foi só isso; privou-nos de assistir jogos apanhando chuva e de comer espetinhos no portão de entrada da rua Buenos Aires.
Sujeito detestável… agora somos obrigados a escolher o que comer entre as dezenas de lanchonetes espalhadas dentro do estádio, sentados naquelas cadeirinhas ridículas de plástico vermelho.
E aquele CT então? Coisa mais absurda! Bom era o tempo em que isso não existia e o time treinava no mesmo campo em que jogava no domingo, com o gramado castigado com os treinamentos da semana.
Campeão brasileiro; vice campeão brasileiro; vice da Libertadores? Pra que isso… isso é coisa de magalomaníaco; coisas de pessoa como você, que tem o péssimo hábito de construir as coisas, de fazer estádios modernos, com banheiros, lanchonetes, catracas para o público entrar e principalmente cadeiras para a gente sentar, sem que tenhamos de sair com a bunda listrada com as marcas dos tijolos de antigamente.
Mario Celso, que bom que você foi embora! Do jeito que as coisas estão indo, com o desempenho fantástico dos seus sucessores, brevemente (quem sabe eu ainda esteja vivo para ver) voltaremos ao romantismo de outrora! Segunda divisão, arquibancadinha de tijolos, xixi no muro dos fundos, espetinhos, torcedor apanhando chuva, etc.