Leandro, o solitário
O Atlético atual seria surpreendente se não estivéssemos tão acostumados às travessuras de sua diretoria, que não vêm de agora. Mas a situação do técnico Leandro ultrapassa todos os limites. Fico imaginando as dúvidas que cercam esse homem, um homem sem identidade, sem função, perdido à beira do gramado. Na quinta-feira, Leandro foi demitido antes do jogo. Mesmo assim, honrou o compromisso derradeiro com dignidade e uma sucessão de erros. Logo, porém, foi percebendo que o seu substituto não chegaria a tempo de enfrentar o Internacional, no domingo. Funcionário padrão, burocrata exemplar, viajou a Porto Alegre. Estará lá, no horário estabelecido, para as formalidades de praxe, obediente aos estatutos que disciplinam a sua relação trabalhista com o clube.
A face de Leandro é a de um solitário. Um condenado cuja pena é sucessivamente adiada, numa orquestração angustiante e cruel. O que poderia ele transmitir aos atletas? Qual o projeto que ele representa, afinal? Pois é na face solitária de Leandro que se expõe a contradição do Atlético transformado em patrimônio, em cifras e modernidade. De um lado, a excelência do CT e seus equipamentos incríveis; de outro, o time aborrecido com a vida, incapaz de vencer a depressão que o persegue há pelo menos cinco temporadas.
Na quinta rodada do campeonato, nós, torcedores, seremos brindados com a passividade e a indiferença. Os números não nos favorecem, mas os mandatários do clube não veem inconveniente em colocar seus atletas sob o comando de um técnico que não é técnico, de um auxiliar que não auxilia, de um profissional desfigurado pela indecisão e por um drama existencial gigantesco. Desperdiçaremos mais tempo e mais pontos, provavelmente. Não há como sustentar previsões otimistas quando se constata que a face solitária de Leandro é o que nos representa. Neste momento, a única esperança é contar com a ajuda do sobrenatural.