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4 set 2011 - 20h58

Não existe amor!

Amigos, se há Ciência neste Mundo que eu admiro é a Filosofia. Como é linda (e filosófica, por que não dizer?) a Filosofia! Lendo Sócrates, Camus ou Paulo Coelho eu me emociono da mesma forma, ainda que acabe por não entender muito o que eles dizem. Mas a Filosofia, por si, já é bonita até no nome, diferente da Estatística que, no nome, é horrorosa.

Dada minha admiração pela Filosofia, acabei por me tornar filósofo em tempo integral, uma vez que até quando estou dormindo eu filosofo. Tanta dedicação me fez um cara cheio de teorias, ideias e palpites pra tudo. Quando sobra um tempo, coisa cada vez mais rara na minha vida, escrevo algumas linhas, ora sobre futebol, ora sobre política, às vezes sobre Direito e até acerca de assuntos ainda mais relevantes, tais como: pescaria, culinária e sexo.

Dia desses – e já era de noite – estava eu filosofando sobre o amor. Lá pelas fls. 368 dos autos, concluí, à moda dos Titãs, que não existe amor. E completei, num plágio descarado, ‘há, apenas, provas de amor!’. A menina que estava comigo ensaiou uma careta de reprovação, mas eu me antecipei dizendo: ‘Beibe, não falo só de amor hómi-muié! Eu falo que não ‘exeste’ amor de modo geral, sacou?’.

Ela não sacou, mas – pra não perder a noite – tive de mentir, dizendo: ‘Tô brincando, gata! Aimi jouquim. ouráite?. O amor exeste! Nau quissime, beibe!’. Aí ficou tudo certo, mas o fato é que volto a dizer: não existe amor!

Volto a dizer ‘Não existe amor!’, mas me corrijo a tempo: existe amor, mas é coisa raríssima. O amor é raro como ouro, ou até mais. E feita a assertiva teórica, passo à demonstração prática para validar a minha tese.

Vejamos.

Você, prezado leitor, naturalmente não é nenhum exemplo de probidade, nem de ética e tampouco de procedimento, pois fosse assim estaria agora lendo o Evangelho de São João e não a coluna do Rafael Lemos. Pois bem, é você mesmo que vai entrar aqui no meu (ou no mau) exemplo.

Você tá com uma bela gata. Ela, de calcinha branca fio-dental, deitadinha na sua cama, mimindo de barriga pra baixo, como convém. Aí diante desse belo quadro vem um pensamento à sua cabeça (a de cima, esclareço): ‘Cara, eu amo essa mulher!’.

Não obstante sua assertiva, é preciso que se verifique se realmente é amor de verdade, se é paixão ou se é apenas desejo sexual (o popular tesão, como diria Olavo Bilac). E aí vem o teste:

(A) Se você olha a bela moça e pensa: ‘Eu vou machucar essa safada ‘tudei ou nái longue’, amanhã pedir um café pra nós dois e depois dar linha na pipa… é sinal que é apenas desejo sexual. Claro que vale, mas não é amor. É muito menos!

(B) Se você olha a bela fatia da carne da perdição e pensa: ‘Rapá, isso é que é monumento e não aquela ‘estauta’ do Marechal Floriano ali na Praça Tiradentes! Vou dar uma machucada nela, amanhã pedir o café pra nós dois, depois levar ela na Grand Chaco passar o beiço numa bela picanha, pegar um cineminha e depois levar ela até Colombo, com direito a beijinho encostado no portão’… é sinal que é paixão, mas amor não é! Vai passar, certamente. E, em dado momento, você vai descobrir que Colombo é muito longe e que se você a deixar na Rui Barbosa ela pega um busão e volta por si ao belo Município. Paixão passa; amor, não!

(C)Mas se você olha pra moça – que dorme de barriga pra baixo, de calcinha fio-dental branca – e vai até ela, cobrindo-a (com carinho) com um felpudo cobertor, depois acaricia-lhe os cabelos, dá-lhe um beijo na bochecha e passar a velar o sono dela, sentindo que sem ela você é um pobre diabo, ah, amigo, aí é amor! E quando a moça acordar e te encontrar olhando pra cara dela – igual um babaca! – ah, caboco, pode ligar pros seus amigos e confessar: eu estou amando, ela é o amor da minha vida!

Neste ponto, passo do amor em geral para o amor específico ao Clube Atlético Paranaense. Afirmo: não existe amor pelo Atlético Paranaense. E logo me corrijo: existe amor ao Clube Atlético Paranaense, mas é artigo raro como o ouro na natureza. Isto porque diante do Clube Atlético Paranaense há, notadamente, três tipos de comportamento, sejam eles:

(A)O Atlético Paranaense começa a faturar tudo e todos como em 2001 e 2004. Ah, pra quê??? Todo mundo é Atleticano! Ah que maravilha!!! Arena entupida, cidade inundada de vermelho e preto. As moças se maquiando antes de ir à Arena posar para as lentes! Rostos pintados, unhas pintadas, gritos eufóricos e juras de amor. Daí o time começa a perder e boa parte desses torcedores vai dando linha na pipa, se afastando da Arena, deixando de vestir o vermelho e preto pelas ruas desta linda Curitiba! Esse tipo de torcedor não tinha amor pelo Atlético. Tinha, quando muito, desejo de ser atleticano, mas nunca foi, de fato, atleticano. Foi, quando muito, um atleticano de ocasião. Esteve atleticano, sem ser, de fato, atleticano. Não provou do amor, provou da euforia. Nunca deu amor ao Atlético, apenas gritou alguns gols. Depois foi se divertir com outro barato capaz de lhe dar prazer.

(B) O Atlético Paranaense começa a perder mais do que a ganhar. O caboco para, faz as contas, analisa e percebe que está mais no prejuízo do que no lucro. Aí chega pro Atlético e diz que não dá mais, que era bom – ou melhor – que foi bom enquanto durou, mas que agora a química entre eles tinha ido pro espaço e que a melhor coisa a se fazer era dar um tempo. De repente é chegada a hora de ir assistir à NBA ou ao MMA, tudo menos o CAP. Amigo, você deve ter vivido uma bela paixão com o seu Atlético, mas amor não era.

(C) Você passa uma vida defendendo o Atlético, dando e tomando porrada pelo Atlético. Você chora quando ele perde, e se não chora esmurra as paredes. Você fica doente quando ele perde (tem febre, alergia, amidalite, otite, perde o sono e se deprime). Mas quando ele ganha você perde o sono de tanta euforia, você fala mais do que a boca, você tira sarro de todo mundo e vê, à exaustão, todos os gols do CAP nessas porcarias de programas de televisão. E quando ele é campeão você desfila de vermelho e preto por Curitiba. E quando ele perde você não tira a Camisa (nem tira o escudo da lapela do seu terno, como eu faço!). E quando você vê ele forte, você diz ‘Olhaí o meu Atleticão, porra!’. E quando você vê ele fraco, lamenta ‘Olha só o meu Atlético!’ – e aí bota o Atlético no colo, bem perto do coração, olha com a cara amarrada pra cima de todo mundo e avisa ‘Se tentarem fazer algo contra o meu Atlético, eu encho todo mundo de porrada! É o meu Atlético, porra! É o meu amor!’ – e vai dar o verdadeiro amor ao Atlético Paranaense até que ele volte a ser o Furacão! Aí, amigo, você vai cobrir o seu Atlético com a mesma ternura com que o cara cobre a sua amada, como um pai amoroso vela o sono do seu filho, como uma mãe devotada dá remédio para a sua criança!

O amor, amigo, é provado na alegria e na doença; no dia feliz e na noite cheia de angústias; na taça e na tosse – pela vida inteira!

Não existe amor! – ou por outra: Amor existe, só que é coisa rara como o ouro ou como os diamantes!

É hora, amigo, de darmos amor ao Clube Atlético Paranaense. É hora, pelo menos, de darmos ao Clube Atlético Paranaense provas maiúsculas do nosso amor.

Começa amanhã contra o Grêmio-RS, depois continua aqui na Baixada e segue pela vida inteira…

Fo***-se os coxas! Fo**-se a Série B! O Atlético, ao menos para mim, é Amor! Desses que a gente protege e anda com ele pela Rua XV de mãos dadas, seja no Domingo ou na Segunda. Amor que nos enche de orgulho na saúde ou na doença.

Pra mim, é Amor! Mas pode chamar de Clube Atlético Paranaense!



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