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6 maio 2014 - 10h18

Demasiado cinza

Confesso que o time do professor Portugal me comoveu no sábado. Primeiro, pelo esforço dos jogadores, que fizeram o possível, dentro das suas muitas limitações, para evitar o desastre anunciado. Depois, pela fragilidade coletiva e individual que provocou a expulsão de Dráusio logo na abertura do segundo tempo. Por último, pela escancarada solidão de um grupo oprimido pela tristeza, sem comando e sem objetivo.

Faltam cores ao Clube Atlético Paranaense. O cinza que abraça os espaços da nova Baixada, destituída da tradição do vermelho e do preto, parece ter atingido a alma da gente atleticana. O tempo é de silêncio, de paz de cemitério, de palavra censurada. Vale a voz do dono – e só ela –, vale a estética fria de um realismo sem contraditório, vale o turbilhão de sacrifícios imposto aos que desejam apenas viver um pouco de paixão.

Decretos absolutos dão forma à legislação excepcional do capgigante (outrora caparanaense, ou cap4ever), um código obscurantista que disciplina tudo. Vai do afastamento de uma comissão técnica que surpreendeu com resultados positivos à contratação-demissão de Adriano, imperador macunaímico, passando pela insana desmoralização pública de um atleta formado nas categorias de base. Manoel transformado em inimigo é o retrato da loucura, aquela mesma que se vale do órgão oficial, o Pravda petragliano, para publicar xingamentos aos que ousam discordar da Copa da Fifa – um desequilíbrio, convém notar, contraditoriamente planejado e covarde, protegido pelo semi-anonimato de um portal mais para o laranja do que para o cinza.

Seguimos, como gado. Três anos longe de casa, acrescidos de alguns meses a mais, obra cívica de heróis que se engalfinharam em Joinville, no dezembro de 2013, para exibir a boçalidade que sustenta a sua “ideologia”. São eles, talvez esquecidos das antigas batalhas contra a tirania que ainda os destruirá, a linha de frente do chefe supremo, a consolidação da “nova ordem”, onde somente um pode dizer o que quer, ou se contradizer como quer, ou dizer que não disse.

Assim, com a palavra ferida, nossos dias atleticanos se tornaram cinzas, como as cadeiras da Baixada futurista. Até quando? Não sei, mas não será para sempre. Ditaduras morrem, desaparecem junto com os seus pseudo-líderes. Daí a certeza de que o Clube Atlético Paranaense sobreviverá ao pequeno ciclo autocrático que agride a sua história. E receberá de volta as cores que lhe pertencem.



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