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21 out 2002 - 20h11

Para sempre, Atleticanismo

Experiência zen
Nem Xangô, nem Iemanjá, nem Ogum poderiam interferir a favor do Bahia no cálido dia de quarta-feira de 7 de novembro de 2001. Nem Exu, nem ACM. Naquele dia o Atlético, o Caldeirão e a torcida rubro-negra estavam em um nível espiritual superior à de qualquer entidade respeitada e temida na Bahia. Nestas condições, o Furacão arrasa tudo que esteja em seu caminho.

Devido ao jogo da Seleção Brasileira pelas eliminatórias da Copa que seria realizado a noite, a rodada de quarta-feira do Campeonato Brasileiro foi antecipada para as 6 da tarde. Ao menos para mim não poderia haver horário melhor. De Ponta Grossa poderia me deslocar até Curitiba a tarde e ainda voltar para casa num horário decente. Não hesitei em comprar uma passagem para ver o Atlético jogar.

Chegando assim que se abriram os portões da Arena observei toda a movimentação dos torcedores escolhendo seus lugares. A Fanáticos colocando a bateria na curva de entrada e as faixas verticais cujas cores se alternavam entre o vermelho e o negro. As meninas desfilando com suas roupas leves e convidativas. Repórteres e fotógrafos se preparando para a cobertura esportiva. Foi uma experiência zen.

Lembro-me do espanto do Fanático que comandava a bateria ao ver o relógio: “Já é quase 6 horas, vamos começar a cantar”. Era o início do ritual da vitória. No primeiro tempo o jogo era lá e cá. O Bahia demonstrando que não veio a Curitiba passear. Já no segundo tempo aquela loucura total. Jogo 3 a 3 e de repente o Atlético faz um gol atrás do outro, com direito a um golaço de Kleber, jogador este que sempre tenta o mais difícil e, como se costuma dizer, não tem medo de passar ridículo.

Olho para os lados e vejo que ninguém consegue se conter de tanta alegria. A explosão de delírio é incontrolável. Depois que o jogo acaba espero o estádio se esvaziar um bocado. Questão de justiça poética. Vi o estádio enchendo, queria vê-lo se esvaziando. Uma hora mais tarde, já no ônibus, constato que não sou o único que fez aquela rápida viagem. Dois rapazes com a camisa da Fanáticos estão nos bancos dos fundos. No banco logo a minha frente, um outro rapaz comenta empolgado com a senhora que está ao lado. “O meu Atlético ganhou de 6 a 3”. E a senhora responde com uma certa saudade: “Que bom! Meu marido também era atleticano fanático”.Imediatamente penso no eterno goleiro Caju e na repórter Sônia Regina Nassar, que haviam nos deixado há poucos meses e obviamente estavam interferindo a favor do Atlético junto aos deuses do futebol.

O ônibus se põe em movimento e pelas ruas e bares em que passa é possível ver diversos atleticanos comemorando a vitória e a classificação antecipada à segunda fase. A cidade estava em estado de graça. Pelo walk-man ainda me diverti com a informação que o então técnico do Bahia, Evaristo de Macedo, ficou tão atordoado com a goleada que entrou por engano no vestiário do Atlético, sendo recebido com uma tremenda vaia. Quando desembarco em Ponta Grossa a chuva já está caindo pra valer.Vou curtindo aquele momento como poucas vezes na vida.

Entre tantas lembranças daquele dia só há uma coisa que não me recordo: Quanto foi o jogo do Brasil mesmo?



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