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26 abr 2004 - 16h37

Parafuso metálico

Parafuso. Estamos em. Parafuso. Estamos. Em parafuso. Desolação. Um castelo de cartas parece ruir. Frio numa tarde de outono. Como isso foi acontecer? Frio. Muito frio.

Caldeirão. Cadê o calor? Cadê o fogo? Cadê? E agora João? Não tem fogo no caldeirão. O gás ficou muito mais caro e, sem gás, a chama dificilmente vem. Como chamar a chama? Assim, o que prometia ser um quente e revigorante doce de figos, torna-se uma amarga e fria indigestão e o figo feriu nossas mãos. Dá vontade de vomitar esta falta de ousadia em campo. Dá vontade vomitar esta falta de determinação em campo. Dá vontade de vomitar este trintão. Mas como eu não como trintão, não há como vomitar.

Um caldeirão sem chamas é frio como uma navalha que ficou no cimento durante uma noite de geada. É um recipiente gélido. Um recipiente que nos assusta ao tocar e quase gruda nossas mãos, que já foram feridas. Não há dignidade de estômago vazio, assim como não há futebol sem povo. Na verdade há futebol, mas é uma cópia barata que sai caro, para o bolso de quem vê e para a imagem do clube.

Queremos futebol de verdade. Não queremos um arremedo de time. Não queremos um arremedo de público. Não queremos um arremedo de marketing. O melhor marketing é aquele feito de amigo para amigo do tipo “Vai lá, é muito bom”. Uma marca se constrói com respeito ao público, com bons serviços, qualidade. Como bem disse um torcedor num programa esportivo, “aqui não é a Europa, aqui é o Brasil”, e sendo assim, queremos preços de Brasil para a Arena.

Duas mil pessoas a 30 reais deu 19 mil reais de prejuízo. Umas oito mil pessoas a 20 reais poderia dar lucro, quem sabe. De um momento para o outro, nossa carruagem virou abóbora e nossos cocheiros, outrora garbosos, viraram ratos que se escondem atrás de desculpas esfarrapadas. Acorda Atlético! Sai desta fantasia lisérgica de que é o Barcelona das Araucárias e seja você mesmo, Clube Atlético dos Paranaenses. Volte para o povo que te ergueu e fez de ti o que é hoje. Curitiba não é Bruxelas, nem Amsterdan, nem Londres. A Arena não é o Nou Camp, apesar de não ser menos bela. A Arena é a Arena e o Brasil é o Brasil. O carnaval passou e a época das máscaras também.

Espero que tenhamos chegado ao fundo do poço, para que possamos subir e interromper este parafuso. Que a diretoria e o elenco ouçam o despertador e que o gás fique mais barato para aquecermos o Caldeirão novamente.



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