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27 abr 2004 - 14h38

Tornado de Abril

O que está acontecendo com o furacão? Depois de um campeonato paranaense primoroso, onde quase atinge 100% dos pontos disputados na primeira fase, chegando invicto a decisão, o time de Mário Sérgio perdeu o rumo neste mês de abril. Para quem assiste ao desastre a uma distancia de mais de 3 mil Km, podem aparecer dezenas de explicações. Desde a mais simplória (de que o time eh jovem e sentiu o peso da decisão) ate a mais complexa (como a de que o esquema tático utilizado com a saída de Jadson teria provocado uma queda de rendimento no time e permitido a reação dos coxas, quando o placar era favorável ao time rubro-negro, que ate aquele momento estava com a mão na taça). Mas nao se pode descartar algumas explicações kafkanianas, com metamorfoses e transformações nas propriedades do furacao, que teria se transformado em um tornado.

“O tornado é o mais destruidor dos fenômenos atmosféricos – nenhum deles libera tanta energia e é capaz de causar tanto medo nas pessoas. Assim como o furacão, o tornado é resultado do encontro de massas de ar frio e quente. Mas guarda muitas particularidades: ele se forma em terra, tem dimensões mais reduzidas do que um furacão e costuma durar menos tempo – de alguns segundos a 20 minutos. O que mais impressiona, no entanto, é seu poder devastador. O tornado gira a uma velocidade maior do que a do furacão – com ventos atingindo 450 km/h – e, como atravessa regiões terrestres, tem maior possibilidade de causar danos físicos e materiais. Os Estados Unidos são os campeões desse fenômeno, enfrentando mais de mil tornados por ano, concentrados entre os meses de abril e junho. Eles se formam na região central do país, devido ao encontro das massas de ar frio vindas do Canadá, com as de ar quente, da região do golfo do México.”

Ora, nada mais destruidor que esta fase que o Atlético-PR tem vivido. A derrota no primeiro jogo para o Coxa e o empate na Arena que custou o título praticamente certo foi modificando o time a ponto de tornar-se uma equipe sem qualquer estrutura técnica contra um adversário numericamente inferior em campo e mesmo assim perder o jogo (contra o São Paulo) e culminar neste vexame do último final de semana, quando se perdeu para um esforçado Figueirense, em plena baixada.

Não resta dúvidas que o mês de abril reserva para a cidade de Curitiba massas de ar quente e frio e parece que isto tem sido fundamental nesta transformação do furacão no tornado. Os danos físicos e materiais são imensuráveis. Isto sem contar com os danos morais – estes irrecuperáveis. Como conviver tranqüilamente pelos locais de trabalho, ou mesmo pela Rua XV? As marcas deixadas são profundas. Repercutem até a região nordeste, onde pude constatar a dimensão da devastação. Jornalistas esportivos soltavam gracinhas e os torcedores do time da Arena não podiam fazer nada, tamanha tragédia causada pelo “tornado”.

Coincidentemente, os tornados tem aparecido justamente nos meses de abril, como surgiu este tornado atleticano. Contudo, como vimos acima, na definição e na diferenciação entre tornado e furacão, a duração de tal tormento é curta.E sendo o campeonato brasileiro de longuíssima duração, nao ha motivos para desespero -apesar da situação tensa e dos estragos causados.

Eh obvio que o time do Atletico-PR tem um bom elenco. O goleiro Diego se firmou como um grande goleiro. O meio campo eh criativo com Adriano, Jadson e Fernandinho e bons volantes seguram a defesa com Alan Bahia a frente da zaga. Nao eh qualquer time que tem condições de ter um ataque com Washingon, Dagoberto e Ilan (03 jogadores que serviram a seleção brasileira). O grande problema do furacao continua a ser (ha muito tempo) o seu setor defensivo. E o grande responsável por isto, me parece ser o Rogério Correia, que nunca deu qualquer tranqüilidade ao time. Entre e sai companheiros de zaga e o Atletico continua a tomar gols por cima ou por baixo. Com 11 contra 11, 11 contra 10 e ate 11 contra 09.

A defesa do Atletico tomou 09 gols nos últimos 04 jogos sem vitórias (e 03 derrotas). Foram gols de todo tipo. De rebote (segunda bola), onde nao havia um único defensor para pegar a sobra na area atleticana (como no primeiro gol do Figueirense). Por cima (sempre). De pênalti. E ate de um time que já tinha abdicada do ataque (como o São Paulo).

Contudo, preocupa neste momento, o fato de que o ataque (que era nosso forte) começou a desandar. Perder gols fáceis. Botar bolas na trave e perder pênaltis (mesmo que inexistentes). Ilan que já foi muito cobrado ha pouco tempo, volta a se-lo. Dagoberto sofre da síndrome de seleção (quando um jogador do Atletico volta da seleção, nao joga mais o que jogava antes…) e Washington vai e vem.

Mario Sergio foi o responsável pela derrota contra o Coritiba e principalmente pelo empate no ultimo jogo da final, quando poderíamos ter sido campeões. Mas também foi o responsável pelo sucesso deste mesmo time na fase inicial do campeonato. Deu cara ao Atletico. Mas deu a cara para bater no final. Sua saida pode ter sido precipitada, na medida que nao se colocou um treinador no jogo seguinte. E o jogo seguinte foi justamente contra um dos favoritos ao titulo: o Sao Paulo Futebol Clube. E no Morumbi. Dai ficamos com 02 jogadores a mais e perdemos o jogo no ultimo minuto. Humilhante. Vergonhoso. Como um time com 02 homens a mais, durante 30 minutos nao consegue fazer um gol e ainda tomar um? Coisas do futebol, diriam alguns. Por isto que futebol eh gostoso. Pela sua imprevisibilidade.

Mas a derrota na estréia da Arena da baixada nesta nova competição, e da maneira como ela aconteceu, teve a força de um tornado. De conseqüências catastróficas, sem duvida. Mas todo tornado dura pouco. E este ira passar. Dificilmente já contra o Payssandu, pois o jogo eh em Belém e lá time da casa eh difícil parar. Mas logo os torcedores voltarão a acreditar no time. O Goiás no ano passado passou de quase rebaixado a quase classificado para uma copa sul americana. A reação eh sempre possível numa competição com tantos jogos.

Basta a diretoria atleticana anunciar um grande treinador, como Levi Culpi, Leão (que pode sair do Santos a qualquer momento), Wanderley Luxemburgo, ate mesmo Zetti. Trazer alguns reforços para as alas, defesa e ate o ataque. E quando a primeira vitória aparecer, justamente (e nao por acaso) contra o próprio Coritiba, na mesma Arena (onde começou o tornado), já no próximo dia 02 de maio, haverá novamente a metamorfose do tornado para o furacao. E o Atletico terá voltado. Voltado a encantar e agradar sua torcida. Dentro e fora da arena (unico estádio com cadeiras em todas as suas dependências). No Paraná e em Pernambuco. Em todo o Brasil. E ninguém mais se lembrara do tornado que passou no começo do campeonato e tão somente do furacao que durou o restante da competição…



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