Os outros podem
Pouca coisa resta a dizer dos conflitos entre a diretoria do Atlético e a Fanáticos. O jogo com o Palmeiras, no último domingo, confirmou para quem ainda tinha alguma dúvida o absurdo. Na Baixada, ex-Caldeirão do Diabo, a torcida adversária, vestida de verde-e-branco, teve liberdade para portar instrumentos de percussão e algumas bandeiras. Do nosso lado, tudo proibido. O tratamento desigual, além de repugnante, reflete uma enorme estupidez. É inadmissível que um punhado de cartolas insista em destruir a mística de um estádio que ganhou notoriedade pela pressão extraordinária vinda das arquibancadas.
Os visitantes tremiam quando vinham jogar no templo sagrado. E hoje, o que acontece? A Baixada se transformou num estádio belo e frio. Cadeiras numeradas e trogloditas com crachás de segurança se espalham por todos os lados. Torcedores são substituídos por integrantes de ridículos fãs-clubes. O resultado é que o Furacão não assusta mais ninguém.
Quando a diretoria de um clube maltrata, discrimina e agride os seus próprios torcedores é porque muita coisa vai mal. Os outros podem. Nós, não. Esse é o recado que fica para quem se nega a assumir o papel de consumidor imposto por marqueteiros de araque. O desrespeito com que a Fanáticos está sendo tratada é revoltante. Diretores que durante anos exploraram a disposição de luta da organizada agora querem cobrar “direito de imagem” pela colocação de faixas no estádio. Quando o Atlético era uma massa falida, a sua torcida foi a grande responsável pela sobrevivência da instituição. A história registra esse fato incontestável. Mas a “modernidade” rubro-negra não sabe conviver com a paixão. Prefere acolher nossos inimigos, entregar-lhes um título em nossa própria casa e banir a alegria que antes nos contagiava.
A Baixada, ex-Caldeirão do Diabo, perdeu a graça. Está chata.