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9 out 2004 - 20h18

Atitudes e o futuro

Tive que esperar uma semana para poder escrever algo sobre a solução dada pelo Procon e pela diretoria do Atlético para questão do aumento do ingresso. Tinha receio de escrever algo injusto e impensado em relação ao assunto. Porque, no momento que fui informado sobre o aumento, não pude acreditar.

Mas hoje, creio que já pensei muito no assunto. Ponderei até demais. Acho que já posso escrever.

Durante esses dias de retrospectiva e avaliação, pelo menos uma coisa me satisfez: o grande futebol apresentado pelo Atlético no sábado, frente aos mineiros. Cheguei a temer que o time fosse acusar o golpe, como aconteceu no final do paranaense desse ano. Pude comprovar, também, que o público ficou abaixo dos jogos anteriores, como o Corinthians e o Flamengo, mesmo o jogo contra o São Paulo. Explicações foram dadas: “eleições no domingo” – disseram alguns; “O Atlético de minas não tem o mesmo apelo que Corinthians e Flamengo” – disseram outros. Público total de 16 mil, sendo 14 mil e poucos pagantes. Tudo bem, veremos qual será o público do jogo contra o Paraná, no domingo, dia 10 de Outubro. Mas não é essa a minha preocupação, nem a questão que me fez escrever esse texto. Não quero mais polemizar sobre o preço do ingresso. Para constar: sempre fui e continuo contra o aumento, conforme alguns textos (que tive a satisfação de ver publicados pelo Furacao.com) podem demonstrar. Aumento nesse momento tem cheiro de oportunismo e vingança.

Atitudes e reações. Essas são as causas que me fizeram escrever. Posso acrescentar palavras ditas, também. Antes de qualquer coisa, quero deixar bem claro que sou atleticano fanático. Adoro esse time. Nesse ano, somente perdi 3 jogos do Furacão: contra o Figueirense, por protesto contra o aumento dos ingressos; contra o Payssandu, porque estava fora de Curitiba; e, por fim, infelizmente não vi o baile do último jogo contra os mineiros, porque não tinha dinheiro para ir. R$25,00 ou R$20,00 implicam num impacto não planejado no meu restrito orçamento familiar. E agora não creio que terei mais condições de ir a todos os jogos, como vinha fazendo já há muito tempo. Mas imagino que isso não é do interesse de ninguém, a não ser meu, por isso vou voltar ao motivo ou motivos que me fizeram escrever esse texto.

Atitudes. Para mim (e já afirmei isso aqui mesmo, nesse espaço), a atitude da diretoria de aumentar o ingresso de R$15,00 para R$30,00 e – pior que isso – a forma pela qual o fato foi comunicado, foi o causador de termos perdido um campeonato ganho para os coxas. O time visivelmente se perturbou, talvez mesmo os jogadores tenham ficado abalados com tamanha falta de consideração e isso atrapalhou o rendimento (o Mário Sérgio ajudou, vá lá). Mas, na verdade, aquela atitude já deixava bem claro qual o rumo que o Atlético tomaria.

Reação. Torcida mobilizada contra o aumento; protestos ocorreram, alguns inclusive exagerados. Luta na justiça e, por fim a vitória. O que a diretoria faz? Retaliações: proíbe a entrada de material d’Os Fanáticos, tais como faixas, sinalizadores, e – a mais polêmica de todas as atitudes – a bateria. Motivo: os ditos materiais perturbam os torcedores, principalmente os que alugam os camarotes. Vamos deixar de lado se os motivos da diretoria são válidos ou não. Só isso já podia gerar um livro…

Atitudes. Durante todo o campeonato brasileiro, os torcedores continuam indo ao estádio, apoiando o time mais que nunca. A esperada evolução ocorre e, após um belo jogo contra a Ponte Preta, inicia-se uma seqüência maravilhosa de resultados. Finalmente o Furacão é primeiro e jogando uma maravilha. Crescem as expectativas, a maioria espera o bicampeonato.

Atitudes. Após um acordo com o Procon, na conciliação do processo da justiça, a diretoria efetiva o aumento dos ingressos, além de criar dois novos setores: as curvas da Buenos Aires e na Madre Maria, estes com ingresso agora a R$25,00. Por coincidência, o aumento ocorreu logo após uma “desobediência” da torcida Os Fanáticos: cansada de pedir, durante todo o campeonato, para que o czar Petraglia liberasse a tal da bateria no anel inferior, acabaram, num lance de coragem, entrar no anel superior com os instrumentos (lugar liberado) e passá-los para o anel inferior. Por coincidência, também, o novo setor criado, a curva da Buenos Aires, era o tradicional lugar na torcida Os Fanáticos. Além dos aumentos, o czar Petraglia ainda falou, numa entrevista, que “torcida uniformizada não ajuda”, que “futebol não se ganha no grito” e outras coisinhas.

E então? Nem vou entrar no mérito se torcida ganha jogo ou não. É um absurdo um dirigente do Clube Atlético Paranaense dizer algo assim. Também não vou entrar na discussão se aumento foi uma atitude aproveitadora ou se a criação dos novos setores foi ou não uma vingança contra Os Fanáticos.

O que me deixa triste são os rumos que essas atitudes apontam. O Atlético virou (ou a idéia é torná-lo) uma empresa, onde só o lucro importa e isso desobriga, ou melhor, elimina, a necessidade de apoio dos torcedores, pois uma empresa não precisa destes, mais sim de CONSUMIDORES. Claro, como empresa, somente contam aqueles consumidores submissos e aqueles que podem contribuir, financeiramente falando. Somente interessam aqueles que aceitem as regras de conduta, expressas na “nova missão” da empresa. Jogadores passam a ser “ativos” – contabilmente falando – da empresa. Eles são o produto final. Como gado, serão criados, expostos e vendidos – isso o mais rápido possível – finalidade da empresa.

Você, autêntico torcedor atleticano, que tem histórias queridas, como jogos no pinheirão; brigas com os coxas no chiqueirão; o jogo contra o Flamengo, em 83; a final em 2001; velha baixada; nova baixada; vibração com Os Fanáticos; tristezas por derrotas; alegrias por vitórias, esqueça tudo isso. De nada valerá mais, a não ser que você seja consumidor. Jogadores virão, farão o nome e irão embora. Títulos não serão a finalidade, mas sim a venda de jogadores. Enfim, o PSTC dos times profissionais.

Protestos? De que adiantarão? Os consumidores somente poderão reclamar no Procon. Dificilmente serão ouvidos pelo dono da empresa.

Aqueles que compraram os pacotes e agora estão rindo, conforme dito por uns e outros, cuidado! Pois se hoje vocês se encaixam na proposta, a empresa pode mudar de foco e desprezá-los logo, logo. Quem pode saber o futuro?

Depois disso tudo, o que pensar? Como agir? Como atleticano, a coisa que mais quero, com certeza, é o merecido título de 2002. Mas chego a temer as conseqüências que esse tão sonhado e desejado título nos traria. Qual o benefício que nós, ainda torcedores, iríamos tirar disso, além da festa nas ruas, da gozação que faríamos contra os coxas e de ver muitos engolirem palavras raivosas ou invejosas? Tanto sofrimento para, em 2005, termos que pagar R$50,00 o ingresso mais barato numa partida da libertadores ou da sulamericana? Para termos que pagar R$30,00 o ingresso mais barato no campeonato paranaense? Para vermos o time ser desmontado no final desse ano, tudo em nome do lucro? Para ficarmos sonhando com a conclusão da Arena? Para nunca mais vermos a festa d’Os Fanáticos, bem como nunca mais ouvir aquela bateria? Para sermos mais desprezados ainda?

Quero o Furacão vencedor, grandioso, campeoníssimo. Não só em 2004. Quero um belo futuro. Mas não às custas da história, do passado. Não às custas de nossa identidade. De que valeriam, então, as conquistas do futuro sem o reconhecimento por quem as viabilizou no passado? Porque o czar Petraglia pode ser responsável por muitas conquistas do passado, mas elas não seriam realizadas sem os torcedores (torcedores, não consumidores).

Vocês podem achar que estou errado e nada do que disse tem o menor sentido. Vocês podem mesmo concordar com as atitudes e reações que a diretoria tomou. Tudo o que quero pedir é que cada atleticano haja movido pelo seu amor pelo Furacão e conforme sua consciência pessoal. E que, acima de tudo, não desprezemos nossa história por motivos mesquinhos e pessoais.



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