O Atlético está morrendo
Não sei mais o que pensar ou dizer. Pela primeira vez na minha vida – os anos avançam com rapidez -, tenho a sensação de que o amor que eu sempre cultivei por um clube de futebol caminha para a morte. O que vi no domingo me assustou. Não pelo jogo em si, que esteve no nível da normalidade. Dois times desordenados em campo, lutando contra as suas limitações. Não pela quinta derrota consecutiva, algo que nem as mais fúnebres previsões de um torcedor amargurado poderiam conceber. Não é isso. Eu vi a completa destruição dos valores que me aproximaram, ainda criança, de pessoas que eu não conhecia – milhares delas, parecidas comigo pelo simples motivo de vivermos a mesma e inexplicável paixão.
Nos piores momentos das décadas que passaram, havia em nós uma chama pronta para incendiar os corações. Freqüentamos a segunda divisão, encaramos as dores do exílio, mas nada foi capaz de nos vencer. Nós formávamos uma só identidade, tínhamos alma, e nos orgulhávamos disso. E agora, o que temos? Temos o melhor estádio, o melhor CT e pagamos os ingressos mais caros do País para assistir ao pior time do campeonato. Sentamos em cadeiras que nos “setorizam”. Pertencemos ao retão da Getúlio, aos fundos da Buenos Aires ou ao pombal do imperador. Nada nos une, muros de acrílico nos separam. Das arquibancadas (ou cadeiras), a energia que vem é negativa. Sempre. Não conseguimos mais interferir no curso dos jogos com os nossos gritos, com a vibração dos nossos corpos molhados de suor e felicidade. Sequer gritamos, apenas discutimos entre nós mesmos. Hoje, os visitantes fazem mais barulho do que nós.
Estamos sendo dirigidos por loucos, ditadores que perderam a confiança do povo e urram delirantemente enquanto seus templos desmoronam. Nada explica a sucessão de erros, o destempero verbal de quem deveria mostrar equilíbrio nos tempos de crise. Nada explica a “entrevista coletiva” – um encontro marcado pela grosseria a pela falta de autocrítica dos “entrevistados” – em que o principal cartola do clube se limitou a transferir a responsabilidade pelo caos à torcida que nunca abandonou o clube.
Somos um projeto falido e decadente. Chegamos no fundo do poço, como muitas vezes aconteceu durante a nossa existência. A diferença é que antes éramos um só espírito; agora, somos o nada governado pela frieza dos números, pela solidão dos gabinetes e pela ilusão das promessas mirabolantes. A catástrofe se anuncia maior do que jamais poderíamos supor. O Atlético, o meu Atlético, está morrendo. Conseguiremos salvar o fiapo de vida que ainda resta?
Não sei. Na verdade, não me animo a procurar respostas. Preciso me recompor, primeiro. O tempo, que não volta nunca, continua a ser a minha única esperança.