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30 maio 2005 - 14h53

Somos nós que perdemos o sono

Eu tinha pouco mais de oito anos em 1968. Lembro-me da revolução que, na época, o Atlético representava para o futebol do Estado. As cores rubro-negras tomavam conta da cidade, estampadas em milhares de bandeiras, dando impulso e fertilidade à minha imaginação. Tudo parecia novo, embora o esporte ainda guardasse muito de amadorismo. Jofre Cabral era o nosso deus, até descobrirmos as suas limitações humanas – ele, o grande timoneiro, não era imortal, como pensávamos, e nos abandonou no meio de uma partida decisiva em Londrina, nocauteado por um infarto e pelo cigarro nervoso que consumia desesperadamente. Depois, de mãos dadas com um velho tio, fui testemunha da trágica decisão do estadual daquele ano. Um gol de cabeça de Paulo Vecchio, aos 46 minutos do segundo tempo, sepultou o que seria o primeiro título da minha vida. Empatamos um jogo que merecíamos ganhar. Um punhado de trogloditas de pernas brancas me fez chorar na noite fatídica. Enxerguei neles a antítese da felicidade, a negação da alegria, a disciplina quadrada dos frios e insensíveis. Odiei-os.

Os anos que se seguiram não foram fáceis. Vivemos nas sombras, esquecidos. Perdemos muitas partidas, formamos times sofríveis, fomos expulsos da nossa casa. Apesar do sofrimento, porém, nada conseguiu nos separar. Permanecemos fortes nas derrotas, até que alguns mercadores nos venderam a ilusão da modernidade. Embarcamos na viagem que nos deu vitórias e projeção. Mas os mercadores queriam de nós a nossa alma. Não a entregamos. Por isso estamos abandonados agora.

Penso nessas coisas quando me pego, tanto tempo depois da minha infância, com lágrimas nos olhos. Lágrimas que derramo pela minha mais antiga paixão, por um clube que deixou de existir, consumido pela mediocridade de pernas-de-pau e pela frieza de contadores de dinheiro. Em nove partidas, oito derrotas. Nunca se viu nada semelhante. Vexame total, inacreditável, histórico! Apenas nós, torcedores, achamos que não pode ser assim. Perdemos o sono, nossos corpos sentem dores, fazemos contas e previsões catastróficas. Tristeza, tristeza…. E os cartolas que nos enganaram não tomam nenhuma iniciativa para sair da situação humilhante (o pior não é jogar a segundona; o pior é não fugir dela). Eles se abrigam no silêncio e no escuro das noites que nos perseguem. São os culpados, os únicos responsáveis por esta agonia sem fim. Eu os detesto tanto quanto detestei, menino ainda, os trogloditas de pernas brancas que roubaram a alegria do meu mundo em 1968.



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