4 set 2005 - 13h06

Petraglia quer transformar o Atlético no maior das Américas

O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mario Celso Petraglia, concedeu uma entrevista ao jornal Gazeta do Povo. A reportagem, do editor Leonardo Mendes Júnior, foi publicada na edição deste domingo, com grande destaque. O principal dirigente atleticano tratou sobre os mais diversos assuntos e esclareceu diversos pontos de interesse da torcida rubro-negra. No início, falou sobre a perda do título brasileiro de 2004 e o relacionamento com o técnico Levir Culpi, com quem trocou acusações durante estea ano. Depois, disse que não aceita ser comparado ao polêmico Eurico Miranda, presidente do Vasco. Petraglia contou sobre os planos de ampliação da Kyocera Arena e de construção de um ginásio no terreno do colégio. Por fim, assumiu um compromisso: transformar o Atlético no maior time das Américas. Confira a entrevista abaixo (clique aqui para ler a reportagem da Gazeta do Povo na íntegra no site Onda RPC):

As declarações do Levir reabriram as feridas pela perda do título brasileiro?
Eu acredito que as feridas do Brasileiro jamais serão fechadas. Elas ficarão marcadas para o resto da vida, porque nunca gostaríamos de ter perdido da forma que perdemos. Mas realmente o que abriu novamente é ouvir e ler certas coisas que você não concorda, não aceita, principalmente por não ser verdade.

Quais coisas?
Esse senhor falta com a verdade – e eu até gostaria que depois dessa minha entrevista ele procure os seus direitos juridicamente. Assim como eu vou procurar, pela maneira como me sinto agredido, da forma violenta, dos adjetivos que ele utilizou. Meus advogados estão fazendo uma análise pra ver se cabe processá-lo por ofensas pessoais.

O que mais lhe atingiu?
A falta da verdade. O nosso encontro não foi em Porto Alegre. Nós tomamos decisão lá em Barão de Cotegipe, cidade próxima a Erechim, quando eu pedi a esse senhor que aguardasse para depois do jogo, que nós conversaríamos durante o vôo fretado que nos levaria a Curitiba. Mas ele disse que era tarde, que teria de dar a resposta antes do jogo. E eu dei. Disse a ele com todas as letras: pode ir para o Cruzeiro. Eu sempre acharei uma falta de ética. Por que não esperar o término do campeonato? Essa é uma cobrança que eu fiz ao Cruzeiro. Por que o Cruzeiro não esperou o término do Campeonato Brasileiro pra fazer uma proposta ao nosso treinador?

O Levir falou também que antes desse encontro no Rio Grande do Sul, ele já havia procurado sr. outras quatro vezes pra tratar do tema. Houve essa procura anterior?
É mentira. O único momento que o Carletto (Antônio, assessor da presidência) me procurou para dizer que esse senhor queria falar comigo foi lá em Barão de Cotegipe. Eu neguei, mas fui pressionado pela própria diretoria do Atlético, que achou que seria conveniente sentar e conversar. Foi aí que eu me dispus e me arrependo. Outra coisa. Ele fala que foi uma infantilidade, uma demonstração de perda de razão, uma insanidade mental temporária… Eu posso até entender que um grande torcedor como eu tenha certos momentos em uma partida em que a emoção seja maior e a gente passe até a uma situação um pouco descontrolada, mas todos me conhecem e sabem que infantil eu não sou. Perda de razão? Pelo contrário, as pessoas me chamam de frio e calculista. Insanidade mental? Só se ele é insano pela sua imposição mercantilista de querer usar o momento para renovar o seu contrato. Eu devia tê-lo demitido naquele dia. Só que por orientações, por falta de coragem de assumir o risco de perder o campeonato e amanhã ser responsabilizado, preferi deixar a minha intuição em segundo plano e continuar com esse senhor até o fim do campeonato. A minha maior preocupação foi o jogo contra o Botafogo. Era um momento que eu não queria viver e pedia a Deus que não me reservasse porque seria muito difícil de sobreviver e suportar.

O Atlético perdeu o título ali?
Seria muito difícil julgar que foi ali, aqui ou acolá. Depois tivemos o episódio do jogo conta o Vasco, que nos trancaram no vestiário. Eu pedi para que levassem instrumentos para que nós arrombássemos a porta do Vasco, no bom sentido, e pudéssemos aquecer no campo. Não fui atendido! Não tiveram coragem! O nosso treinador e a comissão técnica acharam que não deveríamos afrontar o Vasco com uma atitude daquela. Aquilo foi uma demonstração, mais uma vez, de covardia.

O Atlético deve ao Levir?
Houve uma promessa verbal nossa de um prêmio para ele ganhar o Brasileiro e um prêmio se ele nos classificasse para a Libertadores. Nós somos habituados a cumprir aquilo que prometemos. Nem sempre a recíproca é verdadeira. Não sei se nesse caso a recíproca seria verdadeira, tenho dúvidas. Nós ainda não cumprimos por uma questão de caixa, mas não vamos deixar de honrar a nossa palavra.

O senhor voltaria a trabalhar com ele?
Jamais, jamais. Em qualquer circunstância, em qualquer atividade humana, empresarial, esportiva, porque eu não tenho só esse exemplo de mau comportamento. Eu tenho outros pessoalmente, mas prefiro não levar a público.

Os três últimos episódios em que o senhor mais apareceu foram muito polêmicos – a briga com o São Paulo, a entrevista coletiva de 12 de maio e a briga com o Eurico Miranda. O sr. não teme ser rotulado de um Eurico Miranda moderno?
E eu não permito, não aceito, não me conformo com comparações com dirigentes que nada fizeram, que nada construíram. Muito pelo contrário, destruíram. O Petraglia construiu, ajudou e liderou uma tranformação do Atlético, o clube que mais cresceu nos últimos dez anos. O Petraglia é um dirigente moderno, um dirigente realizador, que construiu algo para o futebol. Primeiro para torcida e para o futebol atleticano. Depois para o futebol paranaense, para o futebol brasileiro e, por que não dizer, para o futebol das Américas. “El Paranaense” é conhecido nas Américas e respeitado. Mas, objetivamente à sua pergunta, eu concordo em tese. O estigma Petraglia, em nível nacional, existe desde o advento daquele episódio de Ivens Mendes (em 1997), que jamais esquecem, e já vai fazer dez anos. Como não têm outra coisa a falar mal do Petraglia, relembram, revivem e falam mal. Agora, quando entra numa situação de desencontro, de crise, de desrespeito às pessoas, à minha pessoa, ao projeto, ao nosso clube, à instituição Atlético, me cabe, mesmo com o prejuízo da minha imagem, defender o clube.

Na época dessa briga com o Eurico Miranda o sr. era cotado para assumir um alto cargo no Clube dos 13. O senhor mantém e pretensão de assumir uma alto posto na entidade?
Quem sabe. O projeto do Atlético está cada vez mais forte. Precisamos trabalhar em nível nacional, não podemos ser uma ilha. Temos de trabalhar também para o crescimento do segmento futebol. Não adianta o Atlético sozinho estar nessa situação quando os outros clubes estão sofrendo.

Quando bateu o arrependimento pela explosão no jogo contra o São Paulo?
O arrependimento deu-se no domingo à noite, quando eu tenho o hábito ir ao cinema com minha família. Fui assistir a 2 Filhos de Francisco. Foi ali, em um filme extremamente emocionante, que mostra a história de um pai lutador, que acreditou e incentivou os filhos. Me lembrei do meu pai e da minha mãe, e naquele momento caiu a ficha. Vi que não deveria ter agido da forma que agi. Posso prometer quase que 100% que jamais isso irá acontecer novamente.

O filme fez o senhor chorar?
Claro. Acho que não tem quem não chore naquele filme. A gente sai como os olhos realmente vermelhos, porque além de ser uma história real, é uma historia muito bonita de vida.

Entre a segunda metade do Brasileiro do ano passado e aquela célebre entrevista do dia 12 de maio, o sr. ficou bastante tempo em silêncio evitando as entrevistas. Por quê?
Eu preferi me retirar um pouco. Primeiro porque eu assumi o Conselho Deliberativo – que é uma função muito mais estratégica do que operacional – e o que a imprensa quer saber são respostas do dia-a-dia do Atlético. Eu me preservei também por razões pessoais e desgosto. Fiquei magoado com xingamentos que ouvi que não gostaria de ter ouvido da própria torcida. Mas respeito. A torcida tem de se manifestar da forma que acha que deve. Afinal é para ela que nós sempre trabalhamos.

Esse ano seu grupo está completando dez anos administrando o Atlético. Qual foi o melhor momento ou o passo mais significativo que o clube deu nos últimos dez anos?
Sem dúvida foi investimento em infra-estrutura, com a inauguração da Arena e do CT. O CT deu as condições físicas e espirituais para criarmos os grandes times que o Atlético teve nesses dez anos. E a Arena é a magia que ela gera na torcida, aquele clima, aquela sinergia simbiótica entre o ambiente, os torcedores e os jogadores. Me arrepia só de pensar. Nada foi mais significativo do que construir o nosso templo sagrado.

E o pior momento?
Realmente foi o episódio Ivens Mendes. Já passamos por vários momentos difíceis: CPIs, denúncias de lavagem de dinheiro, Banco Central, INSS e nada foi encontrado ou provado. Nesse caso também não, mas houve uma repercussão tão forte que ficou a marca. Posso não ter morrido disso, mas vou morrer com isso.

Qual a meta para os próximos dez anos?
Transformar o Atlético no maior time das Américas. Até 2009, temos a conclusão do CT, o início das obras da Arena e a construção da nossa Areninha. Temos ainda o projeto de fazer um museu do Atlético e a fundação de uma universidade do futebol, para formar árbitros, advogados, diretores de marketing e diretores de administração de clubes de futebol. Abriremos escolinhas nos principais países das Américas, temos um plano de divulgação da marca na Ásia.

O modelo ainda é o Manchester?
Obviamente que o modelo é todo o projeto bem-sucedido. O Manchester é um bom exemplo, porque é um clube que não está na capital, não tem a maior torcida e se projetou pela sua competência, pelo seu planejamento, pela sua administração e hoje tem um milhão de consumidores, que é o que interessa para todos nós. Não adianta ter 30 milhões de torcedores e nenhum consumidor, como temos casos no Brasil.

Como está seu relacionamento com o presidente do Coritiba, Giovani Gionédis?
Eu convivo com o Giovani há 20 anos, as nossas famílias sempre conviveram. Temos de reconhecer que ele está conduzindo o clube muito bem, ele está inteligentemente caminhando à sombra do Atlético. O crescimento do Atlético está levando ao crescimento do Coritiba naqueles aspectos que nenhum dos dois clubes tinham: estrutura, venda de jogadores por valores altos para o exterior. Mas desde que assumiu a presidência, ele tem administrado o clube de forma emocional. Ele tem sido muito mais torcedor do que eu, então houve um desencontro pela posição do Giovani, por algumas ações de torcedor.

Por exemplo?
Ele disse que faria em um ano o que Atlético levou dez anos. Nem se fosse mágico. Ele já está há quatro anos e o que o Coritiba fez a não ser pagar conta? Quero ver se o Giovanni tem coragem ou a competência de demolir o Couto Pereira. Eu estive lá no jogo do Fortaleza, depois de muitos anos, e não vi absolutamente nada de moderno, a não ser uma pequena maquiagem. Eu dou 20 anos para ele, não 10, para demolir o Couto Pereira e construir uma arena moderna, um CT do tamanho do nosso, ser campeão brasileiro, vice-campeão das Américas. Aí ele pode dizer que foi um grande dirigente. O Giovani é um grande advogado, não é empresário. E esse desafio de transformação de modelos, de projetos, é para cabeças empreendedoras. E, sem falsa modéstia, é a minha cabeça.

Como o Atlético vai pagar a conclusão da Arena e a conclusão da Areninha?
Nós vamos tentar buscar financiamentos de recursos de longo prazo, com período de carência até que esteja pronto, funcionando e dando retorno, mas o tempo mais longo possível para pagarmos. Não queremos mais investir resultados de venda de atletas em patrimônio. Isso trouxe prejuízo técnico. Queremos vender depois o nome desse complexo todo por infinitamente mais do que nos vendemos o nome da Arena.

O Atlético negociou 12 jogadores para o exterior em 2005. Esse número dá munição para que se chame o Atlético de balcão de negócios?
O Atlético é também um balcão de negócios. Só que há uma deformação. O resultado desse negócio é reinvestido no Atlético. Jamais ninguém se beneficiou de nenhum negócio no Atlético – estou falando pelo meu tempo de dez anos. Estamos investindo em 2005 quase R$ 8 milhões em patrimônio. De onde sai esse dinheiro? Aprendemos a valorizar os nossos jogadores e os nossos co-irmãos, têm ido na nossa sombra. O Atlético valorizou o futebol do estado.

O sr. possui participação nessas parcerias com Guarani, Paysandu e Figueirense?
É mentira. Acusam, mas ninguém prova. É contra essas maldades que me insurjo. Há uma dicotomia muito grande dos interesses, porque esses clubes também querem ser campeões brasileiros, apesar de o Atlético ter de emprestar atletas para pôr na vitrine. Nós temos no Figueirense o melhor lateral-esquerdo do Brasil, o Michel Bastos, que veio de contrapeso quando vendemos o Jean (para o Feyenord, da Holanda). Ele esteve no Atlético, no Grêmio, não deu certo, emprestamos para o Figueirense e está arrebentando. Já recebemos ofertas, mas não vendemos porque queremos que ele jogue no Atlético no ano que vem.



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