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27 set 2005 - 14h36

O traíra que nos traiu e a vida que segue em mares revoltos

Amigos, tão logo soube da saída do Lopes fiquei indignado. Não por reconhecer nele qualquer virtude extraordinária, mas por lamentar uma saída que se dá em situação tão delicada, pois estamos a poucos passos da perigosa zona de rebaixamento.

Fiquei muito brabo com o Lopes, rabisquei na tela do computador incontáveis insultos, mas foi na obra do meu genial amigo Rui Barbosa que encontrei as palavras certas para dizer poucas e boas ao Delegado que nos deixou na mão quando dele mais precisávamos.

Assim, transcrevo a redação portentosa do Rui que bem conceituou a figura do traidor. Hoje, a descrição que lhes apresento cabe muito bem ao Lopes como se fosse uma imensa carapuça (aliás, com uma cabeçorra daquele tamanho, a carapuça tinha mesmo de ser enorme). Sobre o traidor, asseverou o admirável Jurista brasileiro:

“Não preciso descrever o traidor. Quem é que o não conhece? A natureza o fez esguio como a cegonha, para as migrações. Fê-lo escorregadio como a enguia, para as fugidas. Fê-lo, como o camaleão, cambiante e multicor, para as adaptações mais variadas. Fê-lo, com as duas disposições do morcego, para a dentada e o assopro, o afago e a sangria. Fê-lo rasteiro e virulento como a víbora, para as covardias e crimes. Dotou-lhe o olhar do rato, as lágrimas do crocodilo, o riso da hiena, a gravidade do mocho, a imoralidade do bugio, a pele da anta, o bucho da ema. Reunindo nele todas essas qualidades ou partes animais, direis que o gênio da criação caprichou em zombar do monstro de Horácio, mostrando-lhe quão abaixo está o engenho humano dos portentos da realidade. Mas das entranhas das criaturas animadas só lhe aquinhoou as vísceras inferiores. Estreitando-lhe o peito, não lhe deixou lugar para o coração. Pátria não se sabe se lhe deu. Deve-lhe ter dado sexo. Mas castrou-o n’alma. Da inteligência reduziu-o a certos instintos desenvolvidos, às faculdades subalternas: as da astúcia, as da simulação, as da malignidade”.

Feita a minha malcriação, passo a tratar dos assuntos mais relevantes da vida do nosso querido Atlético.

O que está havendo com o nosso time? Por que nos apequenamos tanto quando deveríamos impor a todos nossa condição de segundo melhor time das Américas?

É possível aceitarmos uma absurda posição entre os lanternas depois de termos conquistado o Brasil em 2001 e quase reconquistado em 2004?

Essas perguntas estão me tirando o sono e parece que alguns dormem tranqüilamente como se fosse normal perder para o Figueirense, como se fosse normal lutar para não ser rebaixado, como se fosse normal um clube do tamanho do Atlético ser trocado por outro dentro da mesma competição.

É preciso mão de ferro de nossos dirigentes, enquanto há tempo. É preciso entrega total e irrestrita de nossos atletas, enquanto há luta. É preciso união indissolúvel de todos, enquanto houver esperança.

E deixo aqui meu conselho: efetivem o Borba como treinador, pois ele teve a coragem de assumir o Atlético na mais aguda crise de 2005. Foi ele quem arrumou nosso Furacão na Libertadores. Foi ele quem aparou as arestas para o Lopes. Foi ele quem assistiu ao Lopes durante todo esse tempo. Ele sabe das coisas e cada cabelo branco do Borba guarda um minuto de bola rolando.

Efetivem o homem, já que o camaleão – cambiante e multicor – resolveu vestir-se de preto e branco em troca de um bom punhado de moedas. Efetivem o homem e não se deixem levar por ilusões (nessa altura do campeonato ninguém de fora conhecerá nosso elenco, mas o experiente Borba Filho conhece muito bem nossos atletas e terá capacidade de nos tirar dessa fria).

E no mais, um último pedido: Lopes, não volte mais, mesmo no caso de precisar, mesmo no caso de o Timão não passar de ilusão, mesmo no caso de não ter onde trabalhar, mesmo em caso de arrependimento. Fique longe do Atlético, pois ingratidão é coisa que não se tolera.



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