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23 mar 2006 - 21h15

O vitorioso

Conheci Givanildo no Santa Cruz, de Recife. Magro, baixinho e cabeçudo, era destaque do tricolor pernambucano, mas não como treinador. Volante disciplinado, chegou a ser convocado para a seleção brasileira daquele ano, pós-copa da Alemanha. Dono da camisa 5 da seleção deixada por Zagallo, Giva teve seu passe vendido ao Corinthians, onde se destacou, por algum tempo, muito embora, não fosse para a copa de 78, disputada na Argentina. Já, seu companheiro de Santa Cruz, o centroavante Nunes, apelidado de cabelo de fogo, chegou a vestir a camisa 20 da copa disputada no outro lado do Rio Prata.

O centro futebolístico pernambucano, por sinal, naquela década de 70, era pródigo. O Santa Cruz tinha Nunes, Givanildo, Fumanchu, Ramon, enquanto o Náutico vinha com Jorge Mendonça, Vasconcelos e Beliato e o Sport com Dario “peito de aço”. De todos estes ídolos do passado, apenas Giva seguiu a carreira de treinador.

E se foi muito bem, na nova função. Campeão pernambucano com o Sport e Santa Cruz, só não conseguiu levantar o caneco com o timbu. Campeão paraense, alagoano, ainda levou o América-MG, o Payssandu e o próprio Santa Cruz de volta para a elite do futebol nacional.

Com um estilo paizão dos jogadores, nem por isto, deixa de dar verdadeiras prensas nos atletas, quando estes saem da linha. Mas, por isto mesmo, é sempre muito respeitado pelos jogadores. Tinha o grupo do Santa Cruz na mão, e, é um dos principais responsáveis pelas revelações da cobra coral pernambucana, montando uma equipe competitiva, com Carlinhos Bala e Rosembrink, na espinha dorsal.

Seu temperamento, entretanto, não é dos mais fáceis. É tido pela imprensa como uma pessoa difícil, que se irrita com facilidade, com as perguntas dos repórteres e chega até a ser tachado de “mala” pelos jornalistas. Com o grupo, entretanto, é muito bem visto, apesar de uma ou outra ocasião, ter um jogador que não goste de alguma atitude do treinador, como foi o caso de Kuki, no Náutico, que chegou a ser “expulso” de um treino e chutou um balde, ao passar pelo treinador.

Entretanto, sua competência como treinador é inquestionável. Tinha dois objetivos mais próximos: coroar as suas conquistas em Pernambuco, com um título com o Náutico (que fica adiado para um futuro próximo) e dirigir uma grande equipe, do sul do País, para expandir, ainda mais a sua inegável competência. Este último objetivo, finalmente, é alcançado, com a sua contratação pelo Atlético-PR, para ocupar o lugar do alemão, Mattheus.

Se será bom para o furacão, só o tempo dirá. Givanildo aprendeu, por experiência própria, desde à época que era atleta, que um time vencedor é formado em casa, com a base. Foi assim com o Santa Cruz, penta-campeão pernambucano de 69/73 e com as conquistas com os clubes que treinou. Sempre com os chamados “pratas da casa”. E o Atlético-PR já é conhecido por esta política de valorizar os garotos formados nas divisões de base do rubro negro paranaense. Ou seja, é unir o útil ao agradável.

Ano passado, fui a uma festa, da Globo, com a entrega do troféu dos melhores do campeonato. Givanildo estava lá. Havia vencido o campeonato pernambucano pelo Santa e ainda iria levar o time pernambucano para a serie A, ao final do ano. Eu estava lavando a mão, quando ele entrou. Simples. Tranqüilo. Nem parecia que havia sido agraciado com o prêmio. A cabeça já totalmente grisalha não lembrava muito o jovem Giva que vi jogar. Vestindo uma espécie de paletó com zipper, ele pediu licença, enquanto eu o parabenizava pelas conquistas. Ele sorriu, de forma simples, como seus times costumam jogar. Sem invenções. Com uma defesa sólida, um meio de campo criativo e um ataque veloz e eficaz.

Boa sorte ao novo técnico do furacão. Que ele faça o que vem fazendo até então, em toda a sua vitoriosa carreira. Se fizer isto, com certeza, o Atlético-PR terá razões de sobra para comemorar esta contratação de um nordestino cabra macho.



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