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23 maio 2006 - 16h14

O presidente, o cientista e a ralé

Aos poucos nós, torcedores, vamos desvendando o funcionamento da cabeça de nosso Clube Atlético Paranaense. Semana passada tivemos a oportunidade de ler a respeito do planejamento “científico” do futebol, na elucidativa entrevista concedida pelo cientista Antônio Carlos Gomes e hoje ainda estamos sob o efeito das palavras de nosso presidente de fato e direito Mário Celso Petraglia, um homem que vive e respira o Atlético, o que ninguém duvida.

A única conclusão que se toma, ao analisar ambos os depoimentos desses, que são a cabeça do Clube Atlético Paranaense, é que sua distância do torcedor é grande. Muito grande mesmo. O cientista nos toma por “ignorantes” e o presidente como sovinas e irracionalmente emocionais. Este ano eu não comprei o pacote. Renovei a minha assinatura da Gazeta do Povo por mais um ano e ganhei os ingressos para o paranaense e brasileiro. Nem imaginava que com isso poderia estar lesando meu time. Cheguei até mesmo a pensar que o oferecimento de tal benesse aos torcedores correspondia a uma espécie de trégua da constante animosidade entre a diretoria e sua torcida. Ledo engano meu e de muitos outros que como eu se empoleiram na parte superior da Madre Maria para ver o jogo (desculpe, agora se chama “Setor Sundown”).

Só me sinto menos mal porque vi, como tantos, os resultados do time (através de seu balanço), e restou clara a conclusão de que houve considerável lucro. Não lesei tanto assim o Atlético. Aliás, a renovação de minha assinatura foi providencial. Em outras ocasiões, mesmo me esforçando e comprando os pacotes, só faltaram dois detalhes pequenos para me fazer repetir a operação: futebol e time. Em outras ocasiões, em que não comprei, vi que atleticanos como eu ficaram sem assistir a alguns jogos pela perda de mando, sem que sequer uma justificativa fosse dada ao contrário disso, nós, torcedores, ainda fomos hostilizados.

Nosso presidente se sente incompreendido. Pela torcida e pela imprensa. Peças coadjuvantes do futebol, me deu a impressão. Quanto a imprensa já se tornou irritante acompanhar um jogo com o radinho no ouvido e ouvir incessantemente as sutis trocas de ofensas. Quanto à torcida, esse é o ponto que me atinge. É muito simples e triste. Parece que essa guerra, iniciada com mão-de-ferro contra bandeiras, faixas, bateria, organizadas (que tanto me fascinaram quando era pequeno e adorava levar minha bandeirinha ao estádio) se estendeu a todos nós. E, jogo a jogo, campeonato a campeonato, percebo com muita clareza a torcida mais fanática do Brasil esfriando, esmorecendo, ficando fraca. E não é pra menos, pois até mesmo o mais ignorante dos torcedores uma hora se toca de toda a sua irrelevância diante de fatores mais importantes relacionados à gestão monetária do clube absolutamente afastada do futebol, que, diga-se de passagem, está deixando muito a desejar.

O resultado é claro. Alguém se surpreende por não vencermos na Arena? Na nossa casa? Claro que não, pois aliado a ausência de comprometimento técnico e dificuldade em jogar de nossos jogadores, hoje o grito da torcida está muito mais fraco do que era há tempos atrás. Mas não levem a sério o que eu escrevi, porque é claro que estou errado. E isso por dois motivos: sou um simples torcedor sovina dotado tão somente de emoção, nas palavras do nosso presidente, além de “ignorante” nas palavras do cientista. Ou seja, não tenho importância alguma nesse contexto.

Meu desejo era só poder ir à Arena e ver um bom espetáculo de futebol. De preferência dado pelo meu time. Levar meus filhos e encaminhá-los, como fez meu pai, para serem bons atleticanos. E até mesmo isso fica difícil já que uma criança de 4 anos para ver um jogo do Atlético precisa comprar meia entrada. O futuro? Estaremos por perto. Talvez mais à distância não por vontade própria, mas porque estamos sendo mal tratados com freqüência maior do que alguém com vergonha na cara pode agüentar.

E quanto a esse ano? A resposta científica é essa: “Furacão: já há algum planejamento para o período de folga durante a Copa do Mundo? Antônio Carlos Gomes: tudo montadinho. Nós vamos ter 37 dias parados. Nós vamos dar 10, 12 dias de folga para eles. Aí eles vão voltar e terão três semanas para se preparar. Vai haver uma queda, mas temos de ter cuidado para não ter uma queda tão brusca. Como se tem um período muito grande, dá tempo de recuperar. Vocês sabem que essas paradas não são ruins, elas são boas. Se a gente tivesse essas paradas mais freqüentemente, teríamos espetáculos muito melhores.”

Dá pra acreditar?



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