Nem Vitória resolve mais
Logo após a conquista do título de 2001, um filho presenteou-me com uma linda camiseta da primeira edição com as duas estrelinhas, e pelo carinho e lembranças embutidos no mimo, imediatamente foi batizada de Vitória, e usada somente em ocasiões muito especiais! Por meses a fio, Vitória ficava em seu pedestal, cheirando a nova, e reinando absoluta junto aos demais artigos que formam o Santuário Rubro Negro, em nossa casa.
Com o passar dos tempos, observamos que Vitória resolvera fazer jus ao nome e ao destacado posto ocupado entre tantos cacarecos amealhados nos últimos 45 anos de Atlético. Trajando Vitória, não tinha pra ninguém. Era de goleada!. Porém, vez ou outra, por julgar desnecessário, Vitória não era acionada, e muitas vezes a desgraça se anunciava: 2×0 de cara contra a gente. – “Filho! vá correndo pegar Vitória!” – Arre, que daí ficava fácil! – Em poucos minutos, em um passe de mágica, o time ressurgia do nada: com cabeças de bagre virando craques, e craques virando deuses; técnicos medíocres transformavam-se em sérios estrategistas, e a derrota anunciada virava tremenda comemoração!
Naturalmente que tão maravilhoso e poderoso amuleto, somente era acionado em casos de grande necessidade. Jamais foi convocado para trabalhar contra coxinhas e vileiros, por exemplo, por absoluto desperdício de forças. Para a turminha desta faixa, o time sozinho resolvia, e com sobra.
Porém nos últimos tempos, Vitória passou a trabalhar cada vez mais e mais, e a cada jogo víamos seu poder diminiuir, culminando com os jogos contra a Adap, timinho que jamais teria a honra sequer de ser lembrado da existência do precioso talismã. Reunido o Conselho, chegou-se à conclusão de que Vitória estaria precisando de uma mãozinha: Uma vela branca foi a primeira ação, sem resultado. Alguém sugeriu uma vermelha, que também nada adiantou; com a preta também foi só tempo perdido. Por fim, três velas de cada côr, junto com poderosos patuás encomendados diretamente da Bahia, também não resolveram nada. Vitória muda, inerte, quase um trapo, e o time beirando a segundona.
Catamos tudo e fomos procurar um pai de santo especialista em futebol, o mesmo usado pelo Grêmio em Erechim. Com sabedoria e reverência analisou todo o material trazido à sua presença. À Vitória, dedicou incontáveis minutos, procurando detalhes que só sua mente conhecia.
Seu despacho foi sábio, curto e grosso: Não há nada de errado com o material. O problema é que está tudo errado neste time do Atlético. Não existe amuleto que dê jeito.Os bons vão embora, e quem vem não presta.
Técnico que arruma o time é dispensado na virada do ano, e contrata-se malucos aventureiros. O melhor jogador treina e não joga, por que está de mal com o presidente( ou com os dois presidentes). Vocês têm duas saídas: habituem-se a perder, e agradeçam aos céus, pois até dezembro, o time está garantido na primeira divisão. Para o próximo ano, só vejo nuvens negras rodeando a Kiocera Arena.
Nada mais disse, e nada mais foi-lhe perguntado!