“Os Fanáticos” Futebol Clube
João, desempregado, morava no Vale Esquecido, num casebre, às margens de uma ruela de chão batido, onde não havia iluminação, esgoto, escola, mercearia e os “médicos” atendiam com métodos naturais, ensinados de pai pra filho. João tinha lampejos de alegria quando recebia amigos “das antigas” em sua casa. Ele afirmava que tinha liberdade pra ir onde quisesse a qualquer hora e em qualquer tempo. Da mesma sorte, seus amigos e todos onde ele morava agiam de maneira semelhante. Esquecidos no tempo, sem auxílio do governo, coleta de lixo e transporte coletivo, João se locomovia com liberdade, sempre à pé ou, raras vezes, de jumento. Mas todos os dias tomava “uma” no único bar que vendia “geladas”. Não tinha impostos a pagar.
Porém, tinha poucos motivos para sorrir e transparecia em sua face a inveja de José.
José, trabalhador nas horas vagas, morava na Vila Remendada, local pouco melhor. No meio da montanha, com poço artesiano comunitário, aluguel de lampeão e venda de querosene para abastecê-lo pagava impostos irrisórios. Postinho de saúde com longas filas, salas de aula a céu aberto e ruas que recebiam pedra brita e patrola a cada seis meses. Mesmo assim, todos os vizinhos de José olhavam para o Vale Esquecido com desdém, como alguém que tem um pouco mais que nada e que morava um pouco mais acima. José achava que era Joaquim.
Joaquim morava no alto dessa montanha. Pagava todos os seus impostos trabalhando oito horas por dia. Sabia que existia José em algum lugar do mundo e não conhecia João. Era famoso por onde passava.
Certo dia, Mário conheceu o Vale Esquecido. Compadecido das pessoas que ali viviam e triste pela situação delas, deu, de seu próprio bolso, casa, comida e infra-estrutura. Asfaltou as ruas, trouxe carros, ônibus, comércio, hospital e a modernidade. O Vale Esquecido tornou-se o paraíso! Até mesmo Joaquim teve inveja e queria ter as coisas que João agora tinha.
Com isso, o governo voltou as atenções para o Vale Esquecido. Deu emprego a João com a condição de que, se ele quisesse trabalhar, teria de arcar com impostos e diversas taxas em virtude das benfeitorias feitas por Mário.
João começou a trabalhar e tornou-se tão conhecido quanto Joaquim. Passou a tomar “uma” em lanchonetes limpas ou shoppings. Porém, no final do primeiro mês, João ficou bravo com Mário porque ele, João, não podia pagar a conta cobrada pelo governo. Revoltado, culpou Mário pelos impostos e quiz voltar a morar no Vale Esquecido e andar de jumento. Mas continuou bebendo “uma”…
Se os tempos de Pinheirão eram tão bons, que voltem pra lá! Se a “baixadinha” era melhor que a Kyocera Arena, que vão torcer no “velho” Couto. Mas deixem meu Atlético em paz! “Os Fanáticos” querem cerveja gelada, quibe sem mosca e títulos na Arena, pagando o que a torcida do J. Malucelli paga pra jogar o Parananese no Xingú! Está na hora de rever seus conceitos. Ingresso de graça, o Gionédis é quem dá! Olha onde tá o time dele.
Há divergências entre diretoria e torcida organizada. Ambos têm suas razões. Mas no caso dOs Fanáticos, já virou frase de filosofia: “Há razões que a própria razão desconhece”. Os Fanáticos está lutando pelos Fanáticos. Não pelo Atlético. Se como o lema da camisa diz “O Atlético nos une a união nos fortalece” Os Fanáticos estão segregando essa união. A torcida está buscando os interesses da torcida. Não do Clube. Os Fanáticos passaram a torcer pelos Fanáticos e não pelo Atlético.
O Atlético precisa dos Fanáticos pois quem ficou na Arena ontem percebeu que, sem eles, o Furacão e o Caldeirão padecem. Mas a torcida precisa entender que, sem o Atlético, ela padecerá!
Não sou contra a torcida, mas contra atitudes dela. Não sejam como o João!
A situação de constrangedora, passou a lamentável. Ontem chegou ao ridículo.