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22 mar 2007 - 16h56

Quem é ateu, e viu milagres como eu

Vitória 4 a 1! Foi uma tunda, uma sova e por ter sido na Bahia, terra do cacau, foi um autêntico chocolate, amargo, quase às vésperas da Páscoa. E ninguém esperava. Aliás, todos esperavam uma vitória do Atlético, alguns até esperavam uma goleada. Aliás, todos esperavam que o Atlético eliminasse o Vitória no jogo de ida. Todos esperavam isso, ou quase todos, pois eu não esperava.

Não pensem que minha incredulidade tenha algum travo de negativismo ou pessimismo, mas é que sempre achei que a euforia exagerada é a mãe de todos os fracassos e estávamos eufóricos demais. A euforia desmesurada nos fez acreditar que ganhar do Vitória, mesmo fora de casa, era tarefa das mais fáceis, principalmente pelo fato de a boa equipe baiana estar numa divisão nacional inferior à nossa. Enganamo-nos, iludimo-nos, entramos em estado de euforia e perdemos. Tudo muito natural, até mesmo o placar elástico, típico das noites em que nada dá certo para um time de futebol.

E antes que saiam por aí à caça de culpados, como fizeram os radialistas ao personificarem a derrota na carne do lateral Michel, é preciso lembrar que nada está perdido e que a vitória do rubro-negro baiano poderá – quem sabe – fazer a euforia mudar de lado. A euforia exagerada é a mãe de todos os fracassos e quem sabe esteja justamente nessa euforia baiana a chave que nos abrirá as portas da heróica classificação. Resta-nos esperar e torcer.

E como torcer é preciso, pois esse é o ofício de todos nós arquibaldos e geraldinos, cabe aqui lembrar que a vantagem baiana é algo que ainda pode ser revertido. Eu poderia aqui relembrar uma dúzia de jogos dentro da Baixada que foram os mais deslavados milagres a se revelarem diante de milhares de olhos incrédulos.

Poderia lhes dizer que em 1978 Ziquita fez quatro gols num clássico contra o Colorado, em apenas quinze minutos. Talvez lhes falasse que, num certo dia de setembro de 1996, Oséas, sob apupos irônicos dos adversários, meteu um golaço aos quarenta e sete minutos do segundo tempo, escalou alucinado três metros de alambrado e calou a boca de uma pequena massa verde e disforme que ameaçava crescer nas arquibancadas do velho estádio Joaquim Américo.

Poderia narrar aqui a façanha de um certo Alex que, em 2001, desembestou a fazer gols decisivos, vazando as defesas adversárias com uma “naturalidade sobrenatural”. E a gente vendo o Alex Mineiro marcando aqueles gols inumanos, sentia a alma vibrar dentro da carne e isso nos fazia mais vivos, e isso nos fazia mais atleticanos.

Eu poderia aqui falar de tantos milagres, mas acho que é esforço vão: quem é ateu, e viu milagres como eu, sabe do que é capaz o Atlético quando arrebata tudo e todos nos dias e noites em que é Furacão.

Ontem, Vitória 4 a 1! Foi uma tunda, uma sova, e é página virada. Dia 5 de abril, na semana da Páscoa, no solo sagrado da Baixada, terra de tantos milagres, pode haver um autêntico chocolate, dessa vez amargo aos baianos. É isso o que eu espero, é no que eu acredito, mesmo que muitos pessimistas digam que é impossível, mesmo que muitos já tenham desistido, mesmo que muitos tenham perdido a esperança.

Quem é ateu, e viu milagres como eu, sabe que os deuses sem Deus não cessam de brotar. E no solo sagrado da Baixada, palco de tantos milagres, já vi brotar deuses sem Deus que, com o demônio no corpo, botavam fogo no Caldeirão do Diabo e escalavam alambrados, e bradavam tanto, e marcavam tentos, e arrancavam prantos e mostravam pra gente que o Atlético é capaz de tudo nos dias e noites em que é Furacão.



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