26 mar 2007 - 16h49

Dante Mendonça escreve sobre o atleticano Leminski

O artigo do jornalista Dante Mendonça na edição desta segunda-feira dos jornais Tribuna e O Estado do Paraná faz uma homenagem ao Atlético pelos 83 anos comemorados nesta segunda-feira. E relembra que o maior poeta paranaense, Paulo Leminski, era rubro-negro. Confira:

"O poeta era atleticano
Dante Mendonça

Que nos perdoem os alviverdes e os tricolores; os escritores, poetas e trovadores de outras cores, mas nesta data querida para a torcida rubro-negra, temos um especial presente de aniversário de 83 anos do Clube Atlético Paranaense: Paulo Leminski ostentava no peito um coração atleticano!

Sempre cantando o hino do Furacão, com vigor sem jaça, o polaco nos legou o sangue forte, porque rubro-negro é quem tem raça, pode cantar com orgulho a galera da Baixada.

Três testemunhas confirmam o que a torcida rubro-negra tinha quase certeza. Acima de qualquer suspeita, o coxa-branca Luiz Antônio Solda é o quase irmão do poeta que não deixa a menor dúvida. Parceiro de mesas e letras, o cartunista Solda jogava no time do polaco Leminski, daqueles que torcem distraídos, só quando se trata de grande evento, um Atletiba decisivo, uma final de Copa do Mundo. Daí deve ter nascido o título de um dos livros do poeta: “Distraídos venceremos”. “Na verdade, Leminski não gostava de futebol. Deve ser por isso que ele era atleticano”, diz com ironia o cartunista, “mas sempre que o Atlético perdia, lembro bem, ele chegava na agência de propaganda onde trabalhávamos se lamentando. E isso era quase sempre, dava até pena, porque o Atlético daquela época era freguês do Alto da Glória”.

O publicitário e escritor Ernani Buchmann é outra testemunha acima de qualquer suspeita. “Infelizmente, Leminski era atleticano. Mas não vamos exagerar. Era um atleticano light.” Ex-presidente do Paraná Clube, várias vezes campeão paranaense, outro dos grandes orgulhos de Nani Buchmann foi ter merecido um poema do amigo Paulo, num dos raros versos do poeta dedicados ao futebol, senão o único. Está no livro “Não fosse isto E era menos Não fosse tanto E era quase”.

Pênalti para Nani quero a vitória do time de várzea / Valente / covarde / a derrota do campeão / 5 x 0 / em seu próprio chão / circo dentro do pão

Talvez em função desses versos, muitos sustentassem que o poeta fosse torcedor do Combate Barreirinha, ou qualquer outro time do campeonato suburbano de Curitiba, para não dizer de várzea. Vale o que está escrito, mas o poeta é um fingidor.

“Eu já sabia!”, responde o escritor Wilson Bueno, companheiro de prosa e verso do polaco desde os tempos do “Solar da Fossa”, no Rio de Janeiro. Bueno confirma que o autor do “Catatau” era atleticano; e que todo poeta canta a vitória do mais fraco, a derrota do mais forte em seu próprio chão.

Quando o piá Wilson Bueno chegou à Curitiba, direto de Jaguapitã (PR), o Coritiba era o campeão. O Atlético, um coitado. Desde então, o escritor é mais um atleticano desatinado. Nas tardes de futebol, estende três bandeiras rubro-negras em três janelas de sua casa no Boa Vista, o famoso “Palacete do Tico-tico”, para o ódio mortal do vizinho coxa roxo que mora em frente.

Atlético! Atlético! O poeta conhecia o teu valor. Não temia a própria morte, sentia que a camisa rubro-negra só se veste por amor."



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