Copa 2014 no Brasil. Uma temeridade.
De início, saliento que gostaria de ver uma Copa do Mundo no Brasil, especialmente em Curitiba, minha cidade natal. Contudo, penso ser uma temeridade a realização de um evento desse porte na atual conjuntura sócio/política brasileira.
Semana passada vi uma colunista desse site defendendo uma Copa de 2014 organizada por nós, brasileiros e, segundo ela, “não faremos uma Copa no estilo americano, japonês, alemão… faremos no jeitinho brasileiro, com defeitos, com falhas (…) mesmo sabendo que isso servirá de cortina para superfaturar obras, maquiar problemas e destinar verbas que deveriam ser aplicadas em educação, saúde, segurança e infra-estrutura exclusivamente na área esportiva”.
Como pode uma pessoa, em sã consciência, defender publicamente crimes de improbidade administrativa, desvio de verba pública, entre outros, em nome do famigerado jeitinho brasileiro? Esse comportamento permissivo é, na minha opinião, a razão da existência de tanta corrupção no Brasil. Esse é o eleitor ideal da grande maioria dos políticos brasileiros. Um eleitor que, inerte, assite ao presidente, num canetasso, liberar mais de cem milhões de reais para o término das obras do PAN 2007, cujo orçamento total pulou, misteriosamente, de R$ 900mi para R$ 2,5bi.
Se num evento médio, realizado em uma única cidade, já há coisas desse tipo, nem quero imaginar o que poderia acontecer em doze cidades, com doze governadores, doze prefeitos, centenas de deputados e vereadores brigando por uma parte das verbas e indicando construtoras de amigos para a realização das obras.
Ano passado tive a oportunidade de viajar à Alemanha para acompanhar a primeira fase do Mundial e tive a certeza de que o Brasil não tem capacidade para promover uma Copa do Mundo decente. Lá tudo funciona de maneira exemplar. Transportes, polícia, serviços, etc, não há absolutamente nada errado. Só para exemplificar, não há catracas nos metrôs e ônibus. Cada passageiro compra seu bilhete, põe no bolso e somente o utiliza se um fiscal pedir a sua apresentação. Lá não se admite desviar dinheiro público simplesmente porque o dinheiro é público, ou seja, não há motivo para lesar o próprio bolso.
Agora leio notícias de que o Sr. Onaireves Moura (cujo próprio passado o condena) pretende construir um novo Pinheirão e imagino quantos outros presidentes de federações estaduais têm esse objetivo. Imagino, também, um jogo de Copa do Mundo no Brasil: uma horda de ambulantes vendendo bebida e comida (preparada sabe-se lá em que condições de higiene) sem recolher um centavo de imposto; turistas japoneses desorientados, sendo roubados ao pedir informações na Rocinha, Diadema, Vila Pinto ou qualquer outra favela das capitais, etc.
Ninguém duvida de que o povo brasileiro merece uma Copa do Mundo, mas não sejamos hipócritas, é preciso botar a casa em ordem antes de fazer uma festa dessas.