Quem quer ser Paranaense?
Li algures, há tempos, uma parêmia latina que, segundo consigo lembrar -não a salvo de equívocos-, estava assim redigida: aquila non caput muscas, ou qualquer coisa assemelhada. Os detalhamentos ortográficos dessa expressão não me ocorrem agora, mas o significado dela me ficou muito presente desde então: a águia não apanha moscas, o que traduz a idéia segundo a qual pessoa ou pessoas que possuem inteligência mediana ou, daí para mais, não se preocupam ou não devem se preocupar com questões de somenos significação, senão com as que realmente avultam em efetiva importância.
Longe de pensar que o Clube Atlético Paranaense deva mudar de nome, penso que chamá-lo Paranaense, como o faz a mídia esportiva sul-americana, não é atitude assim tão excrescente ou herética como querem alguns, até porque esse Atlético é mesmo o Paranaense, aliás, como paranaenses somos todos nós -com certeza, falo por mim e pela maioria dos que nasceram nesta terra maravilhosa e que por ela têm respeito e estima -, com muito orgulho e satisfação.
Em verdade, ao menos neste atual momento por que passa o Rubro-Negro Araucariano -acho que vão me criticar por mais este rótulo-, o que não nos deixa nem um pouco orgulhosos é a performance do team nos últimos jogos, máxime naqueles que ocorreram dentro da nossa própria Casa. Particularmente, gostaria de um dia poder ver o nosso querido Furacão, por seu Capitão, erguendo nos braços, no campo do jogo, a Taça de Campeão das Américas, ainda que fosse -como certamente o será-, com o nome de El Paranaense, a ter de suportar ainda por muito tempo a amarga circunstância -que espero, antes, seja efêmera, isso sim- de vê-lo levar verdadeiros banhos de bola, dentro de seus próprios domínios, dos Botafogos, Fluminenses e Paranás da vida (com todo o respeito que nos merecem estes Clubes, em especial o último deles), em que pese continuar ostentando, com prioridade, nesse mesmo trágico contexto, o nome Atlético, como se tal proceder em si e tão-somente por si, fosse o único mágico condão existente e capaz de nos fazer encontrar, de repente, o verdadeiro caminho para atingir os nossos tão desejados sucesso e afirmação no cenário futebolístico nacional e mundial. Infelizmente, não é assim. O verdadeiro nome do Clube Atlético Paranaense, ao menos para os seus fanáticos e abnegados torcedores, é, ou poderia muito bem ser, Clube Atlético dos Apaixonados, pois, quer queiram quer não, nenhum outro Atlético, por mais antigo ou mais bem sucedido no passado que o Nosso, inspira o surgimento de paixão tão desenfreada e incomum no coração dos seus torcedores (e de nada adianta os detentores do monopólio da mídia esportiva nacional continuarem a nos chamar, por equívoco, de quando em vez -como sempre o fazem, mas com a deliberada intenção de nos colocar em patamar de importância menos elevado do que aquele em que supostamente se encontra o Galo das Alterosas-, de Atlético Mineiro. Não se enganem mais dora em diante, pois, ilustres cronistas esportivos do eixo-do-mal; basta se referir ao nosso Clube como sendo o Atlético dos Apaixonados (verdadeiramente apaixonados, eu diria)e ninguém mais vai pensar que se trata de outro Atlético a não ser o nosso, vale dizer, o Paranaense, o El Paranaense, enfim, o Furacão.
O que releva mesmo é a Paixão única e sem igual que temos por esse Clube, ou antes, o fato de haver ele, como nós, nascido aqui, no abençoado e fecundo chão do …mais belo astro a surgir em nosso cruzeiro….
Paranaense, serás luzeiro; avante para o porvir! Tua estrada a seguir, a exemplo do que ocorreu com a tua Terra Natal, será florida e escutarás, ao longo da certamente exitosa caminhada que empreenderás, as mais lindas canções. Quem plantará essas flores multicoloridas e comporá tão maravilhosas melodias são os que te amam verdadeiramente, seja qual for o nome pelo qual te chamarem., pois, afinal, como talvez dissesse Shakespeare caso vivesse em nosso tempo e no nosso Paraná, produziria o nosso Atlético encantamento menor caso lhe dessem outro nome, ou,então, perderia a mais bela de todas as rosa o seu viço e inigualável perfume caso alguém passasse a se referir a ela como sendo somente mais uma “flor”? Não; ela continuaria a ser aquela mesma rosa, mas, exatamente por ser tão diferenciada, mereceria tornar-se de todos conhecida, principalmente, pelo terra onde nasceu. Essa talvez seja a principal razão pela qual o nosso Atlético, pelo muito que ele significa para todos nós, não pode continuar sendo somente mais um Atlético dentre tantos outros Atléticos, ainda mais porque, aos hipócritas de permanente plantão, continua a interessar, ao sabor de suas conveniências as mais das vezes escusas e inconfessáveis, apregoar aos quatro ventos, de maneira indireta, sub-liminar e rasteira, a falsa verdade de que o nosso Atlético é meramente um Atlético de segunda hora, ou mesmo de segunda categoria.
Mas, o que pode nos ser mais importante do que aquilo que realmente somos, podemos vir a ser ou significamos? O nosso nome? Não; são os apanágios que adquirimos e os valores que cultivamos, pois serão eles que vão nos levar ao sucesso ou ao fracasso. Nesse toar, o nosso Atlético deve buscar, a partir de suas origens e da diferenciada e única paixão que inspira em seus torcedores, primeiramente, as suas verdadeiras identidade e individualidade, para, ao depois, ocupar, com definitivo ânimo, o espaço que somente a ele está reservado no futuro como Clube de Futebol. Quando chegar lá, tanto melhor será se o fizer como O Paranaense -afinal, ele é paranaense, ou não é?- e não somente como mais um Atlético, ou como o Atlético de segunda hora que, finalmente, também deu certo, como aquele imitador que acabou superando o imitado. Aí dirão, os mesmos hipócritas plantonistas da mídia hegemônica, por si e/ou por seus então eventuais sucessores: é mesmo uma pena que tanta glória não foi alcançada pelo primeiro e verdadeiro Atlético…”. É assim que eles agem; é assim que continuarão a agir.
Portanto, irmãos rubro-negros, sejamos, sim, Atlético até a morte; mas, antes de mais nada, Paranaenses, desde o nosso nascimento e não somente até a nossa morte, mas para além dela; pela eternidade que nos está a todos reservada.
Sermos Paranaenses, como se vê, não é tão difícil assim; basta termos um mínimo de personalidade e de boa vontade. Que tal começarmos a praticar um pouco?