Caindo na real?
Temos o costume de procurar refletir sobre algumas situações que acontecem apenas quando elas estão insustentáveis. Nós temos, mas parece que Eles não. Tenho a nítida impressão de que Petraglia em pessoa entende muito de administração, mas manja pouco ou quase nada do futebol propriamente dito. E tem o controvertido hábito de centralizar nele próprio todas as decisões de ambas as áreas, no que se refere ao gerenciamento do clube. E na área do futebol ele erra feio. Muito provavelmente por colocar os interesses econômicos (na minha forma de ver, talvez tenha sido a mola propulsora que o levou a interceder no Atlético em 1995) cegamente na frente de outras prioridades que brotam aos montes no gramado da Arena, sempre queimado pelo frio inverno curitibano.
Há tempos (podemos dizer que desde o final de 2004) que os times montados são ruins, mas a sorte que alguns tiveram, ao terem conseguido algumas campanhas razoáveis, deu a impressão para a diretoria de que o Atlético estaria imune ao temido rebaixamento. No entanto, um erro grosseiro de foco está desmascarando o amadorismo como o futebol do clube vem sendo tratado.
Costumo tentar dividir com quem eu gosto uma lição de vida: Não priorize metas muito distantes ou grandes demais. É importante tê-las, sim, mas não devem ser colocadas em primeiro plano. A probabilidade de nunca alcançá-las (ou demorar demais para obter êxito) é muito grande e acabam por se tornar uma receita rápida para frustrações que vão maltratando e deprimindo a pessoa. Ninguém suporta viver apenas administrando derrotas. Assim, procure viver saboreando as pequenas e médias conquistas, baseadas em objetivos mais palpáveis e próximos. Desta forma, as grandes surgirão naturalmente, como resultado de um processo de evolução. Esta mudança de pensamento (e de foco) me ajudou bastante a ver as coisas de uma forma menos difícil do que antes pareciam.
Tenho observado este erro de foco na gestão do Atlético. Quer conquistar a América sem ao menos garantir a hegemonia regional. Aí dizem e tentam convencer a torcida disso que o Campeonato Paranaense não interessa mais e que o negócio agora é a Sulamericana, a Libertadores. Ora, não é nenhum desafio ao intelecto perceber que diante de uma pavorosa queda para a Segundona só restará ao Atlético ganhar o Estadual e a obrigatoriedade de chegar entre os dois primeiros (como será obrigatório a partir de 2008) na série B, para tentar voltar à Primeira Divisão do futebol brasileiro.
No século passado fomos apresentados a um Petraglia alquimista e visionário. Antes dele, o Atlético era um clube que combatia forças como Sport e Guarani (que já possuíam títulos nacionais) nem sempre em igualdade de condições. Como verdadeiro um time da roça, a festa aqui era promovida unicamente quando Flamengo ou Corinthians visitavam a cidade. Era uma época romântica, mas amadora. Petraglia mudou muita coisa pra melhor. Tínhamos um estádio modesto, recém reinaugurado e batizado de Estádio da Paixão. O novo presidente teve peito de botá-lo abaixo e propor um novo projeto que ainda hoje nos orgulha (apesar de que já passou muito do tempo de concluí-lo). A transformação foi acontecendo gradualmente e nos levou ao tão sonhado título nacional.
Depois disso quase veio a América. E o continente não só seduziu a diretoria rubro-negra, mas a deslumbrou. O vice-campeonato da Libertadores e o vice-brasileiro surpreendentemente tiraram o Atlético do rumo. Acreditaram que qualquer time que montassem iria disputar títulos, incluindo os continentais. A verdade nesta afirmativa se apóia facilmente nesta nova campanha oficial que divulga o nome do Atlético como “Paranaense”. Não vejo mal nisso, até porque em âmbito nacional será sempre Atlético (está no hino, na mídia, na boca do povo…). Contudo, escancara um erro estratégico: repetindo, uma completa falta de um foco correto. A ausência de títulos (mesmo que seja do agora chamado réles Paranaense, como tentam nos fazer acreditar) é um terror pra qualquer time. Se não se consegue conquistar nada na vizinhança, como podem querer buscar prioridade nos títulos internacionais? Esta postura denota um grande desconhecimento das “coisas do futebol” e começa a suscitar suspeitas de que a administração do clube também não é tudo aquilo que dizem. Se aquela máxima “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento” estiver sendo aplicada no Atlético, está ficando claro que as nuvens negras continuarão em cima do clube. Mas parece que os raios caem apenas na cabeça do torcedor.
Existem muitos atleticanos com influência que estão fora da diretoria do Atlético. Alguns já estiveram lá dentro, outros se mantêm na órbita rubro-negra o tempo todo. Todos deveriam fazer uma espécie de mobilização antes que seja tarde. Um exercício legítimo do atleticanismo faz-se necessário neste momento. Erros estão acontecendo em cascata e acredito que há quem possa consertá-los. Resta ainda um fio de esperança de que haja humildade no diálogo. Ou não?