Na região do inferno
Algo estranho e sombrio percorreu o ambiente desde o início. O Beira-Rio encharcado, o campo escorregadio e o recuo insistente do nosso time, tudo anunciava a repetição dos fracassos recentes. No primeiro tempo, logo que a tela da tevê começou a exibir as divididas de bola, os escorregões e os carrinhos inevitáveis, já dava pra perceber que sua excelência adotaria dois critérios distintos. Para nós, a punição severa, o rigor na marcação de faltas; para eles, a tolerância, a interpretação condizente com as condições precárias do gramado em outras palavras, a liberação das botinadas.
Fomos prejudicados durante todo o jogo. Mas nada, a não ser uma sórdida e inexplicável invencionice, a não ser a má-fé explícita, a vontade de nos prejudicar, nada justifica o ridículo pênalti marcado no final. Tristes passagens por Porto Alegre. Na primeira, fomos massacrados. Chutes e cotoveladas gremistas arrebentaram dois dos nossos, impunemente. Agora, uma arbitragem desqualificada nos atira na região do inferno.
Não dá pra agüentar. Além da fragilidade do time, além das brigas com a diretoria do clube, além da urucubaca, além da tabela ingrata, além de todas as dores que nos afligem, vem esse cidadão e nos rouba um ponto, para dizer o mínimo!! Tem armação, sim, tem esquema, sim, tem jogo de interesses, sim. Como pensar diferente se os erros só vêm contra nós? Para quem discorda, ou acha que tudo não passa de teoria conspiratória, fica o desafio de apontar alguma falha de arbitragem, uma só que seja, que tenha acontecido em nosso favor.
Precisamos de muitas vitórias para escapar da degola. O problema é que as mudanças de técnico não mudam o estilo de jogo. Nossos atletas parecem acuados, com medo de atacar. Permanecem atrás, plantados nas proximidades da área, como se tivessem por objetivo único retardar o momento do gol adversário. Não há perspectiva de reação. Não se ouve nenhum grito, nenhum basta. Não se percebe nenhum pacto de mudança.
Transformamo-nos em personagens de uma tragédia, de um pesadelo que se repete a cada ano, a cada tentativa de imposição de modelos que pisam em nossa história. Hoje, somos sombra do passado, rostos amargurados à espera de um milagre.