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9 jul 2008 - 10h46

Divisor de águas

Passadas nove rodadas do campeonato brasileiro, quase a metade do primeiro turno, e vemos o Atlético instalado na oitava posição, superando outras doze equipes, estando a três pontos da zona do rebaixamento, a dez pontos do líder e a cinco pontos da zona de classificação para a Libertadores.

Esta posição traduz bem a campanha regular que o Atlético vem fazendo até o momento: três vitórias, três empates e três derrotas. Dez gols a favor e oito contra.

Ainda é muito cedo para tirarmos conclusões em face das estatísticas deste início de campeonato. Mas uma coisa é inegável: o Atlético até que faz boa campanha se considerarmos o melancólico final de campeonato paranaense.

Eu e muitos atleticanos, de modo realista, ao iniciar o campeonato brasileiro víamos o Atlético como um sério candidato ao rebaixamento dado o modo apático como perdemos aquela decisão e dada a pouca qualidade do elenco.

Mas eis que a diretoria, tão amada por alguns e tão criticada por outros, resolveu finalmente agir em prol do futebol: demitiu o pacato Ney Franco após a segunda rodada do campeonato brasileiro e o substituiu pelo belicoso pernambucano Roberto Fernandes cujo lema “treino é jogo e jogo é guerra” trouxe entusiasmo a alguns e desconfiança a outros. Também acrescentou e vem acrescentando ao grupo jogadores de todas as idades, estilos e nacionalidades: experientes como Kelly e Fernando, habilidosos e com vocação para o jogo ofensivo como Márcio Azevedo e Joãozinho, o paraguaio Julio dos Santos e os repatriados Fahel, Júlio César e Rafael Moura. Se estas contratações resolverão o problema crônico da falta de qualidade do time, só o tempo e os resultados dirão, mas está sendo louvável o esforço da cúpula rubro-negra para melhorar a qualidade do time atleticano.

Além disso, para alegria de todos, trouxe de volta o ídolo Ferreira, que, por sinal, nunca deveria ter saído. Se ele e Claiton…

Muitos desses jogadores recém-contratados ainda não puderam estrear e muitos ainda estão sem ritmo de jogo. Independente disso, Roberto Fernandes vai usando o que tem e o que pode contar para os jogos. Particularmente gosto do estilo agressivo que ele tem e que se reflete nas escalações, quando o time joga com dois zagueiros e três atacantes.

Quando ele puder contar com as peças certas e com jogadores em boa forma física e técnica, confio que teremos time para disputar as primeiras posições do campeonato.

Muitos criticaram o técnico por optar por um esquema tático com apenas dois zagueiros e que este esquema estaria sobrecarregando o trabalho dos volantes de marcação. Não concordo com esta visão. O problema é que os zagueiros não estavam acostumados com esse posicionamento, pois vinham de longa data jogando no 3-5-2 e, além disso, alguns jogadores na defesa estão é mesmo jogando mal, muito abaixo do que podem, como Danilo e Valencia. Danilo até que melhorou muito o rendimento no jogo contra o Santos em relação às partidas anteriores, mas o Valencia!!!! O que aconteceu com este colombiano que está parecendo mais um becão de algum time perdido do interior do Paraná e não aquele craque que entrou no time titular no campeonato passado e não mais saiu ? Deve estar acontecendo algum problema, porque o rendimento dele caiu terrivelmente: já vi ele dar furadas, tomar dribles desconcertantes e fazer faltas tolas, sem necessidade. Um banco de reservas cairia bem para ele agora.

Quem criticava o Roberto Fernandes tem de concordar que a vitória contra o Peixe saiu de uma boa alteração que ele fez para o segundo tempo: colocou o Fahel no lugar do Irênio, reforçando a marcação no meio campo, liberou mais o Nei na ala com o Julio dos Santos encostando pela direita e a grande sacada: fez do Alan Bahia um ponta-de-lança sem muita preocupação na marcação e liberando o 7 atleticano para atacar. E esta mudança tática foi fundamental para o triunfo atleticano por um a zero gol do próprio Alan Bahia. Hoje o Alan Bahia, com seus chutes precisos de longa distância, suas cabeçadas fulminantes e seus toques rápidos é a melhor opção de gol para o Atlético. Vide os cinco gols que marcou até agora. Simplesmente metade dos gols anotados pelo Atlético neste campeonato.

Assim como fizeram São Paulo, galo e coxa, o Santos poderia até ter empatado no final. Mas felizmente Galatto (que com mérito ganhou a camisa titular) estava inspiradíssimo e fez milagres debaixo das traves. Não teve nada a ver com esquema. E Roberto Fernandes na entrevista após o jogo com o Santos já deu uma pista para quem estava comemorando a volta do burocrático 3-5-2: ele só entrou com o Rhodolfo porque preferiu utilizar mais um zagueiro e sacar um volante de marcação. Provavelmente na próxima partida teremos novamente os dois zagueiros.

O problema maior não é a defesa, seja no esquema com dois ou três zagueiros. Até a oitava rodada a média de gols tomados era de um gol por jogo. Razoável se considerarmos o nível dos adversários. O problema é a armação no meio e o ataque. Tirando o atípico jogo contra o Goiás, foram apenas cinco gols em oito jogos. E nesses setores do campo dois jogadores estão devendo muito: Netinho e Marcelo Ramos. Não sei o que acontece com o Netinho. Corre o campo todo, cobra falta, bate escanteio, lateral, gesticula e sua muito. Com um pouco de boa vontade dos mais antigos como eu, lembra um pouco o futebol do Dirceu ex-Vasco e Botafogo. Mas chega lá pelos quinze minutos do segundo tempo e você percebe que ele está extenuado, morto, andando em campo, perde todas as divididas, perde as jogadas, erra passes e quase sempre é substituído. Creio que toda essa energia dele seria melhor aproveitada se ele jogasse mais na frente e não no meio. Marcelo Ramos é outro que parece que esqueceu o bom futebol em algum lugar e ainda não o reencontrou. Torci muito para que ele fizesse aquele gol contra o Santos naquela bola que o Fábio Costa espalmou, mas independente disso não concordo com a sonora vaia que ele tomou quando foi substituído. Eu vejo o jogo e ele corre, só que já faz tempo que ele não tem um parceiro decente para tocar a bola. Se a fase é ruim, tudo bem, o time pode tomar várias medidas para que ele recupere sua melhor forma e volte a ser aquele artilheiro que colaborou e muito para que o Atlético não fosse rebaixado o ano passado (lembram-se dos gols contra o Paraná? Lembram-se do passe para o Pedro Oldoni contra o Palmeiras?) e teve boa participação no campeonato paranaense desse ano. Ele não merecia aquela manifestação da torcida. Aliás, já não é de hoje que a torcida atleticana queima jogador na Arena. Se é bem verdade que a torcida ganha jogo, ela pode também influir no ânimo de um jogador e tem muito jogador que não deu certo no Atlético e hoje brilha com a camisa de outros times por causa da intolerância e da pressão absurda que muitas vezes a nossa torcida faz.

Bem, mas o importante é que o futuro não é tão negro quanto parecia no começo do campeonato. Roberto Fernandes já provou que é competente e conseguirá montar um time para disputar o título. Hoje o elenco é forte, diversificado e acredito que quando os jogadores estiverem no seu pleno potencial, teremos muitas alegrias. Os adversários não estão tão superiores assim. O líder é o Flamengo e um dos times na área da Libertadores é a nossa sucursal, o Vitória de Dinei, Ramon, Viáfara e cia. Dá pra chegar lá. Projeto que lá pela décima quarta rodada todos os jogadores estarão em forma, Roberto Fernandes terá um time titular azeitado, com boas opções de banco e estaremos entre os primeiros.

Também virá a janela para o exterior e a gangorra vai entrar em ação: muito time que está na frente pode terminar nas últimas posições devido à perda dos seus melhores jogadores. Torço também para que os nossos melhores jogadores permaneçam por todo o campeonato, mas…

Se é bem verdade também, que como muitos dizem, estamos disputando um campeonato à parte com o coxa, a surra de cinto que o Internacional deu naquela garotada mimada colocou tudo no seu devido lugar (hahaha!. Acho que se fizessem um concurso para eleger o goleiro mais espalhafatoso numa cobrança de pênaltis o E.Bastos ganharia longe).

Na próxima rodada o Atlético terá um osso duro de roer: o Fluminense é lanterna, mas não se enganem: todos sabem que o tricolor carioca não chegou por acaso numa final de Libertadores e é um gigante ferido e que vai procurar sair de todas as formas da posição em que está. O Atlético terá uma difícil missão, mas com paciência e concentração poderá sair do Maracanã com um bom resultado. Esse jogo é como um divisor de águas: se sair com um empate ou uma vitória o time pode adquirir mais confiança e ganhando do Inter domingo na Arena vai embalar para as rodadas seguintes. Se perder, terá de ganhar do Inter para não se aproximar da temida ZR.



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