Respeito
Freqüentemente, em uma discussão sobre futebol, quando os ânimos se exaltam surge a frase clássica: ‘Você deve respeitar a história de determinado time!’
Mas o que seria este respeito?
Seria demonstrar que teme o adversário? Seria um tipo de ética que impede qualquer crítica ou comparação?
Porém, antes de responder esta pergunta, é interessante abordar outro adjetivo moralmente morto, o ‘clube grande’.
Esta palavra somente surge da boca do torcedor, para seu próprio time, ou então em uma aliança temporária entre dois adversários em discussão com um terceiro.
Porém isto deixou uma marca tão forte, que a imprensa se apossou deste jargão para manter uma mística que se criou sobre o futebol do século passado, quando o esporte, ainda tratado de forma amadora, concentrava os seus holofotes, e toda a atenção da população, para os times cariocas, seguidos posteriormente pelos paulistas. Fato este atribuído pela maior concentração habitacional nestas cidades e amplamente apoiado pelo fato das grandes empresas de mídia estarem sediadas nestas cidades.
Ocorre que o futebol evoluiu, se profissionalizou, e diminui drasticamente o distanciamento técnico existente entre equipes das várias regiões do País, trazendo consigo novas forças oriundas de regiões menos badaladas.
A partir dos anos 90, times de menor expressão foram se estruturando e montando equipes com nível técnico equivalente ou até superior, competindo de igual pra igual com os ‘grandes’ times do passado.
Este é um processo gradual, e cada região desenvolveu-se em seu tempo. Talvez a primeira exótica a despontar tenha sido Minas Gerais, seguida por Rio Grande do Sul e mais recentemente o Estado do Paraná vem mostrando sua evolução.
Este fenômeno foi aos poucos acabando com a mística dos tímes invencíveis e temidos do eixo RJ-SP, mas a imprensa regional ainda necessita de um argumento para justificar a suposta superioridade destas equipes, mesmo em tempos de uma evidente e inevitável equiparação técnica entre os clubes de primeira linha de todo o Brasil.
A história de tantos clubes brasileiros não é menos respeitosa do que a de qualquer clube ainda considerado grande pela mídia (e por sua própria torcida, é claro!), talvez a única diferença é que não tenham sido tão divulgadas pela imprensa.
Hoje é muita ingenuidade pensar que a camisa do Flamengo, Fluminense, São Paulo, Palmeiras e outras equipes faz alguma pressão sobre o time ou os torcedores adversários. Falo de quem eu conheço melhor, o Atlético Paranaense e sua torcida, mas tenho certeza que o sentimento é o mesmo no resto dos clubes brasileiros.
O respeito, tão desesperadamente exigito por alguns, hoje não se compra mais com história e camisa, se impõe com equipes fortes.
Respeito por camisa se tornou uma das maiores desculpas criadas para tentar manter a força de clubes que montam equipes fracas, nada mais que isso.
Algumas equipes do eixo já acordaram para as mudanças e investiram em estrutura, para poder fazer frente à evolução do futebol brasileito e tentar manter seu status de grandes forças nacionais.
Os que não acordarem, estão fadados a viver neste romance histórico e continuar esbravejando que são ‘grandes’… para eles mesmos ouvirem!