Onde está o Atlético?
Depois do domingo, resta-me encarar o Atlético como uma abstração. Não sei onde foi parar o clube dos meus sonhos de menino, o clube das cores fortes, da alma e da raça. O Clube Atlético Paranaense não esteve no Mineirão, como não esteve em nenhum estádio de nenhum lugar desde o seu último suspiro de vida, numa final de Libertadores. O que se viu ali, no Mineirão, pela enésima vez, foi um emaranhado de burocratas conformados com a mediocridade das derrotas em série. Muitos deles se despedirão quando terminar o campeonato. Farão uma parada no guichê para receber o prêmio pelo rebaixamento sem luta. Outros ficarão. Nós permaneceremos atônitos, olhos petrificados, à espera de respostas que nos devem há três anos, pelo menos.
O Atlético virou lembrança, álbum de imagens distantes, quase apagadas, de um tempo em que amar não era proibido. Não sei onde está, neste momento, o Atlético da superação, da busca pelo impossível, da dedicação incondicional, da paixão eterna o clube da camisa rubro-negra que só se veste por amor. Seqüestraram-no, os oportunistas e aventureiros, os executivos arrogantes, escravos do ódio e do dinheiro. Então, o que eu vi no domingo, num Mineirão melancólico e vazio, pode ser qualquer coisa, menos o Atlético. O que eu vi no domingo foi uma legião de mortos-vivos, vestida com trapos alvi-rubros, se arrastando pelo gramado.
Os donos dessa caricatura de time, os personagens grotescos do circo de horror patrocinado pela ganância e pela loucura, os picaretas de todas as estirpes, os feios, os bonitos, os engravatados, os maltrapilhos, os que não gostam do Atlético, os que se aproveitam do Atlético, os que vilipendiam o Atlético, nenhum deles poderá permanecer no Atlético. É preciso resgatar o Clube Atlético Paranaense, devolvê-lo àqueles que o amam verdadeiramente, desinteressadamente. Trazer de volta o espírito de Joaquim Américo e Jofre Cabral e sepultar o projeto centralizador de uma ditadura que agoniza.