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1 set 2008 - 22h39

O fim

A última esperança que restava foi fulminada no domingo. Na noite triste que se iniciava, eu vi milhares de pessoas cabisbaixas, com olhares fúnebres e sem direção. Eu vi o cansaço nos rostos, o cansaço supremo que aos poucos ocupa o lugar da revolta, que vence os gritos aflitos e loucos da multidão incontida. O Atlético desapareceu. Agora é fraco e apagado também em sua casa, a outrora temida Baixada, o antigo Caldeirão do Diabo, o velho estádio Joaquim Américo. O Atlético não dá sinais de vida, respira por aparelhos. Conseguiram transformá-lo em caricatura. Emporcalharam a sua história, roubaram-lhe a alma, transformaram-no em escritório de transferências de atletas e ex-atletas.

Quando me dei conta do torpor que se abateu sobre a torcida – e sobre mim, que já não sei o que sinto, posto que me secaram as lágrimas –, meu peito se apertou. Não existe time pior do que o nosso no campeonato atual. Não apenas pela qualidade sofrível dos jogadores, mas pela absoluta falta de sangue em suas veias. Ninguém joga tão frouxamente como o Atlético. Daí a certeza do rebaixamento. E que é pior: do rebaixamento sem luta.

A última esperança éramos nós, a torcida do Atlético. Mas nosso repertório secou. Lotamos o estádio, soltamos a voz, carregamos nossos peitos de esperança… e nada. Perdemos na Baixada como perdemos em qualquer lugar do País. Viramos saco de pancadas, garantia de três pontos para o adversário da vez. Vergonha para um clube que se apresenta como modelo de administração.

Muito foi feito nos últimos anos, dirão os otimistas inveterados. E lançarão frases prontas sobre a excelência do centro de treinamentos, sobre o conforto do estádio, sobre o superávit financeiro do clube. E contarão a História como se a era Petraglia fosse o marco zero, como se nada de importante tivesse acontecido no período anterior aos últimos treze anos. E farão reverência ao lendário “soco na mesa” do então postulante a ditador. Muito foi feito, é verdade, mas pagamos um preço alto por isso.

Tudo o que está acontecendo me faz lembrar do sofrimento que nos foi imposto desde que o centralismo, a arrogância e o ódio se instalaram no clube. Vejo a figura empolada e extemporânea de um Fleury chamando torcedores de bêbados, num discurso carregado de preconceito e má-educação. Vejo a expressão nervosa do Grande Chefe a cada crise instalada, prometendo que seríamos os melhores, que atingiríamos patamares nunca imaginados, que acumularíamos vitórias e títulos – promessas esmagadas pela formação de times medíocres. Vejo a contratação de técnicos bizarros, a perda de campeonatos e a torcida quebrando cadeiras num acesso de fúria contra a repressão. Vejo as bandeiras proibidas, a alegria proibida, a cerveja proibida, o batuque proibido… Vejo tudo isso e sinto nojo da cartolagem que nos submeteu a um regime de violência institucional.

Quando fomos campeões, havia muita gente trabalhando pelo Atlético e no Atlético. Havia conselhos que funcionavam, havia unidade de princípios e objetivos, havia força coletiva. O Grande Chefe, ao que parece, jamais suportou a glória dividida com aqueles que armaram o grande time dirigido por um grande treinador. Por esse motivo, ou por outro qualquer, ficou sozinho depois da conquista. Sozinho, colecionou fracassos. Sozinho, se prepara para colher o fruto derradeiro de uma gestão que maltratou o futebol, a razão de ser do clube.

Ao Grande Chefe, as batatas que lhe cabem: a segunda divisão é a sua obra, exclusivamente sua.

PS.: Sou um torcedor, apenas. Nessa condição, ainda não desisti, apesar do aparente pessimismo. Acompanharei até o final o enredo trágico que se anuncia. Caso o resultado seja diferente do previsto, ficarei feliz. Comemorarei a permanência do clube na primeira divisão, sem abandonar as críticas que entendo necessárias para que o Atlético deixe de ser caparanaense.



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