Seriado mexicano
Quando eu digo que a filosofia de trabalho desta diretoria é idêntica à da fase mcpista – portanto não há solução de continuidade alguma – não demora muito e aparece um fato novo a confirmar esta verdade para os que ainda não acreditam nisto, pois adormecem na ilusão sonhando acordados com os inéditos produtos trazidos ao consumo. Porque eu já me enojei do enredo deste jacu e malfeito seriado mexicano: não é novela, porque nunca apareceu nos seus quatrienários capítulos uma gostosa sequer. Perde até para o Chaves, porque lá ao menos tem a Chiquinha. E se beber um pouco, vai até a dona Florinda. Igualmente, dói assistir. Não somos SBTontos.
Fiéis à adaptação da Lei de Lavoisier para a TV, na base do nada se cria, tudo se copia, fizeram tal qual ano passado: abordagem no bem classificado Náutico e rapto de seu técnico, na tentativa de inventar uma revelação, como se o intuito da ocupação deste cargo fosse semelhante ao do lançamento de jogadores da base. O poder sulista da grana que subitamente apareceu feito mágica na Cartola, a urgentemente superar o salário nordestino. A quantidade aduz magia, sedução, quase erotismo. Envolto pela mesma estória, desce lá de Pernambuco mais um mercenário da prancheta, itinerante que vem e abandona seu povo que fica a ver aviões em direção à Cidade Luz.
Como se isto fosse ético.
– Mas pra quê, se não existe ética no futebol?
Então é isso aí, em Roma façamos como os romanos. Em Brasília como os políticos. No cárcere, como o pior dos facínoras. Na Cat’s como seus freqüentadores. Usemos a tática são-paulina para agregar mão de obra. Afinal, eles têm sucesso, não importa a que preço.
Como se isto trouxesse bons frutos, boas conseqüências, consciência limpa, sono tranqüilo.
No mais puro estilo situação, o repeteco da vinda de mais um modesto, agora de novo da gema. Aliás, seu único título foi o Carioca de 2002 pelo Fluminense, além dos dois subs (17 e 20) pela seleção brasileira. Está no seu 4º brasileirão, totalizando 49 jogos até agora. Baita bagagem: Mesquita, São Cristóvão, Goytacaz, Flu-B… visão moderna: Mengão, Cabofriense, Paulista, Joinville, Náutico. Discípulo do irmão Oswaldo e de Simões Auto-ajuda.
Discernindo como se deve, não há de se crucificar o sujeito antes do início de seu trabalho por aqui. Deve ter o respeito de todos, bem como as chances e condições necessárias para tanto, coisa que Geninho não teve tão suficientemente quanto o último timbuense que por aqui passou, e arrasou, a nossa paciência. A questão é outra.
Definitivamente não é o cara que o Atlético requer neste momento. Pode até dar certo, mas haveria de ser alguém muito mais capacitado, de ponta, com uma vasta experiência. Um time que está há 4 anos escorregando pelas valetas, beirando o abismo, passando vergonha e humilhação dentro de casa, desprezando a consideração para com sua Torcida, assistindo perebas, grossos, mercenários e irresponsáveis vestirem nossa camisa, engolindo discursos que tentam mascarar a incapacidade, vítimas dos interesses particulares da malandragem de plantão, que só visa o poder.
Concluo então que, tomada esta medida nesta forma, a apresentação teatral tem seu seguimento, agora com mais um ato da peça transcrita televisiva que culminará na volta do Rei. Tudo preparado para o retorno. Que nada mais é do que a continuação do ciclo.
O ciclo dos dirigentes cambaleantes, que decididamente não sabem operar um departamento de futebol, muito pelo erro crasso no direcionamento de recursos. Economizaram mais uma vez no técnico, mas pagam uns 10 jogadores horríveis que não valem dois. Preparação física e de goleiros completamente ausente. Marketing decadente, haja vista o que nos expõe na tela como produto.
Sinceramente, tenho pena dos atleticanos que pagam o mesmo que eu para ver os jogos, mas que vão ao estádio. Porque lá o sofrimento é maior. Aqui eu desligo a TV e vou imediatamente fazer outras coisas. Lá o coração tem de ser mais forte, não só pelo presenciamento in loco da vergonha, mas pela demora a voltar para casa com ela na cabeça. E o que dizer do coração…
Enquanto este establishment se mantém, eu fico por aqui. Recuso-me ir para um local onde as pessoas ESTÃO SENDO ENGANADAS em função e em detrimento de sua paixão. Os mesmos que tratariam o Clube como empresa, ainda tratam seus clientes como clientes. Paguem e no máximo torçam, mas não venham reivindicar, porque a Arena está aí e o CT também. Vocês já têm o que merecem, o que vier de agora em diante, é lucro. Levam o presente com o argumento do passado.
A contratação de Waldemar Lemos foi literalmente sem querer querendo… a volta dos reprises de uma estória que poucos conhecem, alguns duvidam, mas muitos ignoram. Ignoram porque crêem que eles têm o mesmo amor que nós temos pelo Atlético.
Crença não se discute. No Oriente Médio se mata por ela. Aqui simplesmente se segue. Ou não.
Eu não. Sigo em outra direção, mas continuo não acreditando nesta gestão do CAP, no seu 4º ano de exibição. A gestão da ingerência, da incompetência, do discurso e da malandragem. Da venda do enlatado, rotulado como cult mas que por dentro é trash. Da não identificação com as cores do rubro-negro, pois ontem era Yamato, hoje é Bolicenho. Da dispensa de gente que presta e da perpetuação dos imprestáveis.
Gestão da administração em crise permanente, sem patrocínio nem projeto. Da cultura da emergência no lugar da prevenção. Do vai mas não vem dos bons profissionais. Das lacunas, dos labirintos e do Minotauro que a gente não vê, mas sabe que existe. Porque há medo. Medo de jogar, de atacar, de inovar, de acertar, dispensar, contratar e até de mostrar. Do paradoxo: estrutura profissional versus mediocridade amadora.
Seriado é estorinha para quem gosta de televisão. Aos mexicanos o que é de Chaves. O Kiko nós temos a ver com isso? Muito. Porque conhecemos os conselheiros. E relutamos em pedir a eles que cumpram suas obrigações de conselheiros. Chegamos ao cúmulo de ter que fazer isto, solicitar que exerçam sua função. Eles que devem exigir uma AUDITORIA no Clube. Senão, sua conivência implicará suspeita.
A não ser que sejam passivamente indiferentes com o futuro do Atlético, que depende diretamente do que foi feito ontem (domingo), do que se faz hoje (domingo) e do que farão amanhã (também domingo). Por que não reconhecem que as coisas a se fazer no CAP são todas para ontem? Ou se mexem, ou mexem-se.
Para isto estão lá, de ladinho com a cúpula. Tiveram seus nomezinhos elencados na vitória da chapa de situação. Resta saber se haverá lista de co-responsáveis se o time vier ao descenso, de tanto que estão errando. De tanto que estão arriscando. Arriscando com um sentimento alheio, digo, arriscando como um sentimento que não é deles, mas sim nosso, da TORCIDA DO CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE.
Moral da história: apesar de nós sermos o Atlético, ele não está mais nas mãos dos atleticanos.