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3 ago 2009 - 20h23

O pessimismo (ou otimismo) nosso de cada dia

Enquanto isso na Boca Maldita, típico local e ponto de encontro curitibano, dois atleticanos comentam a vitória em Londrina. É mais uma segunda-feira de discussão sobre o fim de semana esportivo; outra chance de cornetar o time, xingar o juiz, criticar o presidente e projetar a próxima rodada.

– E agora “vamo que vamo”! O delegado voltou!
– Antonio Lopes? Aquele que achava o Dinei e Marcelo Madureira craques?
– Não, aquele que nos levou a final da Libertadores!
– Mas não é o mesmo? Só falta trazer o filho dele, que ajudou a rebaixar os coxas.
– Que que é isso! O filho dele ganhou duas dos coxas no Paranaense esse ano, duas no Couto!

Nisso, a conversa esquenta. Bebendo o cafézinho matutino habitual desde 1968, ano de Jofre Cabral e Silva, o senhor de cabelos brancos e óculos estica o pescoço e ativa a escuta seletiva para acompanhar melhor a conversa.

– Ah, mas agora o time melhora! Mandamos as “laranjas-podres” embora e temos uma garotada boa…
– É, só falta jogador. Se duvidar nem pra fechar 11 contra 11 no coletivo tem. E não sei se confio nessa base aí. Esse negócio de “qualidade não tem idade” é balela. Se os caras fossem mesmo bons já estavam na Europa. Veja o Alexandre Pato!
– Mas mesclado com a experiência de Paulo Baier e Alex Mineiro esse time vai dar caldo!
– O Paulo Baier? Me diz o que esse cara fez de bom no Atlético. Se existisse kicker no futebol, aí tudo bem, ele entrava pra bater falta. Já jogávamos com um a menos com o Netinho. De volta não! Há duas semanas ninguém queria ele e já estavam aposentando…

Agora foi a vez da estátua humana – totalmente imóvel – cair na armadilha da lábia alheia. Traída pela curiosidade, movimentou os olhos suavemente em direção a dupla. O menino de boné e bermuda (mesmo no frio curitibano) que antes admirava o auto-controle da “estátua”, pega de volta a moeda que havia depositado na caixinha.

– Olha, eu prefiro ter o pensamento positivo. O Lopes vai botar ordem na casa, os caras vão treinar e essa piazada vai arrebentar. Anota aí meu amigo! E temos, sempre, a Baixada, e a nossa torcida, e a nosa vibração, e o nosso apoio.
– Pô meu, a gente ganha do Fluminense, lanterna, a você já fica todo feliz da vida?
– Ué, e vou ficar reclamando como você? Lá em casa já chega a reclamação da patroa e da filharada. Se eu entrar nessa, todo mundo surta de vez… E ganhamos do Fluminense, mas ganhamos. É pra você ver como tem time ruim nesse campeonato.
– É, quem sabe nisso a gente concorda. Quem sabe vai, né? Quem sabe a gente ganha umas partidas, aí todo mundo se motiva, o elenco cresce, essa garotada joga bola… Vou começar a pensar positivo.
– Olha cara, não sei. Só sei que esse ano tô com medo. Esse time é fraco e precisa de reforços.

Há menos de dois metros de distância, o senhor de cabelos brancos e óculos, aquele do tempo de Jofre Cabral e Silva, refletia. Se considerava uma pessoa racional (e às vezes até demais). Era do tipo que olhava o vazio antes de emitir sua opinião, que ponderava todos os aspectos do ponderável. Era aquele que chamavam de sábio, não tanto pela inteligência, mas certa e justamente, pela racionalidade ao projetar suas ideias.

Pensou, esforçou-se, pensou novamente: “Mas como pode, os dois, tão antagônicos e contraditórios, estarem certos? Como pode num dia Paulo Baier ser o pior em campo e no outro decidir um jogo? Como pode aquele que era pessimista virar otimista e o otimista recair nas armadilhas sombrias do pessimismo para mudar a opinião?”

Naquela manhã curitibana gelada mas com céu azul (depois de muito tempo), aquele senhor de cabelos brancos e óculos já gastos, aquele do tempo de Jofre Cabral, aprendeu uma das lições que só a emoção do futebol pode nos ensinar: quando a bola rola, não existem mais verdades.



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