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7 ago 2009 - 21h54

Relembrando

Caros irmãos rubro-negros:

Em 19 de junho de 2007, portanto, há mais de dois anos passados, escrevi o texto a seguir, que na ocasião foi publicado no ‘Fórum’ – está lá para quem quiser ver -; transcrevo-o agora, adiante, em homenagem ao autor do texto ‘Bizarro’:

”Paranaense’; ser ou não ser?

O meu maior defeito – reconheço -, é ser um ‘paranaense’ radical. Ao longo da minha vida, o quanto pude e nas oportunidades que para tal me aconteceram, sempre procurei enaltecer as coisas que são nossas, vale dizer, tudo o que diga respeito ao nosso Estado. A par disso, sempre tive a mais absoluta consciência de que jamais conseguiremos ser, por exemplo, como os gaúchos ou os baianos, pois, em verdade, enquanto unidade da federação, somos a síntese de todo este nosso Brasil (o fenômeno se explica pela nossa própria colonização: gaúchos e catarinenses no oeste e sudoeste; paulistas e mineiros no norte; asiáticos e europeus aqui e ali). Somos, por assim dizer, uma ‘terra sem bandeira’. Corporificamos uma espécie de ‘unidade na diversidade’. Lembro-me que um ilustre historiador paranaense, a quem tive o privilégio de conhecer pessoalmente já com idade avançada, doutor Oney Barbosa Borba, de Castro-PR, num de seus vários escritos, ao discorrer sobre os apanágios pessoais de nossa gente, afirmou que tínhamos uma maneira singular de ser, absoluta e diametralmente oposta àquela que caracterizava praticamente todos os demais brasileiros; dizia ele que, quando alguém de nós se aventurava a ‘fazer vida’ em outro Estado, encontrava inúmeras e invencíveis dificuldades para fazê-lo, pois, quando lá chegava, sequer lhe davam informações sobre o local onde poderia ‘comprar um cavalo’ para se locomover, enquanto que nós, a qualquer adventício que aqui viesse a aportar, não raro, fornecíamos, gratuitamente, ‘o cavalo já encilhado e alimentado’. Essa é uma característica que temos e, sem a mais mínima dúvida , ligada às raízes colonizadoras do nosso chão. Boa ou má, certa ou errada, ela existe.

Diante, assim, dessa realidade, mesmo que definitivamente convencido que é impossível mudá-la pura e simplesmente por óbvias razões – é mesmo inimaginável que você consiga fazer um jovem que nasceu, por exemplo, em Maringá, torcer para o Atlético, para o Coxa ou para o Paraná, ou mesmo para o ‘Galo Maringá’, quando os pais ou mesmo os avós desse mesmo jovem sejam originários de São Paulo ou de Minas Gerais -, continuo a sonhar com a possibilidade de, a médio ou longo prazo, vermos finalmente exsurgido entre nós, apesar dessa mesma realidade, um sentimento ‘paranista’ (no bom e mais abrangente sentido). Não que isso seja tudo trágico em si mesmo, mas, convenhamos, do ponto de vista mercadológico e/ou comercial, por exemplo, é catastrófico. O Petraglia tem razão quando afirma que o nosso ‘mercado consumidor’ (do nosso Atlético) está restrito à metade da Capital e parte significativa de nossa região metropolitana e litoral, enquanto que, no Rio Grande do Sul, por exemplo, metade de toda a população torce para o Grêmio e a outra metade para o Internacional. A partir daí começamos a entender porque cada um desses Clubes gaúchos possuem, no seu quadro associativo, cerca de 70.000 cadastrados, enquanto que nós, mesmo com a conquista do título nacional em 2001, jamais conseguimos cadastrar mais de 5000. Penso que o ‘marketing’ que então está sendo empreendido pelo Atlético e com o qual muitos não concordam, visa, antes de mais nada e principalmente, minorar os efeitos comerciais deletérios dessa nossa simbiótica cultura enquanto Estado. Só para ilustrar, outro dia estava eu na maravilhosa Maringá, por ocasião de uma solenidade oficial, quando anunciaram que iríamos ouvir o hino do Estado do Paraná; fiquei de frente para a nossa Bandeira e, como eu era o primeiro da fila, não percebi, durante toda a execução do hino, o que acontecia à minha volta. É claro que cantei o hino por inteiro. Bem, quando a solenidade terminou, aproximou-se de mim um cidadão maringaense, dizendo-se integrante da imprensa local e, aparentando um misto de perplexidade e/ou admiração, disse-me: ‘…sabe que, durante a execução do hino do Estado do Paraná, o senhor foi o único dentre todos os presentes que cantou?’. Coisas que somente acontecem em nosso Estado e no de Santa Catarina; aliás, aconteciam em Santa Catarina…

Parece evidente – e isso ninguém irá mesmo aceitar – que o Clube Atlético Paranaense não vá mudar o seu nome; isso não vai acontecer. Agora, cair de pau nos caras pela tão só razão de haverem trocado para ‘caparanaense’ o site oficial do Clube não me parece ser atitude minimamente inteligente, principalmente numa fase como esta em que nos encontramos, caminhando a passos largos para a segunda divisão. Temos sim que cobrar dos dirigentes rubro-negros a adoção de uma política que privilegie a qualidade do nosso time de futebol (essa deve ser a nossa principal preocupação nesse contexto). Vejam, meus caros, que esse mesmo ‘marketing’, ao longo de 12 anos, já fez significativas mudanças no nosso Atlético; aliás, de maneira sutil e quase imperceptível. Querem um exemplo dentre tantos outros? O nosso escudo, que já não é de há muito uma simples cópia do que ainda hoje é ostentado pelo Flamengo. Todavia, foi com o novo escudo estampado em nosso manto que conseguimos, dentre outras tantas conquistas, sermos campeões do Brasil.

Sou Atleticano desde que nasci; minha falecida avó – que Deus a tenha em bom lugar -, quando o Atlético jogava, fechava-se em seu quarto de dormir e lá ficava durante todo o tempo da partida, ajoelhada ao pé-da-cama e orando para uma santinha de devoção cujo quadro se encontrava colocado na parede, acima da cabeceira do leito. Permitam-me dizer, por tudo isso, que pode existir alguém tão atleticano como eu, mas, seguramente, ninguém é mais atleticano do que eu sou. Embora respeitando a opinião daqueles que entendem que não podemos nos utilizar do rótulo ‘Paranaense’ em qualquer circunstância, não vejo porque nos preocuparmos tanto com isso.’



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