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2 set 2009 - 18h35

“Petraglismo”: morro e não vejo tudo

“É tanta coisa que eu queria dizer, mas não tem ninguém pra ouvir”, dizia o popularesco e pegador Fábio Jr, numa das mais melancólicas canções da história da música brasileira (“Choro”). Foi a primeira coisa que me veio à mente, depois de conhecer o “nuevo portal filosófico da humanidade”, a convite. Convite por email de um letrado dr., ferrenho neoliberal – perdão: neopartidário, que outrora dizia-se meu ‘inimigo’, para mim não mais nem menos que um qualquer, um ‘indiferente’.

A coisa é de tal porte, que tenho que me desfazer da maior parte do meu potencial contraditório, a meu contragosto claro, para que não haja risco de perder-me no infinito daquela nem tão nova assim ideologia, a qual pede, se democraticamente, réplica a todo e qualquer parágrafo. Não, eu preciso ser sucinto, não posso me deixar levar pela comoção quase evangelista de sua dogmática agora catequética.

Realmente, estamos todos os cidadãos, rubro-negros ou não, diante de uma nova RELIGIÃO, em face dos componentes que se apresentaram a público: doutrina, rito, símbolos, seus fiéis seguidores e como não poderia deixar de ser, um deus. É religião sim, pois todo “re ligare” relaciona alguns homens com outros poderes metafísicos, estabelecendo um elo de dependência, cujo “deus” neste caso extrapola sua própria condição humana e torna-se para aqueles um ser transcendental, em função de sua fé, a qual lhe confunde ora como ‘criador’ ora como ‘a palavra’.

Minha concepção de alteridade permite o seu reconhecimento, ainda mais depois de ter comprovado através do nuevo site a congregação dos elementos que comportam este variante mas verdadeiro SISTEMA teológico, característico de um substancial PARADIGMA ideológico de nossa era, portanto a ser respeitado como tal. Crença é algo que não se discute. Mas discordar não significa rechaçar. De certa forma, estou louvando-os, apontando seu despontamento. Depois digo por que.

No meu entendimento, não existe uma religião perfeita: todas buscam ao seu modo, através de sua liturgia, galgar respostas e soluções para o enigma da existência humana, inventando determinada divindade, a ela estipulando a condição de “o caminho” (neste caso, não “um dos”, mas sim “o caminho”) e segui-la como princípio moral e ético, cujos fundamentos doutrinários seguidos da práxis religiosa, propiciam a ‘salvação’ posterior pela purificação do ser, em obediência aos ditames do além, o cosmo-pai.

Aquém, no microcosmo do meu amor pelo Atlético, duas coisas a salientar após o (re)aparecimento desta nova corrente religiosa. Primeiro, faz confundir o caráter antropomórfico/divinal que lhe atribuíram: necessita de melhores explicações o fato de alguém ser ao mesmo tempo “o criador” e “a criatura”, coisa deveras apocalíptica. Será? Tenho que rever os meus seguros.

Segundo, NÃO ENCONTREI naquele recém parido sítio internético, UMA DEFESA SEQUER da última tese recentemente apresentada pelo messiânico ex-dirigente, no tocante a unificação ou fusão sugerida entre CAP e CFC, na “Arena Atletiba”. Quem denomina-se seu seguidor de fé, DEVE SUSTENTAR então toda e qualquer posição, idéia, plano ou projeto (dogma) por ele criado: necessita-se que as pessoas que lá estão sob as vestes do “petraglismo”, venham na WEB e ARGUMENTEM homogeneamente sobre a proposta em questão, lógico que em seu favor. Estranho este ‘vazio’ até agora. É muito pouco pra quem se intitula
“ativista de la revolution”.

Numa pífia e vulgar analogia, “é muito fácil DIZER que fulano é heterosexual, mas é muito mais difícil ainda ACREDITAR que assim seja quando nunca se viu ou nem se soube sobre ele andando com uma mulher”. O “ser” algo, requer a “prática” deste algo, de nada adianta teorização quando não se exerce o mandamento. Talvez, por ser uma religião nova, seus correligionários ainda não tem completa ciência do seu rito, por isto o silêncio quanto a esta propositura. Não fosse a alusão beatlemaníaca do domínio e a declarada intenção teleologicamente filosófica, daria a eles os meus parabéns, dos quais não precisam, tal a couraça sectária que os reveste. Vieram com tudo. Principalmente em relação à Copa. Copa…?!!!

Recomendo seriamente aos furaconianos.com que visitem o referido site, apreciem sua plasticidade e beleza estrutural/visual, a variedade de manifestações sobre o mesmo tema, sua rica principiologia, e seu bastante forte fundamentalismo. Saibam quem são os homens crentes na tal filosofia de vida, para que não se surpreendam ao encontrá-los na rua. O cabal doutrinário é tão imponente, que deixa perfeitamente claro o seu propósito, até para os medianos entendedores. Mas é de uma estética louvabilíssima. Bonitinho, não necessariamente ordinário. Apareçam, lá.

O apelo aos grandes filósofos e escritores da humanidade, também permite que seus ensinamentos (destes) caibam no sentido oposto, pois a sabedoria eterna não é propriedade privada de qualq’um, está sim à disposição de todo mortal, até dos mais ignorantes, não unicamente a serviço de particulares codinome facção “x”. A grande questão que aflige o homem contemporâneo, é o acesso. A saber:

Fernando PESSOA também disse: “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-ía-mos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito” / “Precisar dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente” / “Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir – é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida” / “Pode ser que nos guie uma ilusão; a consciência, porém, é que nos não guia” / “O povo nunca é humanitário. O que há de mais fundamental na criatura do povo é a atenção estreita aos seus interesses, e a exclusão cuidadosa, praticada sempre que possível, dos interesses alheios” / “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.

Mahatma GANDHI também disse: “Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível” / “Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição” / “Odeio o privilégio e o monopólio. Para mim, tudo o que não pode ser dividido com as multidões é tabu” / “Estou convencido das minhas próprias limitações – e esta convicção é minha força”.

Johann GOETHE também disse: “Uma atividade sem limites acaba em bancarrota” / “Aprender a dominar é fácil, mas a governar é difícil” / “O erro só é bom enquanto somos jovens. À medida que avançamos na idade, não convém que o arrastemos atrás de nós” / “O homem não é feliz enquanto o seu estorço indeterminado não fixar a si mesmo os seus limites” / “Estou de uma vez por todas perdido para estas cerimônias religiosas: todos estes esforços para tornar verdadeira uma mentira parecem-me do mais insípido. Não há nada maior que a verdade e a menor verdade já é grande” / “Os adversários acreditam que nos refutam quando repetem a própria opinião e não consideram a nossa”/ ”O homem que sabe reconhecer os limites da sua própria inteligência está mais perto da perfeição” / “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Saiba eu com que te ocupas e saberei também no que te poderás tornar”.

Friedrich NIETZSCHE também disse: “A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez” / “As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras” / “A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia” / “Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te” / “Não posso acreditar num Deus que quer ser louvado o tempo todo” / “Em tempo de paz o homem belicoso ataca-se a si próprio”.

Hermann HESSE também disse: “Ele respeitava muito o meu saber que aos seus olhos me envolvia como uma veste consagrada, e eu fazia de modo que os numerosos buracos não fossem muito visíveis” / “Se observarmos uma pessoa com suficiente atenção, acabaremos por saber mais a seu respeito do que a própria pessoa” / “Sempre andaram em busca de Deus, mas nunca em busca de si mesmos. E Ele não está em outro lugar. Não há um Deus senão aquele dentro de cada um” / “Nenhum eu, nem mesmo o mais ingênuo, é uma unidade, antes sim um mundo extremamente multifacetado, um pequeno céu estrelado, um caos de formas, estádios e condições, heranças e possibilidades” / “O erro assenta numa simples transferência. De corpo, todo o homem é uno; de alma, nunca” / “A sabedoria não pode ser transmitida. A sabedoria que um sábio tenta transmitir soa mais como loucura”.

George ORWELL também disse: “Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros” / “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir. Podiam desnudar, nos mínimos detalhes, tudo quanto houvesse feito, dito ou pensado; mas o imo do coração, cujo funcionamento é um mistério para o próprio indivíduo, continuava inexpugnável”.

Eles disseram: “Somos petraglistas. Somos protagonistas”.

Eu digo: “Sou ATLETICANO. Coadjuvante ou não. Sou ATLETICANO”.

Mário está fora do seu próprio lugar. Perdeu-se nos meandros vicinais do seu sonho nascente. Tínhamos orgulho de sua pessoa. Havia sentimento de representatividade. Quando estava tudo indo muito bem, transformou-se em outro personagem dentro de sua própria história. Seus interesses desvirtuaram-se do nosso propósito, perdendo ele mesmo o controle do seu próprio destino.

Celso devia ser respeitado, mas para tanto só se e enquanto permanecer distante das coisas do Clube, sem ingerências. Para não manchar sua relevante história. O delírio do não pertencimento, leva a idéia às raias da elucubração. Depois do fim, seu passado é intocável, não adiantando portanto desenhar um futuro monacal. Mesmo porque todo e qualquer futuro que parta de sua imaginação, está fadado a ser engolido pelo próprio passado. Cada tentativa, envergonha o presente.

Petraglia está longe. Distante da margem do seu pretérito. A magnitude de sua obra materializada, alterou sua concepção de mundo, fazendo-o, bem como a seus eternos e devotos admiradores, imaginar que são superiores ao Clube Atlético Paranaense, em função do tamanho paradigmático daquelas fundamentais edificações. Não, amigos. Nada ou ninguém será maior que o CAP. Porque o Furacão é muito anterior à palavra, ao verbo. Confesso que nem todo mundo consegue compreender isto que vai ler agora: simplesmente, o Atlético é IMENSURÁVEL.

Edir Macedo que se cuide. Não bastasse a Globo, agora surge o “petraglismo”, em busca de nuevos adeptos, das mais variadas cores, içando a bandeira da ‘modernidade’ em lugar do pavilhão Atleticano. Semelhantemente, Inácio e Dilma, também fora de hora, ‘vendem’ a imagem do progresso com a anunciação do pré-sal: realidade atual, sucumbida. Vejo-os, assim como o “cristianismo” está para o Cristo. Na visão do próprio Nietzsche, invocado por eles, “…o Evangelho morreu na cruz…o único cristão autêntico foi o próprio Cristo…o cristianismo não vem de Cristo, vem do modo de se fazer instituições religiosas…tudo o mais é montagem, elucubrações que se tornaram escritas para sustentar toda a prática daqueles que se fariam portadores e perpetuadores da “vontade de Cristo”…o Anticristo, nada possui contra Cristo, pois este não é um fanático e sim uma criança em inocência, sem rancor, ao contrário do “cristianismo”, a pátria do ressentimento…”

Isto me faz pensar que MCP está impedido de voltar, mais em razão de seus fanáticos seguidores, do que por sua mutante índole empresarial. Trazê-lo novamente à tona, é a maior ofensa possível ao seu legado. E preocupa-me o dualismo excludente de seus fiéis, a polarização, o rótulo marcado no lombo do admirável boi, sob o estigma de “ser ou não ser petraglista”. Tal qual o é com as mais variadas formas religiosas que pululam a consciência anímica dos habitantes deste limitado e passageiro mundo. Paradoxalmente, ao invés de religar, desagregam, separam, dissociam, desunem. Borboletas-azuis, Jim Jones, Ku Klux Klan, Talibans, etc. Só nos resta respeitá-los, em prol da alteridade, recíproca que se faz verdadeira.

“Quem pariu Mateus, que o embale”. Atenção todos, porque lhes está faltando um templo. Agora já disse por que.

[O religioso é um fanático, que não compreende e não respeita o Processo Religare do próximo. Ele se torna intolerante e não aceita as práticas religiosas de outros indivíduos, considerando o seu caminho único e inquestionável. Acontece, com isto, que alguns sistemas religiosos podem gerar indivíduos de religiosidade, mas como os religiosos se apegam ao poder e as fórmulas, tendem a manipular as mentes atormentadas e sofredoras, obrigando a todo aquele que não esteja em sintonia com seus ideais a se tornarem submissos. Daí as crises e a intolerância religiosa. Os religiosos são de fato os grandes causadores de problema, aliados aos seus sistemas religiosos.] – fonte: Cláudio M. N. Gonçalo Silva & Davi S. Almeida (WEB).

ps 1: nunca é demais ressaltar a equipe da Furacao.com. Lá se vão mais de três anos da publicação da minha primeira coluna (“O espanto”, de 18/07/2006). Vetos, trocas de palavras, réplicas, tréplicas, prós e contras na minha caixa de entrada. Tempo onde dezenas de colunas manifestaram minhas opiniões sobre as coisas do NOSSO Atlético, que não é propriedade de ninguém. Por si só a participação já me regozijava, sem a necessidade do retorno postal, infinitamente longe de qualquer evidenciação ou polêmica barata. Apenas opinião. Argumentada, sempre.

ps 2: inobstante suas origens e suas próprias divergências internas, importante foi acompanhar a mudança na posição da maioria dos colunistas deste sítio, ocorrida a partir da fase Bob ano passado, onde estes desceram do muro da retidão e imparcialidade jornalística para caírem no terreno racional do Clube Atlético Paranaense, literalmente pisando no chão do sentimento rubro-negro e tomando partido do caos situacional da época, insurgindo-se contra a involução e os descaminhos então freqüentes, pura e objetivamente visando o melhor para nosso Clube. Discernimento: reflexão e amadurecimento a ser enaltecido, aclamado. Filtrado. Renovado.

ps 3: às vezes penso em criar meu próprio site. Só que as transcrições literais do meu “pensar” rubro-negro nasceram aqui. É uma questão de origem. Não se deve desrespeitar as origens. Porque se eu mudar na direção de outrem, arrisco infringir minha conduta. Minha breve e abortada incursão no MAMF foi prova disto. Mudar na minha direção, messiânico demais. O Atlético é maior que eu. Maior do que qualquer conduta, ideologia ou superveniência: confesso que nem todo mundo consegue compreender isto que eu escrevi agora.

Arremate: abraço e felicidades, prof. Rafael Lemos. Para que você não me desconsidere. Por ser “ateu”, só posso lê-lo aqui. Aqui na Furacao.com. Aqui onde, sem prejuízo da opinião e direitos dos colunistas oficiais, CREIO eu que seria uma honra para todos receber vez em quando a visita de Mestle Xin. Pois também CREIO que ele é BUDISTA. Budismo, outra religião a ser respeitada, posto que a muitos identificada.



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