23 out 2009 - 10h41

Baier: “Nunca tive tanta identificação com um clube”

Quando Paulo Baier chegou ao Atlético, em junho, as perspectivas não eram as melhores. Faz apenas quatro meses, mas vale a pena relembrar alguns fatos. Depois de se desentender com Nelsinho Baptista, Baier rescindiu seu contrato com o Sport e aceitou um convite de Geninho, com quem havia trabalhado no Goiás, para defender o Furacão. O meia chegou a Curitiba em um domingo e seguiu para a Arena da Baixada para ver o primeiro jogo de seu novo time.

O resultado não poderia ter sido pior: o Atlético foi goleado pelo Atlético Mineiro por 4 a 0 e Geninho pediu demissão logo depois da partida. Além do mau futebol apresentado, a situação na classificação era péssima: o time era o último colocado, empatado com o Coritiba, com apenas um ponto em cinco rodadas. Paulo Baier é sincero ao revelar seu sentimento na hora do jogo: “Olhei para o meu procurador lá nos camarotes e falei que ia ser difícil”.

Mas um verdadeiro guerreiro não foge à luta. Baier é daqueles jogadores que não se contentam em passar por um clube sem deixar a sua marca. Quer ser lembrado como um atleta de destaque. “Não adianta vir só de passagem como muitos jogadores fazem por aí e eu vejo muito”, observa. Na manhã do dia seguinte, reafirmou seu compromisso ao presidente Marcos Malucelli, mesmo após a saída de Geninho, que o havia indicado.

Sem a oportunidade de voltar a trabalhar com seu antigo treinador, o meia precisou de um período de adaptação para ganhar a confiança da torcida. Com Waldemar Lemos, chegou a amargar o banco de reservas em algumas partidas. Mas quando Antonio Lopes assumiu, não deixou mais a camisa 10 e a braçadeira de capitão. Com gols, liderança e muita força de vontade, tornou-se ídolo de uma nação: “Paaaaulo…Paulo, Paulo, Paulo, é Paulo Baier”.

Em semana de Atletiba e às vésperas de completar 35 anos, Paulo Baier visitou a sede da Torcida Os Fanáticos, a convite do presidente Julião Sobota e do vice Juliano Rodrigues, para fazer parte das comemorações de 32 anos da TOF. A entrevista abaixo reproduzida é uma versão da que foi originalmente publicada no site da Fanáticos. Confira abaixo o que pensa e quem é o camisa 10 rubro-negro:

Você está prestes a completar 35 anos, agora, no domingo, dia do clássico. Vem um gol aí pra comemorar?
Não prometo nada, somente muita luta, determinação e vontade de vencer, como a equipe vem fazendo nos últimos jogos.

No primeiro turno, ficamos no 0 a 0 em casa contra o Coritiba. O que a torcida pode esperar do Atlético no domingo?
Vai ser um jogo difícil demais e bastante motivador para as duas equipes. O Atlético quer muito a vitória, até porque em todos os jogos entramos para vencer, ainda mais em um clássico. Estamos bem preparados e trabalhando bastante para buscar a vitória.

Você, como líder do grupo, pode melhor dizer qual é a visão do grupo em relação à torcida. Como os jogadores veem a Torcida Os Fanáticos?
Com muita alegria e empolgação. A torcida faz muito a diferença. Falo por mim: nunca estive tão motivado em um clube como estou agora. Fico muito ansioso para ir pro jogo, nunca tinha passado por isso. É bacana porque em outros clubes isso não aconteceu, então estou bem motivado e feliz no Atlético. Nunca tive tanta identificação com um clube como agora, nem no Goiás, onde joguei por quatro anos. Estou tendo prazer de jogar e estou conseguindo jogar bem.

E nas partidas fora de casa, como você observa o apoio da torcida?
Todos os jogos, onde for, o apoio da torcida é fundamental. Lá na Bahia, no jogo contra o Vitória, tinha uma faixa da Fanáticos. Daí vamos para outro estádio e eles estão lá também, é impressionante. Em todos os nossos jogos sempre tem um pessoal, o que é muito gratificante para nós.

O que você costuma passar aos jogadores para que possam dar alegrias à torcida?
Antes de entrar em campo temos três resultados: a vitória, o empate e a derrota. Mas dentro de campo temos que lutar. Se perdermos, pelo menos vamos estar lutando, correndo, se dedicando e cobrando. Às vezes até exagero nisso, mas é meu jeito de ser e eles já entenderam. Se não der para sairmos com a vitória, pelo menos tem que ter toda aquela luta. Jogador tem que estar a cada dia provando. Se não dá na técnica, tem que ser na raça, dar um carrinho, fazer algo diferente ou ajudar na marcação.

“O Lopes tem o grupo na mão” [foto: Giuliano Gomes]


O Lopes ajeitou bastante o time desde que chegou e está com um aproveitamento muito bom no campeonato. Como é trabalhar com ele?
Está sendo tudo muito bacana, o clima está gostoso, os treinos, as concentrações, enfim, o Lopes está com o grupo na mão. Os trabalhos comandados por ele estão sendo excepcionais e está todo mundo adorando. Além dele ser exigente, o Lopes é um paizão de todos e todos os jogadores gostam dele, até porque ele tem muito respeito por todos os atletas.

O Claiton também esteve aqui [na sede da Fanáticos] esta semana e comentou que vocês se reuniram para discutir o planejamento do Atlético para a temporada 2010 desde já. Qual a sua opinião sobre isso?
A gente realmente comentou sobre isso. Em relação a esse planejamento, primeiro é o resultado da liberdade que a diretoria nos dá, em deixar que eu e o Claiton possamos, por exemplo, dar uma opinião em relação a algum jogador que a gente conhece. Eu, por exemplo, posso ter jogado com um atleta no Goiás ou outro lugar e posso dizer se ele pode ser bom para o grupo. É legal o diretor vir e perguntar o que eu acho de fulano ou ciclano. Ainda sobre o planejamento, pelo que eu vi sobre estrutura, campo, musculação, hotel e estádio, o Atlético não pode estar brigando para não cair. Tem que lutar por títulos, por Libertadores, enfim, com toda a estrutura o time não pode ter esse sofrimento todo ano. É preciso que haja um planejamento, que a gente já tenha um time fechado pro ano que vem.

O “fator Baixada” sempre foi conhecido por toda a imprensa, todos os outros clubes respeitavam o Atlético na Baixada. Os jogadores atleticanos sentem pressão quando jogam diante da torcida ou isso é um mito?
Ajuda, sim. No meu ponto de vista sempre ajuda. Quando eu vinha jogar contra o Atlético aqui na Baixada, eu sempre entrava com um pé atrás e eu acredito que seja assim com os outros jogadores as equipes adversárias. Eles sabem que não vai ser fácil, que aqui é um Caldeirão. Todo jogador de fora sente muito.

Quem dos meninos da base você vê com grande potencial futuro, além dos que já estão firmados no grupo principal? Há alguma promessa?
Com relação aos meninos que subiram todos evoluíram muito, é impressionante. O Manoel, por exemplo, é um grande jogador. Não deixou o Taison andar em campo na partida contra o Internacional, e olha que o garoto é liso. Às vezes tem todo um processo de evolução quando o jogador sai da base e sobe para o profissional, mas com o Manoel foi demais. O Alex Sandro também está jogando pra caramba, o Ronaldo também, atuou firme em dois jogos. Na minha opinião, com o Manoel em campo a equipe tem uma confiança maior pra jogar. O Rhodolfo é um baita de um zagueiro, o Chico é outro jogador muito bacana e muito esforçado. O Valencia dispensa comentários, é o melhor dos volantes. Temos uma grande equipe.

Você chegou aqui em um período conturbado e hoje a equipe está praticamente livre do rebaixamento. Como você analisa a tua participação nessa evolução? Como você lida com o status de ídolo da torcida?
Foi bem estranho, porque naquela partida contra o Galo, quando tomamos 4 a 0, olhei para o meu procurador lá nos camarotes e falei que ia ser difícil. Nisso, o Geninho foi embora, falei: “Fui premiado! Saí do Sport brigado, daí chego aqui, o time toma goleada e o técnico que me contratou foi embora”. No dia seguinte, o presidente me ligou às 8h e perguntou: “Você não foi junto com o Geninho, né”? E eu respondi: “De forma alguma, presidente. Estou firme e forte”! E então começamos a ter mais contato, mais reuniões com o grupo e falamos que precisávamos sair daquela situação. Hoje eu já vejo no semblante dos jogadores um alívio muito grande. Se você acompanhar nossos treinos, vai poder ver muita brincadeira entre os jogadores, ali na rodinha, enfim, todos estão muito unidos. O alívio deu tranquilidade e confiança para todos os jogadores. Sobre mim, eu não chego em um clube simplesmente por chegar. Em todos os clubes por onde passei sempre procuro deixar a minha marcar e a minha imagem. Minha inteção sempre foi essa, não vir por vir, vir para ajudar e deixar a minha marca. Aquela coisa da torcida lembrar “O Paulo jogou aqui e arrebentou”, é nisso que sempre penso. Não adianta vir só de passagem como muitos jogadores fazem por aí e eu vejo muito.

“Está tudo perfeito, não tenho do que me queixar” [foto: JORNAL DO ESTADO/Franklin de Freitas]


E quando a equipe atingir o “número mágico” de 45 pontos para livrar qualquer possibilidade de rebaixamento, não há o risco de o time se acomodar?
De forma alguma. O Lopes jamais vai deixar que isso aconteça, que a equipe se acomode. Quando chegarmos aos 45 pontos, já teremos outro propósito na competição, que é ficarmos entre os 10 primeiros colocados. Nossa primeira meta é sair definitivamente da zona perigosa, mas depois vamos para outra meta.

Falando em meta, qual é a sua particular para 2010? O que a torcida pode esperar do capitão em 2010?
Primeiro é renovar. Já conversei com o presidente, que mostrou o interesse dele e eu mostrei o meu. Então as coisas estão bem encaminhadas. Eu sou uma pessoa que tenho um pouco de dificuldades para me adaptar. Tive dificuldades para me adaptar no Goiás, no Sport, até no Palmeiras, mas aqui está sendo tudo diferente, tudo está muito bem. A adaptação foi rápida, está tudo perfeito, não tenho do que me queixar.

Dos seus sete gols até o momento, qual deles você considera o mais importante?
O que eu fiz contra o São Paulo. Foi o mais legal e prazeroso de ter feito, por toda a jogada, desde a roubada de bola do Jorge Wagner lá atrás, todo o percurso, quando joguei no Pimba e ele foi perfeito no cruzamento. O jogo já estava nos 41 minutos do segundo tempo e o gol deu uma motivação muito grande pra todo mundo. Todos os gols têm uma importância, assim como os gols contra o Corinthians, Fluminense, os dois no jogo contra Barueri e esse agora, contra o Santo André.

Reportagem de Monique Silva, com a colaboração de Walter Rodrigues e Rogério Andrade, originalmente publicada no site da Torcida Os Fanáticos.



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