Sempre a arbitragem
Noutro dia, assisti a uma entrevista com Joseph Blatter, presidente da FIFA, a propósito das duas próximas Copas do Mundo (África e Brasil). O dirigente deu sua opinião quanto ao pretendido auxílio da televisão para esclarecer lances polêmicos e corrigir erros da arbitragem. Na sua visão, o futebol deve continuar ‘humano’, ou seja, ter mantidos os erros de todos, treinadores, jogadores e árbitros. Apesar de ser um discurso intrinsecamente coerente, os fatos mostram uma realidade diferente.
Na maioria das vezes, se não quase todas, os erros de técnicos e jogadores, ou seja, erros do time, resultam em prejuízo para o próprio time. Diferentemente, os erros dos árbitros causam prejuízos para os times e não para quem errou. Portanto, a lógica para os erros da arbitragem não pode ser a simples aceitação de sua humanidade, mas a lógica da justiça, que deve prevalecer num jogo onde a neutralidade, a imparcialidade, devem ser básicas, e onde aquele que não errou não pode ser penalizado.
Podem ser propostas várias soluções para se ter justiça nas partidas, como o recurso eletrônico, a ajuda da televisão, o aumento do número de árbitros, a limitação do número de faltas etc.; sou favorável a todas. Só não sou favorável à atual tolerância aos monstruosos erros da arbitragem.
Aliás, por falar em FIFA, as Copas do Mundo são prodigiosas em erros. O favorecimento à Inglaterra em 1966, a anulação do gol do Zico contra a Suíça em 1978, a sistemática perseguição da Itália para abrir caminho para o Brasil em 2002 após o fiasco de 1998 e por aí afora (os amigos devem se lembrar de outros episódios).
Aliás, bem pouca gente se lembra que o Brasil também foi sistematicamente prejudicado em 1966, nos moldes do que aconteceu com a Itália em 2002, para facilitar o caminho da Inglaterra. Tínhamos um timão nesse ano, com alguns dos nomes que encantariam o mundo em 1970 e outros já consagrados, como Bellini, Brito, Pelé, Gérson, Garrincha, Jairzinho, Tostão e Edu. Porém, fomos escandalosamente garfados contra a Hungria (1 x 3), um dos jogos mais bonitos que tive a oportunidade de ver (claro que em ‘videotape’) e não tivemos força para reagir contra o melhor Portugal de todos os tempos, com o moçambicano Eusébio (1 x 3). Por isso, penso que não é blindagem nenhuma contra críticas a credencial de ser árbitro da FIFA.
A exemplo das instituições públicas, as esferas inferiores do futebol também reproduzem as superiores, de modo que a roubalheira também corre solta em todos os níveis, até no futebol de várzea. É conhecida no folclore futebolístico aquela estória do árbitro que se vende para os dois times em confronto e, para atender a seus patrões, rouba um tempo para uma equipe e o outro para a outra.
Mais um vez, pela milionésima vez, vimos um festival de toscos erros da arbitragem, que foi magistralmente coroado por um ainda mais grotesco, protagonizado pelo gaúcho Simon, anulando um gol palmeirense de Obina contra o carioca, sempre rebaixável, Fluminense. Isso – obviamente por se tratar de um paulista candidato ao título – reacendeu a polêmica das arbitragens em nível nacional, à qual correram os panos quentes de plantão da mídia hegemônica do eixo, ansiosos por apagá-la o quanto antes.
Claro, porque podem os anõezinhos das torcidas que não dão retorno midiático milionário formarem coro com o Palmeiras e aí a credibilidade dos negócios dos patrocinadores pode naufragar juntamente com o maltratado Brasileirão. Por outro lado, todos sabem que os investimentos dos chamados times grandes é de milhões de reais, envolvem, às vezes, grana de investidores ou de grandes empresas e, pela lógica perversa do capitalismo, tão poderosos interesses não podem ser contrariados. Quem sabe não aparece um Tuta e estraga tudo?
O discurso de retirar dos erros da arbitragem qualquer parcialidade é deliberado e sistemático, pois presta-se a deixar tudo como está e todos os grandes ou os que têm costas quentes com o caminho sempre livre para trapacear em detrimento dos que não têm tanto pedigree. É fácil tirar a máscara dessa baboseira toda porque os que ganham com os erros são sempre os mesmos, quando também não são sempre os mesmos os que perdem; só tem eco a gritaria quando um dos que está acostumadinho a se dar bem se ferra. Mas daí já vem o coro da mídia do eixo com seus panos quentes, talvez dizendo para eles nos bastidores que na próxima serão eles os beneficiados, afinal só não pode se dar bem nunca é time pequeno.
Alguém aí acha que foi coincidência o Atlético ser campeão brasileiro justamente no ano da CPI do Futebol, em que era relator o senador Álvaro Dias? Alguém se lembra do outdoor em Guaratuba, agradecendo ao senador pelo título brasileiro do Furacão? Terá sido também coincidência Petraglia ter sido flagrado no grampo, coisa até então inédita no futebol brasileiro, e somente ele realmente punido? Depois disso, o Furacão foi sistematicamente operado sem anestesia por todos os níveis de poder do futebol, brasileiro e argentino (leia-se Conmebol), somente conseguindo ser vice-campeão.
O que me levou a escrever foi a arbitragem desse Sálvio Spínola no jogo contra o Goiás. Todo mundo viu que o cidadão estava lá para fazer o Atlético perder. O coro da torcida após os gols rubro-negros era uma homenagem à sua excelente arbitragem. É o tipo do sujeito que, quando apita jogos do Atlético, faz de tudo para beneficiar o adversário. Isso é uma verdade de todos conhecida, só nos resta saber porque esse sujeito faz isso. A propósito, cada um dos torcedores do Furacão tem uma lista dos juizinhos que fazem de tudo pra prejudicar nosso time.
Alguém pode pensar que sou incrédulo quanto aos resultados do futebol e que, em virtude disso, razão nenhuma teria para ser torcedor. Minha resposta é que, por mais que eles manipulem os resultados, ainda há uma boa margem para os erros deles, há os craques e os juízes que não se vendem, e ainda há os Tutas da vida, que fazem os gols que alguns não querem que sejam feitos.
Essas possibilidades ainda deixam o futebol interessante de se ver.
Para terminar, lembro que é por isso que o Atlético tem a torcida guerreira que tem, pois briga contra tudo e contra todos, luta contra os poderosos, tem raça e não teme a própria morte…
Em tempo: antes de eu postar esse texto, foi o valoroso Sport que pagou o pato…